Cai o Carmo e a Trindade com a medida na Universidade de Coimbra que decide não utilizar carne de vaca nas cantinas da mais antiga universidade do País, a partir de 2020.
Das ementas de sete dias seguidos consegui ver, em 14 refeições (almoço e jantar), dois pratos com carne de vaca: Almôndegas (bovino, porco) e Vitela à Lafões, ou seja, apenas 14% das refeições.
Além disso, os estudantes continuam a comer diariamente, se assim o desejarem, carne: de peru, frango ou porco.
Esta pequena análise – que demorou cerca de cinco minutos de consulta na net – está ao alcance da maioria dos comentadores públicos que, no entanto, não se coibiram de vociferar contra a medida, com o argumento de que os pobres estudantes estavam a ser condenados a ser vegetarianos – quando não vegans – à força.
Ora, entre estes dois regimes alternativos e aquilo que serão as ementas da Universidade de Coimbra, a diferença é abissal.
Na verdade, a única coisa que mudará em 2020, se comparado com o que se passa actualmente nas 14 cantinas de Coimbra, são 14% das refeições cuja proteína não será de origem bovina.
A retirada da carne de vaca das ementas não belisca o livre consumo de bifes, bifinhos e quejandos; quem quiser continuará a fazê-lo em sua casa, onde quiser.
Mas não pela mão do Estado, na universidade, onde o exemplo da urgência com que se deve olhar para a crise climática pode e deve ser dado.
Face à pequena mudança, o alarido nacional de aijesuzes, absolutamente desproporcionado, mostra várias coisas e nenhuma delas é simpática. Que a medida é autoritária!
O que pensar então de outras medidas [LER_MAIS] como o uso dos cintos de segurança ser obrigatório desde 1993?
Para não ser autoritário o Estado deveria esperar algumas gerações até nos tornarmos cidadãos plenamente conscientes da necessidade de utilizar o cinto e prescindir assim de medidas “obrigatórias”?
Quantos mortos e estropiados nos custaria essa ausência de “autoritarismo”? “Já se sabia que comer carne vermelha em excesso faz mal à saúde.
O que muitos não sabiam é que o seu consumo excessivo também é prejudicial para o ambiente, seja ao nível dos gastos e da contaminação de água e de solos, seja nas emissões de gases de efeito de estufa, como o metano ou o dióxido de carbono.
Globalmente, o sector agrícola — com particular peso do sistema de produção de carne e de produtos lácteos — é responsável por um quinto das emissões de dióxido de carbono e gases equivalentes (CO2eq).
E em Portugal por 10%, conta Carla Tomás, no Expresso de 08.12.2018. Começa a ser consensual que é preciso fazer alguma coisa relativamente às alterações climáticas; o problema é o velho comodismo de achar que se alguém tem de fazer alguma coisa, esse alguém não sou eu.
O bifinho tem de continuar sagrado na cantina, alguém que invente um ruminante que não contribua para a pegada ecológica e de preferência já amanhã.
As Papilas do Senhor Reitor podem ser demonizadas hoje. Os nossos filhos, esses, irão agradecer-lhe no futuro.
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