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Home Opinião

Antero, o beato 

João Lázaro, psicólogo clínico e director do TE-ATO por João Lázaro, psicólogo clínico e director do TE-ATO
Maio 11, 2023
em Opinião
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A ideia que as ideias têm guardas dentro de si, jamais foi matéria que Antero dominasse. Atente-se que esta di culdade não lhe causava estranheza ou tão-pouco tinha consciência dela, porque se entendesse o quanto havia para entender já estaria a pensar para além do imediato e da leitura sumária que fazia de cada coisa.

Assim, por cada coisa pensada, a pensava como original e sentia ufano orgulho de a ter pensado. Por via deste modo singelo de elaborar as ideias sentia-se único, iluminado, transcendente e votado a gestos épicos.

Na intimidade do duche, enquanto uns e umas cantam – e por estarem com os ouvidos de sabão se escutam pavarottianos eles, ou amalianas, elas – Antero ensaiava discursos inflamados e via-se todo ele eloquente e poderoso com uma multidão ululante a ovacioná-lo, comovida e crente por verem nele o novo Messias que conduziria todos aqueles fiéis por entre um mar que se faria terra enxuta apenas pela sua vontade.

Antero sabia que os rebanhos de gado e de gentes carecem de um pastor que as conduza por entre as veredas da vida. Por ser meão de ossatura, carnes e nervos, cedo descobriu que lhe faltavam condições para se impor pela força, coisa provada aquando das bulhas entre garotos das quais sempre tinha saído cabisbaixo e humilhado na honra, que entre a coluna do deve e do haver o resultado fora sempre em seu prejuízo e anotado em cor de sangue pisado.

Seria, pois, pela inteligência que se sentiria vingado e haveria de apascentar toda essa mole anónima e ignorante que um dia o iria idolatrar.

Sabia, de ter visto um dia, que a mesma carroça puxada por um muar tanto transportava uma escrivaninha antiga como um carrego de lenha, sendo que a primeira acomodada entre serapilheiras parecia coisa sem peso, enquanto a altura das braças cortadas lhe pareceu uma pirâmide de Gizé em movimento.

Ora, se a cómoda teria o seu alto valor por ser feita de pau-santo, isso era coisa que não se enxergava a quem lhe desconhecia a raridade e o requinte, já uns gravetos eram coisa de se usar todos os dias para acender o lume que cozinhava as sopas e os condutos e ainda aquecia os corpos.

Pois que fosse, a escolher entre ser cofre que guardava papéis antigos e de valor, mas que ninguém via, ou ser apreciado pelo volume, antes ser esfinge.

Decidiu que iria ser grande e visto a partir dali. Um dia, para evitar os brutos e não denunciar a sua falta de virilidade num jogo que o acobardava e para o qual os outros gaiatos o desafiavam, refugiou-se na igreja sob o pretexto de, a mando da mãe, ir encomendar uma missa por alma de um tio falecido e esquecido há muito.

Soube-lhe bem a segurança conferida pelo sagrado do lugar, protegido que estava por todas aquelas imagens de santos, com o ganho suplementar que os crescidos vendo o miúdo por ali numa atitude tão humilde, o protegeriam como se protegem os confrades e, por via disso, passaria a ser considerado pessoa de bem.

Antero havia descoberto o refrigério para a fragilidade e acantonamento para a sua cruzada contra os ímpios. 

Etiquetas: contocrentescriativacruzadaescritafiéisgentesimagensJoão LázaroLeiriaopiniãopastorregiãosantosTeAtoteatroveredasvida
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