No último ano, as Unidades Locais de Saúde da Região de Leiria (ULSRL) e do Oeste (ULSO) registaram 67 casos de internamentos sociais, ou seja, situações de pessoas que permaneceram hospitalizadas depois de clinicamente tratadas e que envolveram, quase sempre, idosos.
Alguns destes casos, serão puro abandono, mas a maioria é justificada pela falta de condições das famílias para cuidarem dessas pessoas ou de as colocar em lares privados, dada a falta de vagas em instituições comparticipadas pela Segurança Social.
A nível nacional, o mais recente Barómetro de Internamentos Sociais, divulgado no passado dia 16, revela que 2.342 pessoas continuam internadas nos hospitais públicos, apesar de terem recebido alta. É um número sem precedentes, frisa a Associação de Administradores Hospitalares, responsável pelo estudo, que representa quase 12 por cento do total de internamentos. Comparando com o período homólogo, houve um aumento de 8%, com mais 178 casos.
Ao JORNAL DE LEIRIA, a ULSRL adianta que, no ano passado, registou 38 internamentos sociais, enquanto em 2023 tinham existido 24. Os números indicam, assim, um aumento de 58% (mais 14). Os dados mais recentes, referentes a meados de Março, indicavam a permanência no hospital de seis pessoas com alta clínica a aguardar colocação numa estrutura residencial para idosos.
Já no Oeste, a situação era mais complicada. Em meados de Abril, a ULSO registava 33 internamentos sociais. A esse número, somavam 18 doentes já com alta, mas que aguardavam admissão na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI). No ano passado, na mesma data, havia 29 casos (19 sociais e 10 à espera de resposta da RNCCI).
Camas que “fazem falta”
“É crítico ter camas ocupadas. São seis camas que fazem falta”, reconhece Neusa Magalhães, vogal do Conselho de Administração da ULSRL, referindo que os casos actuais de altas proteladas “são todos de 2025” e envolvem, sobretudo, idosos que “não têm resposta nas famílias”.
“A sua condição física não lhes permite regressar ao seu domicílio e, face à sua situação económica, não conseguem recorrer aos lares privados”, acrescenta Cidália Faria, directora do Serviço Social da ULSRL.
A técnica realça a “boa articulação” com a Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que tem permitido encontrar respostas na rede de camas sociais, composta por cerca 400 vagas a nível nacional. Deste total, “150 são disponibilizadas pela Segurança Social de Leiria”, assinala Neusa Magalhães, admitindo que o facto de o distrito ser “um grande contribuinte” para a rede acaba por ser “positivo” para a região.
“Os internamentos sociais inapropriados têm causas diversas, multi- -factoriais, carecendo de aplicação de medidas emergentes a nível nacional”, defende a administração da ULSO, que aponta o facto de as respostas sociais estarem “sub-dimensionadas face às necessidades”, e consequente “demora” na colocação em ERPI (Estruturas residenciais para Pessoas Idosas), como uma das principais causas dos internamentos sociais.
Na resposta envida ao JORNAL DE LEIRIA, a ULSO refere também o contexto familiar como um dos motivos para as altas proteladas que, em muitos casos, envolvem utentes sem suporte familiar ou que que têm como principal cuidador o cônjuge “também ele idoso e com algumas patologias associadas”. Por outro lado, “as famílias, face à sua situação profissional e desafios pessoais, não conseguem conciliar a prestação de cuidados adequados aos utentes, muitos dependentes nas actividades de vida diária”.