Pela sétima vez, a Escola Secundária Domingos Sequeira, de Leiria, foi a vencedora do projecto Parlamento Jovens, tendo garantido assim a presença no Euroscola em Estrasburgo, onde os alunos discutiram soluções para o ambiente, a segurança e direitos humanos, o consumo de drogas e álcool nos jovens, o futuro da Europa, a migração e integração e o emprego dos jovens.
Durante um dia, os 24 estudantes de Leiria foram divididos em vários grupos para debaterem medidas com os colegas de mais 18 países. Depois de algumas horas de discussão e troca de ideias, cada grupo, que funcionou como uma espécie de comissão de cada tema, redigiu um relatório que foi levado a votação no parlamento para aprovar ou chumbar as propostas de resolução.
Apesar de nenhum ter sido porta-voz do seu grupo, os estudantes de Leiria estiveram sempre muito activos na discussão dos temas. As suas ideias, interrogações, discordâncias e sugestões foram deixadas aos colegas.
No final do dia, saíram do Parlamento Europeu com a sensação de dever cumprido e a acreditarem que a sua voz pode mesmo ser ouvida na União Europeia e que os jovens têm o dever de participar mais activamente nas decisões do País e da Europa. Os administradores do Parlamento Europeu falaram um pouco sobre a União Europeia e a solidariedade e a união necessárias entre os países.
Lourenço Costa confessa que estes foram valores que sentiu na sua participação. “Foi óptimo ‘obrigarem-nos’ a conviver com outras pessoas. Isso resultou super bem. Ajudámo-nos mutuamente, todos tínhamos um objectivo comum e, mesmo não falando a mesma língua, conseguimos comunicar e atingir aquilo a que nos propusemos”, afirmou o aluno de Leiria.
Para Sara Guerra a experiência foi “muito enriquecedora”. “Sempre me interessei pela área das relações internacionais e pela política, mas não estava à espera de gostar tanto. O funcionamento, a organização do dia, os temas abordados e estar numa sala com cerca de 500 jovens de outros países foi mesmo espectacular.”
A jovem lembrou que nas últimas eleições europeias, o apelo ao voto dos jovens foi insistente e só agora percebeu melhor a razão. “Nunca tinha realmente entendido a relevância que o voto e a nossa opinião têm. Podemos interrogar-nos como é que a nossa voz vai chegar ao parlamento que é em França, mas ter estado aqui e ter percebido como isto funciona deu para entender que realmente a nossa voz importa e que pode aqui chegar”, salientou Sara Guerra.
A estudante, que integrou o grupo que debateu o emprego, destacou uma das ideias principais da sua ‘comissão’: “criar estágios obrigatórios durante o secundário para os alunos, através de parcerias entre as escolas e as empresas”.
[LER_MAIS]“Estes estágios iriam permitir-nos ter alguma experiência do mundo do trabalho, ajudando-nos a decidir se queremos ir para um curso superior ou o que queremos estudar. Seria uma contribuição válida para depois encontrarmos o primeiro emprego. Se esta medida fosse implementada em todos os países ia fazer uma grande diferença.”
Mariana Pinheiro integrou o debate sobre o ambiente, de onde saíram três ideias chave para promover o desenvolvimento e sustentabilidade: consciência, alternativas e energias renováveis. Das medidas apresentadas, a aluna destacou a transferência de energia gerada a partir de fontes renováveis de países onde é produzida em excesso para outros que são carentes deste tipo de produção. A experiência no Parlamento surpreendeu- a “pela positiva”.
“Não imaginei que gostasse assim tanto. Por aquilo que nos foi mostrado, acredito que é possível garantir a solidariedade e a união de todos os países que compõem a União Europeia. Penso que estamos todos consciencializados que isso é muito importante.” Apostar na gestão das emoções em crianças de 6 anos e na prevenção do consumo de álcool e drogas nos adolescentes foi uma das propostas do grupo de Mariana Mota e Sara Maia.
“Concordámos que parte da prevenção deve surgir desde pequenos. Não faria sentido começar com campanhas a proibir de fumar, porque isso estragaria a magia da infância, mas defendemos que se poderia criar um programa, onde as crianças pudessem aprender a gerir as suas emoções. O objectivo é demonstrar que a droga e o álcool não são caminhos para a felicidade ou para aliviar o stress”, adiantou Mariana Mota.
A aluna lembrou que, por vezes, “nos filmes é tudo muito romantizado”, pelo que seria importante um trabalho junto dos jovens do ensino secundário para alertar para as consequências dos consumos. “Foi unânime que usamos o álcool e as drogas como um escape. Nesse sentido, se estivermos estáveis, não iremos por esses caminhos.”
Sara Maia destacou ainda a possibilidade que esta experiência deu aos alunos de “expressar a sua opinião e poder fazer ouvir a sua voz”. “Sinto que pudemos ter influência em algumas decisões, ainda que não sejam postas em prática, porque esta era uma actividade para desenvolvermos o nosso espírito político e crítico e foi bastante enriquecedor.”
António Fiúza, que apresentou a escola e a cidade de Leiria em Estrasburgo juntamente com Alfredo Monteiro, confessa que essa foi uma responsabilidade que lhe pesou um pouco. “Se no início já estava nervoso, quando me preparei para falar à frente de 500 pessoas ainda mais nervoso fiquei, mas sinto que acabei por me sair bem”, refere.
O jovem acrescenta que conhecer o parlamento lhe mostrou que os países da União Europeia não têm grandes diferenças e comungam dos mesmos objectivos. “O que muda é só a língua.”
Se para estes alunos as propostas expressas foram defendidas por todos, outros experimentaram o ‘sabor amargo’ de discordarem com algumas medidas aprovadas ou confrontarem-se com a apresentação de ideias contrárias ao acordado. O grupo onde estava Miguel Lourenço entendeu que quando se fala de segurança há direitos humanos que podem ser ultrapassados. “Discordo dessa conclusão. Para mim, os direitos humanos existem para serem elementares e fundamentais.”
Depois de passar por Estrasburgo, o aluno sente-se “mais integrado na experiência parlamentar” e garante que não irá “fazer parte da abstenção”. Maria Oliveira ficou inconsolável no final da apresentação do porta-voz do grupo da migração e integração.
“Fizemos um relatório brilhante, no entanto, o nosso porta-voz decidiu não ligar a nada do que foi decidido e deu a sua opinião. Fugiu completamente aos pontos e, de repente, em vez de falar de refugiados e migrantes como pessoas que precisam de ajuda, passou a falar de possíveis terroristas. Foi absolutamente chocante. Ainda tentei intervir várias vezes, mas nunca me foi dada a palavra”, lamentou a jovem.
A aluna percebeu que esta situação pode acontecer entre deputados eleitos. “Ainda que vivamos numa democracia existe muita gente que vive numa egocracia”, criticou, considerando, contudo, que o debate foi “absolutamente fantástico”.
“Em conjunto com outras nacionalidades conseguimos chegar a uma solução e foi óptimo ver a coragem que alguns jovens tiveram em expor as suas ideias”, adiantou Maria Oliveira, ao revelar que a principal medida decidida por todos foi ajudar os refugiados ou migrantes ilegais a manterem a sua “cultura, religião e sentimento de nação”.
“Iríamos colaborar para a sua integração, colocando as crianças na escola, dando-lhes formação e ajudando- -os a terem trabalho e a serem auto-sustentáveis. Além dessa medida, como existem fluxos migratórios para países que já não conseguem receber mais migrantes, iríamos apresentar-lhes outros países como opções de refúgio. O objectivo era ter a Europa a funcionar como equipa e os países que não quisessem receber estas pessoas, até poderiam dar uma ajuda monetária aos que os estavam disponíveis a receber.”
Francisca Esperança foi a repórter jovem, uma experiência “interessante” para quem se assume como “uma pessoa tímida”.
“Falei com pessoas que não conhecia de lado nenhum, de nacionalidades e pontos de vista diferentes e foi interessante conhecer as suas mentalidades. Tivemos de fazer entrevistas uns aos outros e percebemos as diferenças que existem”, afirmou, ao reconhecer que a participação no Parlamento Europeu contribuiu para “motivar o envolvimento dos jovens nestes projectos e na política”.
Durante o Euroscola realizou-se o Eurogame, onde a Escola Secundária Domingos Sequeira teve três finalistas: Lourenço Costa, Inês Manaia e Francisca Cartaxo, que venceu o concurso.
Lourenço Costa confessa que não esperava chegar à final. “Foi engraçado, porque tivemos de formar os grupos e estava um bocadinho perdido, porque não conhecíamos as pessoas. Acabei por arranjar um grupo de quatro. As perguntas eram um bocadinho difíceis e estavam escritas em línguas diferentes. Tínhamos de traduzir para os colegas o que estava na nossa língua.”
Os alunos foram acompanhados pelos professores António Martinho, Henrique Gariso e Isabel Figueira e tiveram o apoio do Gabinete de Estudos Europeus do Politécnico deLeiria e da Câmara Municipal de Leiria, instituição que cedeu o transporte.
