Nem todas as empresas poderão ser uma Google, com fama de ser uma das melhores do Mundo no que se refere a condições de trabalho e a benefícios concedidos aos colaboradores, mas todas poderão atentar em alguns aspectos que contribuem para a saúde dos seus trabalhadores.
Além daquilo a que a lei obriga, há pormenores que, implementados, podem fazer toda a diferença, apontam os profissionais ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA.
“Quando falamos em saúde e segurança no trabalho, as pessoas pensam logo em construção civil, mas ver a questão apenas nessa perspectiva é muito redutor”, frisam Sandra Palma e Dora Agostinho, sócias da Change Interior Design, empresa de Leiria que, entre outras vertentes, desenvolve a sua actividade na área corporativa, criando “ambientes de trabalho estudados ao pormenor, humanizados e ajustados a quem neles trabalha, não deixando de parte o alinhamento com o propósito da empresa”.
Reconhecendo que a construção é uma das actividades onde há mais riscos e mais acidentes, e onde o uso adequado de determinados equipamentos de protecção, colectivos e individuais, pode fazer a diferença entre a vida e a morte, as engenheiras civis lembram que também noutras actividades há factores causadores de doença a ter em conta.
“Em qualquer empresa os índices de depressão e de stress podem ser enormes, dependendo de como for o ambiente e a organização do trabalho”.
Mais do que evitar acidentes, é preciso também prevenir as doenças profissionais. E para isso há uma série de aspectos a ter em conta. “Em cada posto de trabalho há tanta coisa que influencia o bem-estar, a qualidade de vida e, consequentemente, a saúde do trabalhador”.
[LER_MAIS] Se estivermos a falar de um escritório, são disso exemplo a iluminação, a temperatura, a acústica e a ergonomia, entre outros. “Uma cadeira ajustável faz toda adiferença” para quem passa muito tempo sentado.
Outros aspectos a ter em conta para quem trabalha ao computador são a distância dos olhos ao relação ao monitor e a posição dos braços, exemplifica Sandra Palma. Por outro lado, se luz insuficiente faz mal, em excesso também não é melhor.
O ideal é que os locais de trabalho beneficiem de luz natural, “que faz toda a diferença”. Mas nem sempre isso é possível. “Veja-se o caso dos centros comerciais. As pessoas que lá trabalham muitas vezes nem sabem se é dia ou noite, se chove ou faz sol”, aponta Sandra Palma.
Não podendo estes edifícios ter luz natural em todas as lojas, podem contudo instalar iluminação adequada.
“Já há no mercado lâmpadas programáveis para a luz ir ficando mais branca até ao meio dia, e depois mais amarela até ao fim do dia, o que permite enganar o corpo de modo a que ele produza as hormonas que deve produzir para que cheguemos à noite e consigamos dormir e descansar efectivamente”, explica a especialista em higiene e segurança no trabalho.
Mas também nos ambientes industriais há aspectos que podem fazer a diferença. Se um equipamento é ruidoso, a primeira coisa a fazer é isolá-lo devidamente. Depois, há que fornecer protecções auriculares adequadas aos funcionários.
Numa linha de produção, e perante duas pessoas com alturas muito diferentes, fará diferença um estrado em cima do qual a mais baixa possa estar, exemplifica Sandra Palma. “Se a pessoa estiver bem, física e psicologicamente, está mais satisfeita, a trabalhar com mais vontade, mais motivada e, logo, mais produtiva”, frisa Dora Agostinho.
“Os empregadores devem perceber que dar qualidade devida aos trabalhadores não é um custo, mas um investimento que vai ter retorno”. Mas não basta que a lei seja cumprida e que os empregadores tenham o cuidado de proporcionar as melhores condições aos trabalhadores se estes não tirarem partido disso.
“Cada pessoa tem de ter a consciência de que a sua saúde depende, em primeiro lugar,de si mesmo”, frisam as sócias da Change Interior Design, adiantando que, muitas vezes, é uma questão de atitude.
A importância da formação
As melhorias que se têm verificado em matéria de saúde e segurança no trabalho devem-se a vários factores, aponta fonte da empresa Pluralcare, de Leiria.
O papel dos técnicos de segurança no trabalho junto das entidades empregadoras e da formação junto dos trabalhadores, as acções que têm sido desenvolvidas pela Autoridade para as Condições de Trabalho e também as “recusas das seguradoras em pagar acidentes de trabalho que seriam evitados” se os trabalhadores usassem os equipamentos de protecção individual ou se não fossem retirados às máquinas elementos de segurança instalados pelo fabricante são disso exemplo.
Nas indústrias “é indispensável dar formação específica a todos os trabalhadores”, bem como divulgar a análise de riscos de cada posto de trabalho, de forma a que se possa proteger a saúde e reduzir os acidentes de trabalho, “que podem deixar sequelas ao trabalhador para o resto da vida”, aponta a Pluralcare.
Nos escritórios, “é importante que sejam efectuadas avaliações da qualidade do ar interior, que haja um plano de manutenção dos equipamentos de ar condicionado, que a cor das lâmpadas seja adequada, bem como o valor da luminância seja o recomendado, entre outras situações que são importantes para a saúde dos trabalhadores”.
A fonte da Pluralcare afirma que havendo melhores condições os trabalhadores percebem que a entidade empregadora se preocupa com o seu bem estar e, “com o mesmo esforço, produzem mais. Em suma, será bom para ambos”.
Para esta empresa de Leiria, se o dinheiro gasto com os serviços de saúde e segurança no trabalho for visto apenas numa perspectiva de que “é obrigatório e não tem interesse”, então é considerado um custo. “Mas se for realizado por profissionais competentes e empresários interessados, então será um investimento para a empresa”.
Amílcar Carvalho, sócio gerente da Gesaúde, em Pedrógão Grande, considera que ao longo dos anos se nota uma “consciência acrescida dos empregadores e dos trabalhadores” para a importância do uso dos equipamentos colectivos e individuais de protecção.
“Os empregadores estão conscientes de que a higiene e segurança não é uma despesa, mas um investimento. Mas claro que é sempre preciso fazer mais”.
Se em fábricas a reorganização dos postos de trabalho, a aquisição de equipamentos menos ruidosos (ou o isolamento dos que fazem mais barulho) e o uso de equipamentos de protecção faz toda a diferença, em escritórios também há aspectos a terem conta.
Uma “revisão adequada” dos aparelhos de ar condicionado é um dos exemplos que este enfermeiro e técnico de higiene e segurança no trabalho aponta. Outro é a ergonomia.
“Há impactos para a saúde decorrentes das lesões músculo esqueléticas causadas por más posturas quando se trabalha sentado a uma secretária”.
“Aparentemente, os escritórios não apresentam muitos riscos paraa saúde dos trabalhadores, mas continua a haver muito a fazer, tanto nas empresas como nos municípios e noutros serviços”.
Amílcar Carvalho lembra que as vantagens de um adequado ambiente de trabalho “são imensas”. Além dos impactos positivos na imagem da própria organização, ganha-se em motivação dos colaboradores e na produtividade, porque se reduz a doença e o absentismo.