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Home Sociedade

Ana Lázaro, actriz e escritora: “colocar-nos na posição do outro é tão importante quanto a Matemática”

admin por admin
Maio 2, 2019
em Sociedade
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Ana Lázaro, actriz e escritora: “colocar-nos na posição do outro é tão importante quanto a Matemática”
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Nos textos que escreve para a infância, tem a preocupação de abordar temas que são igualmente para os adultos. São assuntos que também lhe sobressaltam o coração?
Não penso "há que abordar este tema e vou partir para ele". Na verdade, não penso muito que estou a dirigir-me a crianças. No espectáculo Catamarã, que escrevi agora, não avaliei a linguagem que estava a usar, nem simplifiquei o tema.
este caso, é a história de dois miúdos que se encontram num pátio e um deles fazia 12 anos, mas estava chateado com as palavras, tendo decidido que nunca mais as iria usar. Com o evoluir da história, começa-se a perceber que vive sozinho com a mãe, que o pai saiu de casa e que tenta quantificar tudo com números.Tenta perceber como se mede a distância entre pessoas. Não entende por que razão, da casa à escola, demora 15 minutos, mas até casa do pai, que são apenas mais cinco minutos, ele nunca vai. Posso discutir temas complexos, de forma complexa com os miúdos – ou até de forma mais complexa do que com os adultos. O Gianni Rodari, autor da Gramática da Fantasia– que aconselho a todos os professores – explica como as palavras podem ter impacto nas crianças e como elas são ricas na forma como pensam acerca da vida e das palavras. Quando escrevo para crianças, não minimizo os danos. Pelo contrário.

Por que decidiu abordar a infância no seu trabalho?
Formei-me como actriz, trabalhei em musicais, televisão e peças para crianças, porque era onde havia trabalho… No pico da última crise, percebi que tinha de investir e criar o meu próprio trabalho, pois não podia ficar à espera que aparecesse trabalho.Havia concursos de literatura na área da infância e acabei por escrever contos e espectáculos para essa faixa etária, enquanto, paralelamente, escrevia para adultos. Os mais fáceis de publicar foram aqueles que eram para os mais novos e isso aproximou-me muito deles.Os serviços educativos fazem coisas espectaculares no âmbito do teatro… Preocupam-se mesmo em conceber projectos de raiz, em financiá-los ou co-produzir algo que traga uma linguagem nova. Aproveitei, por isso, para criar projectos infantojuvenis.Também estou a trabalhar com adolescentes, na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, num projecto que iniciei há dois anos, com todos os utentes da instituição, cerca de 200 pessoas, desde miúdos de centros de acolhimento, infantários, centros de dia… juntei crianças, seniores e gente de todas as faixas etárias e o meu trabalho é escrever e encenar com eles e com a minha equipa. Em termos de expressão dramática, os jovens e adolescentes são a faixa etária com a qual mais gosto de trabalhar. Há ali um potencial bruto, que já tem maturidade para uma série de coisas, mas que ainda não estão focados na sua vida profissional. Tive acesso a grupos que estão mais à margem, nos bairros difíceis de Lisboa, e trabalho nas dinâmicas e na encenação, com os esses adolescentes.

Diz-se que, hoje, os jovens não se interessam por nada.
Não noto isso. Caímos muito na tentação de sermos os “Velhos do Restelo”. Há dias falava com uma amiga sobre o Facebook e o Instagram, as redes sociais e o abismo que isso nos causa, porque há ali fenómenos assustadores. Se for preciso, as pessoas estão todas sentadas à volta da mesma mesa a falar por telemóvel. A tecnologia avançou muito rápido e sentimo-nos ultrapassados. Dantes os saltos tecnológicos aconteciam a cada 100 anos e agora é de mês a mês. Há coisas novas e os nossos cérebros não estão adequados à mudança! Isto provoca grandes fossos emocionais e humanos. Custa-me, porém, adoptar a atitude de Velho do Restelo e dizer que tudo o que é novo é mau. Os jovens são muito interessados. Noto isso nos miúdos com quem trabalho, que são um público muito heterogéneo e estão prontos para agir, desde que sejam estimulados da forma certa, fazendo coisas que lhes interessam, falando de assuntos que lhes puxem pela cabeça. São os adultos que colocam em causa os formatos. Há dias, uma amiga quis fazer uma doação de livros para um projecto de jovens e, à frente dos miúdos, a monitora disse que "eles não querem saber de livros, quando precisamos usamos a internet". Partem do princípio que o consumo de livros é apenas para consultar conhecimento enciclopédico, nem pensam no prazer de ler ficção. Quando leio um livro, ouço cá dentro a voz do autor… estou a falar com aquela pessoa.

Perfil
Autora premiada

Ana Lázaro nasceu em 1982 e é licenciada em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e formada pela ACT – Escola de Actores de Teatro e Cinema.
Trabalha como actriz em teatro e televisão e é dramaturga, encenadora e criadora de diversos projecto. Fez parte do elenco de séries de ficção nacional e programas televisivos. Fundou o núcleo 'DOBRAR', cujo espectáculo de estreia, da sua autoria, Por um Dia Claro, lhe valeu a Bolsa de Apoio Novos Encenadoresda Gulbenkian. Foi distinguida com o Prémio Literário Internacional Sea of Words, da Anna Lindh Foundation/IEMED, Barcelona, em 2013. Em 2014, venceu o Prémio FNAC Novos Talentos da Literatura. Em 2017, alcançou o Prémio Literário Maria Rosa Colaço- Literatura Infantil.

A greve dos estudantes pelo ambiente, que teve a sua génese em Greta Thunberg, que tem 16 anos, também colocou em evidência algo que, normalmente, não se vê entre os jovens: o abraçar de uma causa, de pedir uma voz e iniciar uma acção. 

Pode-se ver aí como as redes sociais podem ter um papel importante em temas tão graves. Parece-me que o modo como nos colocamos em relação aos adolescentes é desadequado, e por não percebermos que podemos aprender com eles, pensamos que são desatentos e desinteressados. Especialmente, quando lhes damos dez "secas" seguidas sobre o mesmo assunto.Temos de os fazer sentir estimulados. Temos de lhe dar coisas “fora da caixa”, mas também temos de estar dispostos a perceber se a mensagem está a passar e a mudar o caminho se não estiver. César Bona, o autor de A Nova Educação e vencedor do Global Teacher Prize, considerado o Prémio Nobel dos professores, diz que está disposto a aprender com os alunos e que, sempre que vai para as aulas, aprende com as crianças. É essa a postura a ter! Claro que temos de impor regras e tem de haver respeito.

Mesmo que se ensinem adequadamente os mais puros valores de cidadania e de convívio social, é inevitável o confronto com algumas das ideias defendidas em casa pelos pais. Já teve casos de crianças que discordaram do seu trabalho?
Não tive. Acredito que, quando tocamos a via mais artística e ensinamos aptidões de comunicação e empatia, não dá para esses ensinamentos serem desconstruídos. Não há como alguém chegar a casa e o pai dizer que "essa coisa da empatia não funciona". O que é  [LER_MAIS] trabalhado são as relações interpessoais. Ensinar a colocar-nos na posição do outro é tão importante quanto a Matemática. É também uma das raízes do teatro. Mas também noto que, quando se afastam durante algum tempo e depois regressam, eles deixam de fundamentar as suas opiniões. Já não sabem expor as suas razões e dizem apenas que "não gostam" disto ou daquilo.

Sendo uma pessoa que está constantemente em contacto com outras culturas, dentro e fora de Portugal, de onde lhe parece que vem o actual pessimismo e descontentamento, que parecem ser transversais às sociedades?
Vivemos na melhor época em que poderíamos viver. Deixámos de corresponder a uma certa identidade medieval, onde achávamos que tudo acontecia por um desígnio divino.O grande conceito, aquilo que nos molda, é a nossa família, ou melhor; os nossos afectos. No dia-a-dia, corremos atrás daquilo que podemos fazer pelos filhos ou pelas pessoas de quem gostamos.O que nos faz ficar angustiado é não ter tempo para estar com quem queremos estar. As grandes bandeiras, como a liberdade, a solidariedade ou a democracia estão dadas como adquiridas. Sou de uma geração que já nasceu livre, num tempo de democracia e liberdade e hoje há mais espaço para veicular todos os descontentamentos. Há as redes sociais que tornam públicas todas as conversas de café.Umberto Eco é que dizia que o Facebook tinha vindo “dar voz aos idiotas”. O pensamento pode ser mais enviesado porque só se acede a um determinado tipo de informação, que canaliza os pensamentos para discursos muito faccionários e extremistas… e, quando se tem muito apoio para a nossa leitura do mundo, nunca se faz o contraponto e facilmente se extrema posições. Temos de, rapidamente, pensar, enquanto pais e cidadãos, como é que poderemos ter uma visão crítica e aprender a pensar sobre aquilo que nos mostram. Não falo do básico, que é saber distinguir uma notícia verdadeira de uma falsa, que a maior parte das pessoas não sabe fazer.Temos de aprender a ter um sentido crítico sobre as coisas que nos chegam. Os jovens, que têm acesso a tudo de forma desregrada, têm de perceber quais são as fontes fidedignas. Temos de perceber que vivemos num tempo muito bom. À partida, o sistema de saúde está garantido, mesmo tendo falhas, há um sistema de suporte social… sobrevivemos a uma crise e estamos a crescer. É normal que haja ambições, mas não podemos deixar que só a ambição nos consuma.

Na sociedade consumista actual, isso é ir contra a corrente. Temos de pôr em causa o que é essa coisa da “produtividade absoluta”.
Escolhi ser freelancer, ser dona dos meus horários e isso é qualidade de vida, ainda que acarrete uma instabilidade enorme por não ter um contrato de trabalho e um rendimento fixo. Não obstante, vivo muito bem com esses imprevistos. Mas uma pessoa que tenha filhos e que tenha de os pôr no infantário, tem de pagar a pessoas para estarem com as pessoas de quem gosta, durante o tempo em que está a trabalhar com outras pessoas de quem, provavelmente, não gosta muito, para ganhar dinheiro, para sustentar quem está com os filhos.

O que lhe parece a ideia de Leiria se candidatar a Capital Europeia da Cultura?
Era importante na cidade, enquanto comunidade, valorizar-se realmente aquilo que é cultura. Às vezes, há a tendência para se pensar que valorizar a cultura é organizar, pontualmente, uns quantos espectáculos. Mas, valorizar a cultura pode ser tão simples quanto tentar perceber o que faz parte da raiz de um sítio. A cultura pode ser a tradição oral de um território, pode ser o contágio que essa tradição tem na vida dos jovens e na criação de novas linguagens. Pode até ser as linguagens das bandas de garagem ou indie que existem no espaço… cultura é tudo isso. Estou afastada de Leiria, mas sinto que aqui, como noutras terras, ainda não se percebe o que é cultura.

A cultura e o património devem ser encarados como factor de desenvolvimento?
Em Espanha, Itália e França, há muito que se percebeu isto. É mais do que isso. Se houvesse um algoritmo para aperceber o desenvolvimento, a cultura teria, forçosamente de fazer parte dele. Continuar a cair no erro de pensar que a cultura é uma coisa à parte ou apenas lúdica, que é uma espécie de movimento paralelo que apenas acontece. Até poderia dar o exemplo de Londres, Paris, Madrid… e Berlim, que agora está na moda…. mas, quando se valoriza a cultura, no sentido de vivência social de uma cidade, não é possível contornar a memória, a história, o pensamento ou a criatividade. Leiria contornou estas características durante muitos anos. Havia e há um núcleo na cidade onde fervilhavam vontades e criatividade, mas, depois, elas escapam para onde há apoios. Trabalho nas artes e não tenciono voltar tão cedo por sentir que muito mais facilmente encontro incubadoras para o que estou a fazer fora de Leiria. Louvo aqueles que tentam regressar, que não desistem da terra onde cresceram e onde encontram a sua cultura. Isto tem de ser falado entre os cidadãos. Não podem ser apenas os jornais a levantar a discussão destas questões. A capital da cultura pode ser uma óptima oportunidade para, pelo menos, discutirmos o papel da cultura no desenvolvimento. Não é uma coisa à parte. Não é apenas ir ver um espectáculo ao serão. Cultura é uma forma de viver a cidade.

Etiquetas: Ana Lázaroatrizbolsa de apoio novos encenadores da gulbenkiandobrarentrevistaescritorajornal de leiriaLeiriapremio fnac novos talentos da literaturapremio literario internacional sea of wordspremio literario maria rosa colaco- literatura infantilsociedade
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