Oito anos após deixar as instalações de sempre por uma casa mais modesta, o Ateneu Desportivo de Leiria, que se prepara para eleições, continua a acrescentar páginas a um historial de décadas tantas vezes escrito a ouro. É das instituições mais antigas da cidade no domínio da cultura e do desporto e tem origem na junção de três emblemas, entre eles a Assembleia Leiriense, de que “herdou” a anterior sede na Praça Rodrigues Lobo, um palacete actualmente desocupado que os proprietários colocaram para venda no mercado imobiliário.
Com a saída da Praça Rodrigues Lobo para a nova sede na Rua Comandante João Belo, onde antes funcionaram gabinetes de arquitectura e contabilidade e um ginásio, nas traseiras do centro comercial D. Dinis, e o abandono, devido à actualização da renda, de 300 para 1.600 euros por mês, do emblemático edifício que o Ateneu ocupou durante 66 anos, desde a fundação em 1947, a actividade arrefece e surge um impasse directivo.
“Com as obras, que nunca mais terminavam no antigo palacete, as modalidades, aos poucos, foram saindo”, explica o presidente, António Brusco, à época responsável pelo coro.
Acabaram as danças de salão, a biodanza, o grupo de cavaquinhos, a dança do ventre, o ioga. “Ficaram as duas únicas secções que eram auto-sustentáveis: a ginástica e o coro. E houve uma discussão, principalmente entre responsáveis do coro e da ginástica, de o que é que fazíamos. Por exemplo, se o Ateneu ainda tinha sentido continuar ou não. Ou se, como eram ambas secções autónomas e auto-suficientes, cada um seguia o seu caminho”.
Decidiu-se pela continuidade, com António Brusco a garantir a presidência, em órgãos sociais com dirigentes de outros mandatos. O maestro Flávio Cardoso é o vice-presidente para a cultura e Celso Carreira o vice para o desporto. Em conjunto, ajudam a prolongar o trajecto de uma associação que, no passado, chegou a ter aulas de pilates e pintura, pesca, tiro e até hóquei em patins e futebol.
Já este mês de Novembro, haverá assembleia eleitoral – e não se prevêem grandes mudanças, porque, entre menos de 300 sócios pagantes, que assumem uma quota de 12 euros anuais, a maioria esmagadora não mostra disponibilidade ou vontade de dedicar mais tempo ao Ateneu.
“Dada a dificuldade, natural, de arranjar pessoas para a direcção, aquilo que será mais normal acontecer é arranjarmos duas ou três ou quatro pessoas para integrarem a nossa direcção”, antecipa António Brusco. “Não tem aparecido mais ninguém”.

Por estes dias, a vida do Ateneu divide-se entre a ginástica (instalada no chamado pavilhão dos Silvas, com renda paga pelo Município) e o coro, que ensaia (e, por vezes, actua) na sede da Rua Comandante João Belo.
O coro “é bastante importante” e “dos mais emblemáticos de Leiria”, considera António Brusco. “Na minha opinião, dos que apresenta espectáculos com mais qualidade”. Participam aproximadamente 40 pessoas, no total do grupo juvenil e do grupo adulto, que continua a organizar eventos, com público e coristas locais e de fora de Leiria.
Já a ginástica, em formação e competição, nas especialidades trampolim individual, trampolim sincronizado, duplo mini trampolim e tumbling, conta com 150 atletas.
“A secção principal de longe neste momento é a ginástica”, resume o presidente. “Praticamente todos os anos vamos aos mundiais”.
Depois do Sporting e da Académica, o Ateneu está mesmo entre os clubes com mais federados a nível nacional.
“Dentro destas áreas [coro e ginástica] o Ateneu é bastante respeitado”, conclui António Brusco. E tudo com um orçamento que prevê pouco mais de 60 mil euros de despesa num ano.
Entretanto, o palacete da Praça Rodrigues Lobo, antiga sede do Ateneu Desportivo de Leiria, e que no século XIX já albergava a sede da Assembleia Leiriense, está no mercado, para venda, por milhão e meio de euros, segundo informação disponível no site da agência de mediação imobiliária Remax Marquês.
É apresentado como um duplex com 750 metros quadrados de área útil, alvo de recuperação recente. E aparece, pelo mesmo valor, num anúncio da Dohler Homes Real Estate, que o refere como “ideal para ser transformado em boutique hotel”.