Na pequena vila de Ansião, há um conjunto de novos negócios, assentes sobre princípios de sustentabilidade, que estão a transformar o tecido empresarial do meio, que até há relativamente pouco tempo se regia por padrões mais convencionais. Nalguns casos, as ideias estão a ser implementadas por estrangeiros e emigrantes, que trazem para a localidade tendências internacionais.
Tamsin Gifford Ceramics é o nome do atelier da britânica que reside em Ansião desde 2015 e que começou a produzir à mão peças de cerâmica utilitária, desde pratos, bules ou jarros. Cada peça é uma expressão artística de Tamsin, que se formou na Inglaterra, e que agora, a partir de Ansião, vende artigos de técnicas milenares em lojas da vila e também através de comércio online.
A preocupação com a sustentabilidade ambiental é um traço desta actividade, onde só se utilizam recursos naturais e onde todo o desperdício é integrado numa nova peça, realça a artista.
Inaugurado no mês passado, na Praça do Município, o Atelier do Refaz, de Cristina Martins, é outro exemplo de negócio de pendor sustentável. Formada no ensino de Inglês e nas Ciências da Computação, Cristina tem paixão pelos tecidos. “A loja que agora abro pretende ser o reflexo daquela que era a minha casa em Inglaterra”, explica a empreendedora.
Neste espaço, disponibiliza as malas que tem criado a partir de panos antigos, que coleciona ao longo de décadas. E Cristina espera que seja também uma casa onde diferentes gerações possam aprender a reutilizar materiais para fazer novos artigos com as suas próprias mãos. O atelier é ainda uma montra [LER_MAIS]para outros artistas, como é o caso da própria ceramista Tamsin Gifford.
A loja ½ Alqueire abriu em Ansião em Fevereiro de 2020. Inicialmente pretendia vender frutos secos, leguminosas e ervas aromáticas a granel e dedicar-se também aos workshops. Mas a pandemia trocou as voltas a Filipa Graça, que, impedida de dinamizar eventos, está a utilizar esta área do estabelecimento para vender também frutas e legumes.
Não sendo biológicos, são produzidos o mais localmente possível, para evitar ao máximo as deslocações e a pegada humana subjacente a esse transporte, salienta a proprietária. A pandemia, que durante muito tempo impediu a saída da população da vila, foi vantajosa para este negócio, que, entretanto, já fidelizou clientes.
“Aceitamos frascos ou caixas plásticas para levar os artigos a granel e o objectivo é reutilizar recipientes”, acrescenta Filipa, adiantando que, em breve, irão ter início workshops sobre plantas e propriedades medicinais.
Cristina Gerlach é venezuelana e reside em Maçãs de Dona Maria, em Alvaiázere. E foi também na loja de Filipa Graça, em Ansião, que começou a vender os seus artigos, que, entretanto já comercializa online sob a marca A abelha verde.
Foi durante o confinamento que iniciou o seu negócio, dedicando-se à produção de um artigo que já tinha visto na Austrália. Reutiliza tecidos antigos, que embebe numa mistura de cera de abelha, resina de pinheiro e óleo de jojoba. O resultado são películas que substituem os plásticos aderentes e que podem ser usados para envolver, transportar e conservar no frigorífico alimentos como pão, fruta, vegetais ou outros, explica Cristina.
Aos poucos, nota, vão surgindo mais clientes preocupados com a sustentabilidade ambiental.
“Transportam consigo diferentes ideias e opiniões e nascem negócios desta troca rica de experiências”, reconhece o dirigente.
“São negócios que trazem sustentabilidade ao território e retorno interessante para as famílias. Fico muito satisfeito por assistir a estas actividades, tanto mais que revelam consciência ambiental. E é engraçado como, num território de baixa densidade populacional e até com uma comunidade algo envelhecida, estão a ser bem recebidos estes negócios ‘fora da caixa’”, considera Hugo Bairrada.