De que forma o incêndio de 17 de Junho abalou a corporação?
Todos os anos temos incêndios, mas como este ano não. Os psicólogos continuam a vir com regularidade ao quartel para acompanhar alguns dos elementos. Tudo o que aconteceu mexeu muito com todos os homens e mulheres desta corporação. As vítimas não lhes saem da cabeça nem a luta que travaram contra a natureza. Nem que houvesse um batalhão seria possível.
É bombeiro há 32 anos. Alguma vez tinha enfrentado um incêndio parecido?
Tenho combatido muitos incêndios, mas como este nunca. Olho à volta e vejo 85% da área do meu concelho ardida. A população ainda nos olha de maneira diferente. Por muito que lhes tentemos explicar é difícil para quem perdeu os seus bens entender o que lhes estamos a dizer. Mas impedimos o incêndio de entrar pela vila dentro.
[LER_MAIS] No sábado assinala-se um ano da tragédia. Como estão a viver a chegada dessa data? Estamos a tentar esquecer e vem tudo outra vez ao de cima. Muitos bombeiros ainda hoje não falam desse dia. Sei que desabafam com os psicólogos. Só de vez em quando alguns contam algumas das situações por que passaram.
Estão preparados para enfrentar de novo o fogo?
Existe alguma ansiedade. Quando aparecer o primeiro incêndio, se correr tudo bem, vai passar tudo. Hoje as pessoas também estão mais consciencializadas dos riscos e as limpezas dos terrenos foram feitas em muitas localidades. O bombeiro irá sempre sair do quartel com vontade de “comer” o incêndio, como costumamos dizer. Se a coisa não correr bem, admito que os elementos se poderão ir abaixo.