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Se nos anos 2000 a OMS declarava a depressão como a doença com maior prevalência a nível mundial, atualmente e no pós-pandemia quase podemos declarar a ansiedade como “A” doença do momento. E não escolhe idades nem género. Desde crianças pequenas a idosos, todos parecem sofrer de formas mais ou menos ligeiras a patológicas de ansiedade. Mais do que uma moda ou do que um sobre-diagnóstico, estamos a falar de algo com o qual já vimos “equipados de fábrica” – o nosso instinto de sobrevivência. Esse instinto de sobrevivência permite-nos responder ao perigo iminente com as respostas de luta ou fuga.
Ao ler o livro do psiquiatra Gustavo Jesus “300 mil anos de ansiedade” onde tão bem nos explica evolutivamente a ansiedade e a necessidade biológica deste mecanismo, podemos também entender como neste momento o nosso sistema de alerta de sobrevivência está desregulado. Como este autor tão bem coloca nos exemplos que apresenta, o nosso cérebro reage a um potencial ataque de um leão da mesma forma que reage à entrega do IRS. De forma exacerbada.
Porque acontece isto? Na verdade porque apesar de já não corrermos o risco de ser refeição de um leão, estamos constantemente sob ameaça. E o medo é algo de muito primitivo e poderoso dentro de nós. Tem lido as notícias recentemente? O que está a acontecer no mundo e no nosso País? O agravamento dos preços e o estado da economia? Com a crise habitacional que vivemos, algumas das necessidades básicas da pirâmide de Maslow estão em risco (abrigo, comida). Já está assustado? Já sente no seu corpo os efeitos? Ainda lhe parece que a ansiedade é mito?
Como resolver? Não é possível fazer a ansiedade desaparecer. Apenas ajudar as pessoas a regular a sua ansiedade até níveis adequados à ameaça vivida. Pois como todos sabemos stress intenso durante tempo suficiente, é potenciador de doença física e/ou mental. Existem inúmeras estratégias, técnicas e tratamentos disponíveis neste momento para educar e ajudar as pessoas a ajustarem-se às exigências da chamada “vida moderna”, que são na verdade muito anti-natura como tão bem salienta o doutor Gustavo Jesus.
Fica a chamada de atenção: ter algum nível de ansiedade é normal. Não conseguir funcionar por causa dela, não!
