Chama-se Camp-in-Gas, começou ontem, dia 17, e acontece até domingo, dia 21, no Pisão, na Bajouca (Leiria). Reveste a forma de uma acção de contestação contra a intenção da empresa australiana Australis Oil & Gas (Company) de sondar e explorar gás natural na concessão de Pombal [Bajouca].
Cerca de 300 pessoas estão acampadas no parque verde desta freguesia do concelho de Leiria, numa iniciativa que começou a ser preparada em Janeiro, por sete organizações ambientalistas, em parceria com a Abad – Associação Bajouquense para o Desenvolvimento.
"Temos aqui 40 pessoas vindas de Espanha, outras de Itália, dos Estados Unidos e de vários pontos do País, incluindo das regiões autónomas", diz João Costa, porta-voz do movimento ambientalista Linha Vermelha.
Para o dia 20, sábado, a organização programou várias acções pacíficas de esclarecimento e tomada de consciência para a questão da prospecção e exploração de gás, incluindo o seu impacto local e a nível global, como causa das alterações climáticas.
"Vamos ter uma manifestação e caminhada desde o Largo dos 13, no centro da Bajouca, até ao espaço onde se prevê a prospecção. Haverá uma invasão pacífica e de grande simbolismo do terreno, entre outras acções. Queremos deixar uma mensagem à Australis Oil & Gas. Queremos que percebam que estamos dispostos a colocar os nossos corpos à frente das máquinas", resume o ambientalista.
Acampamento melhora parque
Para melhorar a ligação à comunidade local, a organização do Camp-In-Gas vai contar com oficinas de olaria, de plantas comestíveis e carpintaria, com o envolvimento de mestres e artífices locais. “No final da oficina de carpintaria, vamos desafiar os participantes a reparar e melhorar o mobiliário do parque verde do Pisão, onde estamos acampados”, explica João Costa. Também os produtos utilizados na confecção da comida, que é vegana, são de origem local ou adquiridos no distrito.
Como o JORNAL DE LEIRIA noticiou em Dezembro de 2017, o Governo e a Australis Oil & Gas assinaram no final de 2015, um contrato de concessão para pesquisa e produção de hidrocarbonetos, em vários lotes de terreno contíguo, que abrangem parte dos distritos de Coimbra, Leiria e Santarém, entre o estuário do Mondego, na Figueira da Foz, até ao município de Ourém e Santuário de Fátima, inclusivamente.
Tricotar contra a exploração do gás natural
No sábado passado, houve já uma espécie de ensaio para o dia 20. Duas dezenas de manifestantes vieram de Évora, Lisboa, de Odemira, de Cascais, de Sines, de Sintra, de Palmela, do Porto e, naturalmente, de Pombal e da Bajouca, para participarem na acção de protesto pacífico que a Linha Vermelha organizou no terreno onde a empresa australiana pretende sondar e explorar gás.
Os manifestantes tricotaram mais um trecho de uma linha vermelha, representativa da Linha [LER_MAIS] Vermelha de 1,5ºC, que o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas estabeleceu como o limite de aquecimento, antes de as mudanças no clima se tornarem irreversíveis, através da queima de combustíveis e emissão de gases com efeito de estufa.
"Com esta acção quisemos mostrar que há muitas pessoas, independentemente de ideologias, ida- de ou origem que querem garantir que os furos não avançam”, diz João Costa.
Globalmente, explica o ambientalista, se se explorar e queimar apenas as reservas de combustíveis que já se conhecem, o aumento de temperatura poderá exceder os 5º ou 6ºC, o que é muito superior aos 1,5ºC que o painel exige. E as reservas da Bajouca e Aljubarrota nem sequer estão contabilizadas nessas reservas.”
Localmente, o impacto na Bajouca e Aljubarrota, onde a Australis Oil & Gas também pretende fazer prospecção e exploração de gás natural, não acarreta benefícios directos a nível económico.
Costa adianta que, para o Estado, a comparticipação poderá chegar apenas a 8%. “Para a população haverá, no máximo, 20 postos de trabalho, para o transporte de materiais. Não é trabalho especializado, nem lucrativo”, esclarece, alertando para o facto de, na Bajouca, o furo de prospecção estar previsto para perto de aquíferos e de um gasoduto.
“Mais tarde, caso haja exploração, tememos que as técnicas utilizadas sejam mais agressivas e que contaminem a água nos poços e furos. Se for utilizado o fracking, que é essencialmente fracturar a rocha para libertar o gás utilizando água e fluídos químicos, o impacto poderá ser maior", explica o porta-voz, concluindo que, "em Aljubarrota, na concessão da Batalha, e aqui, na Bajouca, queremos envolver pessoas que, normalmente, não participariam nesta contestação; escolas, centros de dia e o cidadão comum”.