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Home Opinião

Amira

Paulo Kellerman, escritor por Paulo Kellerman, escritor
Fevereiro 20, 2020
em Opinião
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Sabes aquela história que me contaste da mãe que perdeu o filho durante uma fuga?

Aquela que passava horas sentada à entrada do campo de refugiados onde procurou exílio a olhar para o horizonte, à espera desse filho perdido? Sonhei com essa mulher.

Amira. Sonhei com um sítio feio e frio, sem cor, que parecia um cenário de filme de fim de mundo. Onde havia um portão imenso mas sem fechadura, talvez por alguém acreditar que ali não haveria nada que merecesse ser guardado e, por isso, dispensasse o uso de uma chave.

Chovia muito e a terra estava transformada em lama. E nessa lama, sob essa chuva, à beira do portão sem chave, estava sentada a Amira.

Olhava em frente, sem se mexer: como uma árvore solitária que se ergue numa planície onde já não há memória do voo de um pássaro ou um farol esquecido no cimo de um penhasco à beira do qual já não passam barcos.

Um mundo que parecia morto: foi isso que sonhei. Imagina que era como num filme.

Via à distância todo aquele mundo sem vida.

Depois a câmara aproximou-se da mulher.

Não conhecia o seu rosto, Amira era apenas uma palavra.

Um nome que vinha do outro lado do mundo mas era feito das mesmas letras que Maria.

Um rosto indefinido, sem identidade; não era pele e sorriso e olhar brilhante mas apenas um molde; como se não fosse uma mulher real mas um símbolo, uma representação de todas as mães que perderam ou irão perder filhos.

Uma palavra que representava uma realidade incomensurável, como uma bola tosca e amarela que uma criança desenha para representar o sol. Mas ali não havia sol nem criança, apenas chuva e ausência.

A câmara continuava a aproximar-se devagarinho na direcção do rosto.

E sabia que, quando estivesse mais perto, iria reconhecer esse rosto. Será que apenas o que está próximo, à distância de um toque, pode ser identificado e, por isso, ter relevância?

Sabia que aquela mulher deixaria de ser uma metáfora. A bola amarela estaria tão próxima que queimaria.

Já tiveste sonhos destes? São demasiados intensos, tão difíceis de suportar que a única solução é acordar.

Queria saber mas também temia saber. Porque depois de saber, seria impossível permanecer igual.

A memória não se apaga, e essa é a sua maldição; a memória não se apaga, e essa é a sua preciosidade.

A câmara não parava; e de repente identifiquei o rosto. Quando isso aconteceu, gritei: reconheci o meu próprio rosto. E acordei subitamente, esmagada por esta ideia: eu também posso ser uma Amira.

Levantei-me e fui ao quarto da pequenina. Fiquei a ouvi-la respirar.

A pensar que a música mais bela que existe no mundo é o murmúrio da respiração daqueles que amamos. Sentir as pequenas modificações, antecipar, acompanhar.

Imaginar uma melodia onde apenas existe ruído. E era esse murmúrio elementar que não se ouvia no meu sonho, e por isso o mundo parecia morto. Sentei-me no chão e fiquei a escutar, de olhos fechados.

A respirar ruidosamente, porque talvez alguém, algures no mundo, precisasse escutar esse sussurro para se sentir vivo. Escritor

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