O número de pessoas que quer deixar de fumar está a aumentar em Portugal. O número é provado pela adesão às consultas de cessação tabágica. Maria Manuel Açafrão, coordenadora do Programa Regional da Administração Regional de Saúde do Centro no distrito de Leiria, revela que “tem havido um aumento da procura pelas consultas” para deixar de fumar. A responsável adianta que a decisão parte do próprio utente, mas também por aconselhamento médico.
“Temos pessoas de todas as idades, desde os 14 anos, mas a faixa etária mais predominante está entre os 35 e os 60 anos”, constata, lamentando a falta de mais locais para serem realizadas as consultas.
Segundo adianta, existe uma consulta em todo o distrito de Leiria, que é desenvolvida duas vezes por semana no antigo CDP (Centro de Diagnóstico Pneumológico). O Hospital de Santo André, em Leiria, também disponibiliza uma consulta. “Deveria haver mais locais, para facilitar a deslocação dos utentes. Há pessoas que estão distantes e, nesses casos, tentamos fazer um acompanhamento através de apoio telefónico”, afirma a médica.
“Infelizmente, há poucos profissionais de saúde com esta formação, mas com a falta de médicos a motivação é menor. Era importante que médicos e enfermeiros tivessem formação para tratamentos intensivos nesta área, podendo, assim, acompanhar os utentes no seu dia-a-dia”, acrescenta.
Maria Manuel Açafrão salienta também que a adesão à cessação tabágica teve um incremento “desde que a medicação passou a ser comparticipada”. A especialista adianta que a terapia adequada difere do utente que procura ajuda. “Pode ser medicação ou terapêutica cognitiva e comportamental.”
O recurso às medicinas alternativas é outra opção que começa a registar um aumento de procura. Joana Bernardes utiliza o laser com base em acupuntura, com picadas na orelha e [LER_MAIS] face para “ajudar a eliminar ou reduzir os sintomas da abstinência tabágica”, através da “libertação de endomorfinas”.
Desta forma, tornase “mais fácil” deixar de fumar, pois é “um suporte para reduzir a ansiedade”. A terapeuta de acupuntura informa que será necessária apenas uma sessão para a cessação tabágica, havendo depois um acompanhamento de três meses, que pode ser realizado à distância.
“A fase crítica é o primeiro mês. Não só pela dependência física e psicológica, mas porque é necessário alterar alguns hábitos de vida e rotinas”, alerta. O sucesso do tratamento depende sempre da “vontade da pessoa”, mas os “resultados têm sido muito positivos com taxas de 90%”.
Joana Bernardes afirma que a maior procura é de pessoas com idades entre os 40 e 50 anos, “uma faixa etária mais madura, que já tem consciência de que não é favorável fumar”. Apesar de se registar uma maior procura para deixar de fumar, também se regista um aumento do início do consumo de tabaco pelas jovens do sexo feminino.
De acordo com o Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas, o consumo de tabaco nos últimos 30 dias, na população dos 15 aos 64 anos, registou um aumento de 4,1 pontos percentuais entre 2012 e 2016/17.
Este aumento ficou a dever-se predominantemente ao consumo nas mulheres, que registou um aumento relativo de 37,8%, refere ainda este estudo.
24,8%
das mulheres, com idades entre os 15 e os 64 anos, admitiram ter consumido tabaco nos últimos 30 dias, em 2016/17, segundo o Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas, que indica que o valor de 2012 era de 18%
500
mil portugueses tornaram-se ex-fumadores numa década (entre 2005/2006 e 2014/2015), um aumento de seis pontos percentuais, de acordo com o 4º Inquérito Nacional de Saúde, realizado entre 2014 e 2015, pelo Instituto Nacional de Estatística e INSA (Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge) e 58% da população com 15 ou mais anos nunca tinha fumado
“Fumava dois maços de tabaco por dia e no dia 30 de Agosto de 2013 decidi deixar, porque senti que estava a interferir na minha qualidade de vida. Percebi que fumar era um prazer de segundos ou minutos, que não compensava o mal que fazia. Fumei durante 41 anos e deixei de um dia para outro, sem qualquer tipo de ajuda. Foi uma questão de mentalização, determinação e força de vontade. Quando tomei a decisão fiquei com meio maço de cigarros em casa e, no início, à noite olhava para ele, mas resisti sempre. Mandei-o fora uns seis meses depois, quando tive a certeza que não ia voltar a fumar. Há quatro anos que não fumo e passei a respirar melhor, os alimentos têm um sabor mais apurado e os cheiros mais intensos. Não tenho qualquer problema em frequentar espaços onde se fuma ou estar junto de fumadores e, tal como não aceitava sermões para deixar de fumar, também não os dou a ninguém.”
Dário Ruivo, Leiria, 41 anos
"Não fumo há 12 anos. Não gostava de me ver a fumar. Fumei durante 24 anos e gostava de poder fumar três cigarros por dias, mas sei que não consigo. Para deixar de fumar recorri à electroacunpuntura. Não é uma solução, mas ajuda no apoio psicológico. A minha preocupação era saber o que ia fazer depois com as mãos. Passei a beber mais café e ataco nos amendoins. Quando estou mais stressado ando com um palito na boca a brincar. Agora quando quero fazer uma pausa no trabalho, costumo dizer que vou “fumar um cigarro”. Mas é apenas uma paragem para descomprimir. Não deixei de frequentar lugares de fumadores e o que notei depois de ter deixado o tabaco foram os cheiros da rua, que comecei a sentir com mais facilidade. Como sou chefe dos escuteiros, procuro sensibilizar os jovens para os malefícios de fumar, sem nunca lhes falar mal do tabaco e dou-lhes o meu exemplo.”