Se as artes existem com vontades próprias, só por que sim, ou por um conjunto de significados que ora nos fazem pensar, ora em uníssono ora em tensão, é mais ou menos consensual, ou gerador de dissenso, que muitas vezes afastando, são também um pólo agregador de pessoas. Ou pelo menos tantas e tantas vezes ponto de partida feito pretexto para o encontro, para a abertura ao outro e para uma criação conjunta de sentidos.
Não tem de haver um certo ou um errado, e por isso pode haver lugar a dispariadades no pensamento e na forma de estar, e isso até é saudável e desejável, mas há, ou devia haver sempre um lugar seguro, para cada pessoa ser e pensar o que quiser e questionar-se se assim for a sua vontade, as vezes que quiser, sobre e no processo.
Este texto que hoje parece estar cheio de ambiguidades ou como se diz por aí, dá uma no cravo outra na ferradura, serve para pensar nas artes como espaços para a liberdade e para o questionamento, para quem as quiser desta forma, ou rigorosamente para nada se for esta a vontade do seu autor ou do seu fruidor… e esta possibilidade de ser, ou não ser, pode ser altamente libertadora.
Uma coisa é certa, no encontro com as artes nunca ficamos iguais na partida, ao que éramos no quando chegámos. Há sempre algo nas artes que se acrescenta às pessoas e que lhes soma ora um grão de areia, ora uma praia inteira de transformação, de questionamento, de estranheza, de beleza, ou de espanto e que deixa a areia que entendermos, tantas vezes mais do que o que esperávamos a sedimentar ou em agitação na pele e no pensamento.
Decorreu durante esta semana, na Livraria Arquivo, o projeto internacional com génese em Itália Baci Sospesi. Materializado em escultura e retratos áudio, partiu da inquietação da sua autora Barbara Sbrocca, em tempo de confinamento, mas dedica-se a juntar pessoas e a pensar nas questões dos encontros e desencontros e nos afetos que tantas vezes ficam em suspenso fruto de separações inusitadas ou de afastamentos forçados.
Assim durante uma mão cheia de dias, desafiados pelo escritor Paulo Kellerman e pelo Núcleo de Leiria da EAPN, artistas diversos, nas suas linguagens múltiplas, que iam da escrita, ao teatro, performance, arquitetura, fotografia, ou cruzamentos disciplinares, juntaram-se em residência artística, para pensarem juntos e em co-criação a urgência dos encontros, dos abraços e do libertar de “beijos” suspensos.
Momentos à flor da pele, materializados num conjunto de obras que estarão disponíveis para venda até domingo na Livraria Arquivo. O valor resul-tante da aquisição das obras reverterá para a EAPN. Sintam-se convidados a passar por lá.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990