“Muito cedo temos ganhar competências e isso a ajuda-nos a ser mais objectivos e mais disciplinados”, diz Yolexis Santana Vila sobre o programa de ensino para que foi seleccionada, em Cuba, que a levou a viver fora de casa logo aos nove anos de idade. Cá, por outro lado, “há muitas opções para as crianças”, ou seja, “falta-lhes foco”. A fundadora da escola de dança Arabesque conclui: “A minha experiência, que foi de muito rigor, que no meu caso me ajudou, sinto que nesta realidade que é Portugal nem sempre é possível, daí eu ter de me adaptar”. No projecto que dirige em Ourém há 14 anos “o ballet tem de ser para todos”, aponta. “Não excluir”. E, mesmo o ensino artístico especializado, “não pode ser só para uma elite”, acredita a professora e antiga bailarina.
Nascida em Cuba há 44 anos, Yolexis Santana Vila profissionalizou-se na companhia da sua cidade de origem, o Ballet de Camagüey, inclusive com algumas actuações no estrangeiro. “Bons anos”, em que chegou a trabalhar com Fernando Alonso, considerado “o pai da dança” e “criador do método do ballet cubano”.
Fixou-se em Portugal depois de uma temporada em Faro, no Conservatório Regional do Algarve Maria Campina. “Estabeleci-me aqui em Ourém porque achei que apesar de ser uma cidade pequenina tinha muita ligação à música”.
Não falta talento. Francisco Ferreira, bailarino da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, está a construir uma carreira, outros frequentam licenciaturas em Espanha e na Dinamarca. Entretanto, David Anagnoste, Luna Ribeiro e João Sousa (e anteriormente Bárbara Camarinha) frequentemente levam a escola aos lugares mais altos do pódio, tanto a nível nacional como internacional.
“Temos vários alunos que têm ganho prémios. Não é a parte em que mais me foco. Para mim, a competição não é o mais importante”, assegura Yolexis Santana Vila, para quem “a diferença da Arabesque” se encontra na visão de que a nenhuma pessoa deve ser negada a oportunidade de aquirir “consciência corporal” através da dança.
O encontro Adagio, que visa promover o contacto com profissionais e estudantes de vários países, com o apoio do Município de Ourém e do Teatro Municipal de Ourém, já com três edições, é uma iniciativa da Arabesque.
Com classes de ballet, dança contemporânea e hip hop, a escola conta actualmente com 150 alunos, dos três anos até ao final do ensino secundário. Segue o método cubano – “de maneira a que é muito mais fácil ensinar” – e emprega três professores que vieram de Cuba.
Só no ensino artístico tem 35 alunos, o que representa um crescimento em relação ao ano lectivo anterior. “Geralmente, a dança tem uma carga horária muito grande e só vai para o articulado realmente quem gosta”. Elas estão em maioria, mas o grupo inclui três bailarinos. A oferta existe na Arabesque pelo sexto ano consecutivo.