A paixão que há três anos as juntou no mesmo clube, em Alcobaça, foi a mesma que no último sábado as colocou frente-a-frente, na partida entre a Juventude Desportiva do Lis e o Cister Sport Alcobaça Andebol, para a Taça de Honra da Associação de Andebol de Leiria.
As emoções estavam ao rubro e o nervosismo era evidente. A mais ansiosa era mesmo a filha, Carolina Paulo, que nunca escondeu o seu lado “protector” em relação à mãe. “Passei o dia todo nervosa. Depois passou um bocadinho, e em campo foi mais fácil gerir os nervos. Mas só no final da segunda parte”, contou- nos entre risos, no final da partida, a jovem de 20 anos, que esta época se transferiu do Cister Sport Alcobaça para a Juve Lis.
A mãe, Cláudia Lucas, mais conhecida no mundo do andebol como ‘Cagi’, admitiu igualmente que, no dia da partida, estava “um bocado mais nervosa”. “No início do jogo, como não entrei a titular, confesso que estava um bocadinho focada no jogo dela. Mas depois, quando entrei, o nervosismo foi passando e comecei a estar mais focada no jogo.”
[LER_MAIS]
No final, a vitória acabou por sorrir à filha Carolina e ao clube de Leiria, que venceu o Cister SA por 38-15, numa partida onde tanto a filha como a mãe fizeram o gosto à mão. “Fiquei triste pelo resultado da minha equipa, e feliz por o jogo dela ter corrido bem”, reconhece Cagi.
Já Carolina, que não só defrontou a mãe, como o clube onde jogou durante mais de 10 anos, afirma que “o coração não aguenta muitas emoções destas”.
Andebol: uma paixão que corre nas veias
Foi há 37 anos que o andebol entrou na vida de Cláudia Lucas. Tinha então 12 anos quando começou a dar os primeiros passos na modalidade, tendo realizado grande parte do seu percurso ao serviço do Cister SA.
A pausa na competição veio a acontecer de forma “muito natural” quando a filha Carolina tinha três anos. Ainda assim, a ligação ao andebol não terminou e ‘Cagi’ começou a dedicar-se ao papel de treinadora. Foi precisamente nessas funções que mãe e filha tiveram o primeiro contacto na modalidade, quando Carolina vestiu pela primeira vez a camisola do Cister SA, aos seis anos.
“A Carolina cresceu neste clube. Ainda muito pequena acompanhava- me ao pavilhão e punha-se a dobrar coletes”, recorda ‘Cagi’.
Ainda que Carolina tenha experimentado também outras modalidades, foi o andebol que sempre a entusiasmou mais. Afinal, foi uma paixão herdada da mãe. “Cresci neste meio e sinto-me muito realizada no andebol”, afirma.
Segundo a jovem alcobacense, um dos pontos mais altos do seu percurso foi quando, há três anos, conseguiu convencer a mãe a regressar à competição e a juntar-se a ela na equipa sénior do Cister Sport Alcobaça.
“O desafio para voltar a jogar partiu de uma amiga que chegou a ser colega de equipa. Andávamos a fazer alguns treinos com as veteranas e ela lançou o ‘isco’. Nessa altura a minha filha subiu às seniores e começou a fazer muita força para eu voltar”, conta ‘Cagi’, reconhecendo que “foi das melhores decisões que podia tomar”.
A filha Carolina não esconde a “enorme felicidade” de ter tido a mãe ao seu lado, e admite que “fortaleceu ainda mais a relação”.
“Sempre fomos muito unidas e cúmplices, mas termos tido a oportunidade de jogarmos durante três anos na mesma equipa, num clube onde ambas crescemos, tornou a relação ainda mais forte”, acrescenta a mãe.
Sobre a mudança da filha para a Juve Lis, ‘Cagi’ refere ter sido um “misto de emoções”. “Estou do lado da Carolina e apoio-a em tudo. Foi difícil porque ela cresceu no Cister SA, mas sinto-me muito orgulhosa por estar a trilhar o seu caminho.”
Já Carolina afirma que representar a Juve Lis foi uma “oportunidade de crescer” e de jogar na 1.ª Divisão. “Queria subir um degrau, mas ao mesmo tempo tinha receio, porque sempre estive no Cister SA. Ainda assim, não quis perder esta oportunidade e decidi aceitar o convite.”
Acerca da adaptação, refere ter sido “muito boa”. “Tive a sorte de não mudar sozinha, pois uma colega de equipa de Alcobaça mudou também, o que ajudou. Além disso, as jogadoras da Juve receberam-nos muito bem.”
Num olhar para o futuro, Carolina confessa que, apesar de “ainda não ter pensado muito nisso”, gostava de “seguir o exemplo” da mãe. “Quero que o andebol continue na minha vida, quer seja em modo competição ou só de lazer.”
Já ‘Cagi’, com 49 anos, admite que o futuro está em aberto. “Sempre disse que jogaria só até aos 50 anos. A verdade é que os 50 são já para o ano, e ainda me sinto muito bem. Portanto, no final desta época, vou ponderar e decidir se paro por aqui ou se continuo até o corpo deixar”, conclui.