“O sucesso vem com trabalho e nada se consegue sem esse trabalho. Em tudo na vida, se alguém quer ser bem-sucedido, tem de investir”. É por estas palavras que Daniel Martins, de 43 anos, define o lema que o tem guiado, tanto na sua carreira profissional como desportiva, que leva ao lado do irmão, Roberto Martins, com 42 anos.
É um mote encarado pelos dois com seriedade, quando está em jogo o equilíbrio entre a vida profissional, pessoal e desportiva.
Estes irmãos pombalenses fazem parte, com orgulho, da lista de árbitros europeus da Federação Europeia de Andebol, um marco que reflete um crescimento paulatino, dentro da modalidade, que começou em tenra idade.
Com sete e oito anos, respectivamente, Roberto e Daniel começaram os treinos de andebol no Núcleo de Desporto Amador de Pombal (NDAP). Porquê andebol e não outra modalidade? “Por ser um desporto onde não se apanhava chuva”, confessa o irmão mais velho, enquanto Roberto lembra que os amigos da escola andavam também no clube.
A ligação ao andebol solidificou-se ao longo dos anos. Ainda passaram pelo futebol e karaté, mas este desporto frenético que implica contra-ataques rápidos já não saiu da vida destes atletas.
Acabaram por inscrever-se “por brincadeira” com dois amigos, no curso de arbitragem da Associação de Andebol de Leiria. Desde este momento, já passaram cerca de 23 anos, num percurso que sempre fizeram em dupla.
“Queremos ser os dois os melhores, somos muito dedicados e focados nos objectivos que nos propomos. Temos os pés bem assentes na terra e elevamos os nossos objectivos sempre ao máximo. Nem eu tenho de me preocupar com ele, nem ele tem de se preocupar comigo”, descreve Roberto Martins, detalhando a cumplicidade que os une dentro das quatro linhas.
O currículo destes irmãos é invejável. Já são árbitros internacionais há 14 anos e contabilizam mais de 130 jogos a nível europeu e cinco Europeus de formação, com a estreia, este ano, no Europeu sénior de selecções. Além da presença assídua na Liga dos Campeões, já estiveram também na final four da Liga Europa. Em Portugal, alinham nos campeonatos seniores masculinos.
No entanto, estes irmãos não são árbitros a tempo inteiro. Daniel Martins dedica-se à psicologia, enquanto Roberto é coordenador de uma academia de formação da ETAP (Escola Tecnológica. Artística e Profissional de Pombal).
Contando ainda com a fatia de tempo sempre dedicada à família, as 24 horas do dia são divididas ao minuto, já que a arbitragem obriga a uma preparação física exigente, sem esquecer as horas de análises de jogos.
Esta parte cada um faz por si. Os treinos são individuais e é nas viagens para jogos fora do País que os irmãos encontram tempo para analisar partidas em conjunto. Portanto, não há “jantaradas com amigos”, saídas à noite, e algumas festas de família ficam para a próxima. “Temos esses ‘sacrifícios’ todos em prol da arbitragem”, refere Roberto.
Prestes a dar o apito inicial para o jogo que opôs o AC Sismaria com o GC Tarouca, na 2.ª divisão de andebol masculino, os irmãos compararam jogos nacionais com os encontros europeus. “É completamente diferente”, assinala Daniel, com o irmão a acrescentar: “Temos de estar mais concentrados nestes porque há mais falhas técnicas. Nos jogos de topo, os próprios jogadores já sabem. Cometem as faltas e quase nem é preciso apitar porque eles próprios reconhecem.”
Apesar das diferenças, a dedicação da terceira equipa é “exactamente a mesma”.
Durante um jogo, os irmãos de Pombal não são alheios ao que se passa nas bancadas e é com desilusão que observam, principalmente nas camadas jovens, adeptos que “estragam o desporto”. “Quando digo adeptos, falo de pais, irmãos, primos e amigos”, refere Roberto Martins, que tem uma opinião vincada sobre episódios de insultos criados nas bancadas.
“Os filhos e amigos, para poderem jogar andebol, futebol, ou seja qual for o desporto, precisam de ter lá pessoas para arbitrar. Se não houver árbitros, eles não podem jogar, ponto. Se não estimarem a terceira equipa em campo, um dia não vai haver esta terceira equipa e deixa de haver a primeira e a segunda”, alerta.
Fim está definido
À semelhança dos jogadores, também os árbitros chegam ao fim da sua carreira, um momento já pensado por Daniel e Roberto ao detalhe. Os irmãos já definiram o ano em que vão colocar um ponto final na arbitragem, mas nem por isso esse será o fim da ligação ao andebol. “Está tudo definido. É melhor não dizer o ano [entre risos], mas não é para breve. Temos planeado o que vamos fazer na parte final da carreira como árbitros para o início de uma nova carreira também ligada à modalidade”, afirma Roberto. “Nem a família sabe”, complementa o irmão. “Começámos juntos, terminamos juntos”.