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Home Opinião

Antero apressado

João Lázaro, psicólogo clínico e director do TE-ATO por João Lázaro, psicólogo clínico e director do TE-ATO
Março 23, 2023
em Opinião
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O Antero nasceu por duas vezes antes do tempo e por vontade própria. Conforme a sua versão o pai teria oferecido à mãe cerejas à vez primeira que com ela dançou na festa da aldeia.

Fazendo fé do que sabia – não porque lho tivessem contado, mas porque assim lhe corria a fábula mais a jeito – o pai terá colocado uns brincos destas nas orelhas da cachopa e ela logo se afogueou pelo atrevimento do moço.

Sabido que é serem as conversas como as cerejas e sendo o dito pai de eloquência afamada, logo lhe comparou o rubor das faces ao carnudo vermelho dos frutos e o quanto lhe enchia a boca de água só de se imaginar a trinca-las.

Feita a ponte entre o galanteio e a vontade de provar, despertou-se a vontade dos corpos e o Antero foi abençoadamente concebido naquela noite quente numa véspera de S. João, que enquanto uns saltavam a fogueira, aqueles dois saltaram preceitos e tempos de espera para saciar o apetite natural de ambos que lhes vinha desde o tempo da mestra e da catequese.

Quando a mãe descobriu que o suco das cerejas tinha deixado de lhe escorrer naturalmente, informaram as famílias e afixaram-se os banhos à porta da igreja.

Inconformado, o Antero, por se saber nascido dum incidente feito de apetites e não por ter sido desejado, afirmava convicto que antes de nascer já tinha nascido pois que os olhos que tinha eram de todo cópia fiel dos olhos do carneiro que a imagem do Santo segurava entre os braços, e que num momento em que a mãe rezava para que o padroeiro lhe desse a graça de um amor, ele a tinha olhado, com os seus olhos de carneiro, no fundo dos olhos e a teria convencido numa ladainha sussurrada que a melhor forma de o amor garantir é  garantindo que o olhado amado vê mais que o costumado, e por via de assim ter escutado, ela se aventurou em permitir a visão da sua intimidade e resto já se fez o rol anteriormente.

A segunda vez em que o Antero precipitou o seu nascimento, desta feita da barriga para fora que o anterior foi nascido da não-vontade dos pais, ocorreu por uma noite geada como só o são as noites de fevereiro.

Dizia o Antero que se fosse para vivermos mergulhados teríamos nascido peixes, e enjoado que estava daquele mar morno e solitário que era o ventre da mãe, e porque também sabia e tinha saudades de como era o mundo cá fora, que bem o havido visto quando se acoitou sob o manto de gesso do carneiro que o S. João segurava ao colo, deu-lhe ganas de nascer num repente e sem aviso de receção.

Estava a mãe a lavar a louça na pia da cozinha, pois as máquinas e os maridos que partilham tarefas só se inventariam muito tempo depois, quando escoicinhou o ventre onde fora concebido sem pecado, que o desejo é natural do ser humano e do natural nunca se ouviu dizer haver culpa formada, e tão convicto chuto deu que a mãe logo gritou para dentro: chega-me uma ajuda que se rebentaram as águas e o pai, desconhecedor da hidráulica feminina respondeu sem tirar os olhos do televisor a preto-e-branco tal como a vida de então, que não podia ser pois ainda na véspera tinha estado a desentupir o ralo. 

Desta e doutras pressas de Antero se dirá em outro tempo que por ora se pensa daí vir o seu modo impaciente e fogoso de estar na vida e nas coisas de que ela é feita, pois que não acata nunca a ordem de espera e se pensa capaz de acelerar o tempo por cada vez que adianta os ponteiros do relógio.

Etiquetas: aldeiaanteroconcebidocontoescritafamíliasfestaficçãoJoão Lázaronascimentoopiniãosantoventre
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