Enfrentar 42 quilómetros a correr não é um desafio para qualquer “comum mortal”, uma vez que exige uma grande preparação física e mental para manter o corpo em esforço.
Agora, imagine percorrer uma maratona a empurrar cerca de 100 quilos ao longo de todo o percurso. Foi isso mesmo que Paulo Franco fez, na última Maratona de Sevilha, para reconquistar o recorde do Guinness, ao correr a empurrar um carrinho com os três filhos.
O atleta do Clube de Orientação do Centro (COC), de Leiria, sempre praticou desporto e, há cerca de oito anos, quando se tornou pai de gémeos, teve de encontrar uma forma de manter a actividade física, que a esposa também acompanhava. “Comprámos um carrinho para duas crianças. Eles dormiam e nós treinávamos”, conta o corredor. Dos treinos até às provas “foi um instante”.
Por curiosidade, foi procurar o recorde do mundo a correr uma meia maratona e a ‘empurrar’ duas crianças: era 1:25 horas. “Pensei, se treinar bem para isto, consigo bater o recorde”. Em 2017, concretizou o primeiro objectivo de muitos. Cruzou a meta em 1:21 horas. Quando foi homologar o recorde, já outra pessoa tinha reduzido este tempo em três minutos.
A frustração deu logo lugar à vontade de continuar a superar-se. Seguiram-se, por isso, as maratonas. No Porto, mesmo com um pneu furado que teve de trocar a meio da prova, quebrou o recorde ao finalizar os 42 quilómetros em 3:09 horas.
Dois anos depois, nasceu o Samuel, que veio fazer companhia aos gémeos David e Daniel. Seguiu-se a procura quase frenética por um carrinho com três lugares, que pudesse participar nas corridas. “Juntei-me a uns 40 grupos de Facebook das empresas que produziam os carrinhos, porque já não se faziam, só em 2.ª mão”, detalha Paulo Franco.
Já devidamente apetrechado, e após ultrapassar uma lesão, o atleta voltou a inscrever-se na Maratona do Porto, que decorreu em Novembro do ano passado, para continuar a saga dos recordes.
Inscreveu-se também na Maratona de Sevilha, caso não conseguisse reduzir o recorde feito com as duas crianças, mas desta vez com três. “É uma loucura, sem a minha mulher era impossível”, confessa. “Acordei no domingo a pensar: O que estou aqui a fazer? Já fiz o recorde, qual é a necessidade disto?”. A desmotivar, horas antes do arranque da corrida, resolveu ir ao site do Guinness e viu que o seu recorde já tinha sido ultrapassado. Sentiu-se derrotado. “Levantei-me, recompus-me, e veio um sentimento de gratidão. Era mesmo aquele estímulo que precisava”, conta, ao lembrar-se que na altura pensou: “Agora é que vou comer o asfalto.”
A motivação extra permitiu imprimir um ritmo rápido na corrida que, apesar de ter várias subidas, manteve-se durante todo o percurso. “A malta que foi comigo ia com um grande espírito. Iam à frente a desimpedir o caminho. A dada altura, tinha três ou quatro pessoas a cortarem-me o vento. Foi espectacular”, adianta.
Guloseimas e tablets fazem parte da estratégia para manter os filhos ocupados, que durante a ‘viagem’ perguntam: “Papá, estamos quase a chegar? Falta muito?”
Feitas as 3:05 horas, Paulo Franco vai agora homologar o recorde e este deverá ser o último que completa. “Não tenho muitos mais planos para correr com eles, já estão maiores. Começa a chegar o tempo de eles fazerem as próprias provas”, confessa, ao adiantar que os filhos acompanham a família nas provas de orientação.