Impossível ficar indiferente às Jornadas Mundiais da Juventude que acabaram agora que escrevo estas linhas. Acompanhei, dentro de algum (muito) comodismo da idade, aquilo que foi sendo dito e escrito, sobretudo os discursos do Papa, por Lisboa e Fátima. São-me indiferentes as polémicas de ocasião, mas as palavras não.
Cá pela terra, tive o privilégio de o ouvir no Santuário, a par da massa de gente que acorreu ao recinto, ainda que por apenas 2h. Houve cânticos e silêncios, e uma oração universal que todos entoavam ao ritmo de línguas e nacionalidades diferentes, no compasso marcado por crianças deficientes que ali se encontravam. Deverá ser isto um Pentecostes, que eu recordo ilustrado em catecismos de criança?
Francisco consegue descodificar estes sentimentos e essa linguagem até aos dias de hoje. E consegue-o também noutras áreas, como a ciência e a política. Não é de somenos importância que um Papa com 86 anos, nos recorde a importância da justiça social e da educação. Que reúna com vítimas que a justiça humana nunca validou e que a própria Igreja esqueceu. Que nos fala de pobreza, de ajuda aos outros, de elitismo e vaidade. Que nos arrebate em bairros e periferias pobres (miseráveis mesmo) onde a existência está desumanizada numa suposta sociedade evoluída e tecnológica. Que ninguém fique para trás, sobretudo os da franja das franjas, os menores, dos piores… “Mais vale sujar as mãos que o coração”.
É uma linguagem actual, mas profundamente existencial. Que andamos cá a fazer se não cuidarmos uns dos outros, em especial dos mais pobres? E que cada um se aceite como é, e aceite os outros como também forem. Todos, todos, todos…quem tiver ouvidos que oiça, pensei cá para mim.
Os discursos oficiais foram tocados com os nossos poetas maiores para que a ilustração fosse divina… Camões, Pessoa, Saramago e Sophia, couberam todos nessas palavras, ou não fosse Tolentino também um aliado na poesia…
O Papa partiu, mas o País não lhe ficou indiferente. Fomos a capital do futuro. Onde estará de seguida esta gente capaz de mudar o mundo e com um coração a bater em uníssono? Quero encontrá-los na vida, não precisamos de ser peregrinos apenas quando rumamos a Fátima.
O lema da JMJ remetia para Maria, a mãe que acorre apressadamente à sua prima que precisa. O Papa disse-o: uma Maria apressada, que não fica à espera, mas põe os pés ao caminho e vai.
A ciência e o mundo precisam de pressa. O ambiente, a educação, a justiça, as periferias e, não menos, a própria Igreja. E também de muitas Marias.
Com a idade o meu coração ficou mais cristão que católico, mas Francisco faz-me renascer a esperança num mundo melhor. Temos todos, enquanto sociedade, pressa que assim seja…