O final da tarde de segunda-feira foi de aflição para a população da Caranguejeira e do Arrabal, no concelho de Leiria. Com um minuto de intervalo, as chamas que surgiram nestas duas freguesias rapidamente percorreram quilómetros e ameaçaram habitações e indústrias.
Na localidade de Vale Sobreiro, Laurinda Rodrigues aguardava na rua principal autorização para chegar perto da sua casa. “O fogo estava a rondar e os bombeiros tiraram-me de lá. Espero que se tenha salvado tudo”, confessava ao JORNAL DE LEIRIA, reconhecendo que os meios eram poucos.
Perto da sua habitação, junto ao areeiro, estava também a casa do irmão, que se encontrava ausente. Laurinda pediu ajuda várias vezes aos bombeiros.
Com toda a paciência, um dos operacionais explicava que estavam a dar o seu melhor e que tudo fariam para salvar os bens de todos. “Isto é fogo posto. Quem fez isto é que merecia estar ali no meio das chamas”, afirmava, revoltada com o cenário de destruição que as chamas iam deixando visível à medida que consumiam tudo por onde passavam.
Um pouco mais à frente, em Solheira, já no concelho de Ourém, Patrícia Carreira criticava a falta de limpeza dos terrenos vizinhos. Com um pequeno pinhal imediatamente à frente de sua casa, a jovem lamentava ter um prejuízo de cerca de dez mil euros na relva sintética acabada de colocar há poucos dias.
“Não percebo como é que ninguém faz nada. Estas situações poderiam ser evitadas se houvesse limpeza e se cumprissem o perímetro de segurança.
Este pinhal não está dentro do que é exigido”, sublinhava, admitindo que apanhou um “susto valente”, com as chamas a bailarem à volta da sua residência, com cerca de três anos.
Patrícia Carreira alertava não só para o perigo das chamas, mas também para as tempestades. Com os pinheiros junto à sua casa considerava que ventos mais fortes podem derrubá-los e causar estragos no seu espaço.
Pedida investigação rápida
“Esta frequência de incêndios em Leiria e Ourém tem-nos preocupado sobremaneira. Não estamos convencidos que seja obra do acaso. Como tal, apelamos mais uma vez a que estejam atentos e que colaborem com qualquer informação que possa ser útil, para que o processo de investigação seja também mais célere.” A afirmação é de Luís Lopes, vereador da Protecção Civil da Câmara de Leiria, face às consecutivas ignições na mesma zona.
Esta quase triangulação de fogos tem levado a que haja uma articulação entre os dois municípios e as autoridades policiais têm estado no terreno à procura de indícios e suspeitos.
O vereador realça que se trata de um “trabalho minucioso”. Sem ter um suspeito identificado, Luís Lopes admite que a situação torna- -se ainda mais preocupante, pois poderá não ser possível “parar as fontes de ignição”.
“Chegámos a ter três incêndios praticamente consecutivos entre Leiria e Ourém, o que torna muito mais complexo o trabalho dos operacionais.”
Por isso, o autarca apela à população para se “manter atenta” e que “colabore com as forças de segurança, que se vão manter no terreno”.
“Acima de tudo, que se mantenham vigilantes e ajudem a vigiar o território e a salvaguardar o património de todos, porque sabemos perfeitamente que os próximos dias serão complexos.
Gonçalo Lopes, presidente da Câmara de Leiria, apelou também a uma “investigação contundente” para encontrar eventuais “criminosos”.
“Tem de existir uma estratégia de investigação mais contundente para que se consiga apurar os criminosos que estão por detrás deste tipo de incêndio”, apelou, ao considerar que é “estranho que esta freguesia seja sistematicamente alvo de ignições, estratégicas, pensadas, premeditadas, ano após ano”.
“É no Vale da Rosa ou no Vale Sobreiro… Toda a gente diz nestas freguesias, em especial na Caranguejeira, que só poderá ser de origem criminosa e que possivelmente poderá ser só uma pessoa que está na origem deste tipo de acontecimentos, o que nos deixa muito preocupados”, revelou. “É necessário montar e planear uma estrutura de investigação que consiga apanhar estas pessoas”, reforçou Gonçalo Lopes.
Quatro ignições em simultâneo