O racismo é como uma bomba de pregos, daquelas que explodem e mandam fragmentos por toda a parte, cobrindo todos de sangue. Quem a maneja neste momento não sabe o perigo que corre e como pode vitimar, em definitivo, a consciência social.
As consequências da intervenção policial no bairro da Jamaica e na Avenida da Liberdade têm sido discutidas numa óptica de acusação pura e dura, sem muito interesse no que realmente se terá passado.
Tudo isto tem servido apenas e só para polarizar e envenenar uma opinião pública já de si atrapalhada com a quantidade de discurso programático e radical da parte de quem defende a existência de um racismo evidente e perigoso; e dos outros que afirmam que ele é apenas uma falaciosa fabricação.
Parece-me até que somos quase obrigados a tomar uma posição que as propostas indicam. Obrigados a escolher. Como se ser cidadão se resumisse a uma opção entre ser racista ou não.
Se calhar ser branco e falar de racismo é para muita gente como um homem falar de violência doméstica contra as mulheres, mas numa sociedade que se esvai dos seus fundamentais princípios não temos outra hipótese senão pensar muito bem e dizer ainda melhor.
Deixar talvez de ouvir o que deputados têm para dizer [LER_MAIS] e verificarmos talvez que isto do que se fala é, na sua maioria, um problema de insegurança (financeira, social, cultural) que é transversal a brancos, pretos, indianos, chineses, ciganos e todos os outros que habitam, ao que se sabe, livremente em Portugal.
Olhar e analisar a acção policial é saber também porque existe vigilância apertada nuns bairros e noutros não; é contabilizar também as agressões, assaltos e vandalismo e quem as perpetra ou sofre com elas, não as deixando de fora desta equação.
A desculpabilização, o observar político, o alarmismo evidente, não me parecem de todo valorizar a discussão. Pelo contrário.
Temos a bomba nas mãos. Vamos abaná-la e exibi-la ou colocá-la num sítio seguro até que consigamos pensar e discutir a sério, sem ideologias a atrapalhar, sobre o racismo em Portugal?
Músico