O “sonho”, como Armando Lopes – empresário de Ourém radicado em França há 57 anos -, se referiu ao projecto de recuperação do edifício da antiga Companhia Leiriense de Moagem, está cumprido.
A obra, que permitiu a requalificação de um imóvel com quase 800 anos de história, foi inaugurada este sábado, no mesmo dia em que a Câmara de Leiria atribuiu o nome do comendador ao largo em frente à antiga moagem, numa cerimónia que contou com a presença do Presidente da República.
Foi, explicou Marcelo Rebelo de Sousa, uma forma de homenagear Armando Lopes, pelo seu “exemplo” e pela sua “obra”, mas também a diáspora portuguesa que “constrói portuguais fora do nosso território físico”.
Esta foi, aliás, a segunda vez que o Presidente da República descerrou uma placa toponímica com o nome do comendador. A primeira teve lugar em 2016, na cidade de Cretéil, em França, país onde o empresário chegou em 1961, com 17 anos, sem um tostão no bolso e “sem falar uma palavra em francês”, e no qual acabaria por construir um império na área da construção civil.
Um largo com uma história de amor
Hoje, Armando Lopes detém várias sociedades em França e em Portugal, que dão emprego a cerca de 500 pessoas, directa e indirectamente, e é também dono da Rádio Alfa, que emite a partir de Paris.
Em Leiria, foi responsável pela construção do Edifício 2000, investiu nos Terraços do Marachão e promoveu a construção do Monumento ao Emigrante, junto ao Maringá, tudo em redor do largo que agora tem o seu nome. Ou não fosse este um local “altamente simbólico” para Armando Lopes, que aí conheceu e se apaixonou pela esposa.
Isso mesmo foi revelado pelo próprio e sublinhado pelo “amigo” Marcelo de Rebelo de Sousa, que reconheceu não ser habitual um presidente da República inaugurar um largo, “muito menos dois”, em homenagem a uma personalidade viva.
“Fi-lo porque este homem merece esta homenagem”, alegou o chefe de Estado, que apontou Armando Lopes e a família como “exemplo de gente trabalhadora, de gente que produz riqueza, de gente que faz um esforço para distribuir essa riqueza, dedicada à comunidade e que não esquece as suas raízes”.
Além da “obra empresarial, que prestigia Portugal”, Marcelo Rebelo de Sousa destacou também o papel de Armando Lopes a “fazer pontes” entre a comunidade portuguesa emigrada em França através da Rádio Alfa e das iniciativas que promove.
“Não podia faltar por gratidão a este homem, a esta família e a esta obra”, afirmou, frisando, contudo, que a sua presença pretende também ser uma homenagem aos “milhares de portugueses espalhados pelo mundo” que “estão a construir 'portugais' fora do nosso território físico”.
[LER_MAIS] Por seu lado, o presidente da Câmara de Leiria justificou a distinção de Armando Lopes, com a atribuição do seu nome ao largo em frente à antiga moagem, pelo seu “percurso notável”, pelo seu “exemplo” e “empreendedorismo” e pela excelência das suas iniciativas”, constituindo-se como “um grande embaixador de Leiria” e “uma referência na preservação do sentido das comunidades emigrantes”.
Investimento de 18 milhões de euros
A par da homenagem ao comendador, a sessão ficou marcada pela inauguração da obra de requalificação do edifício, agora deu lugar a um condomínio de luxo, denominado Moagem Heritage, constituído por 25 apartamentos e 11 lojas.
Trata-se de um investimento de 18 milhões de euros que o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Dias, que fez a inauguração, apontou como um exemplo do “empenho” dos nossos emigrantes em investir no País.
“O investimento da diáspora continua a ser essencial para Portugal, seja aqui em Leiria ou em qualquer outro ponto”, defendeu.
O presidente da Câmara referiu-se ao projecto de requalificação da antiga Moagem como “mais um dos muitos exemplos de regeneração urbana que se têm registado em Leiria nos últimos anos”, considerando tratar-se de “um magnífico exemplo daquilo que pode ser feito na área da reabilitação”.
Raul Castro frisou ainda que este “rejuvenescimento do edificado da nossa cidade só tem sido possível graças a uma conjugação de esforços entre a iniciativa privada e o sector público, que devem continuar a conjugar esforços no sentido de tornar as nossas cidades mais atractivas e competitivas”.
“Fui um pouco louco. Este é um projecto titanesco, mas como esquecer a história que se esconde por detrás destes muros?”, reconheceu Armando Lopes, afirmando que a recuperação da antiga moagem pretende “respeitar a herança deixada pelos nossos antepassados”, o que se reflecte também na preservação de “milhares” de peças encontradas durante as escavações arqueológicas, algumas das quais se encontram expostas no edifício.
O empresário acredita, por isso, que esta requalificação será “um novo orgulho para a cidade”. Sobre a homenagem que lhe foi prestada, o comendador disser tratar- -se de “uma honra” e “uma felicidade”, ainda por cima por já ter sido alvo de uma distinção semelhante no país que o acolheu há 57 anos.