As 25 corporações de bombeiros do distrito de Leiria andam a combater incêndios utilizando viaturas com mais de 20 anos. O estado degradado do parque automóvel obrigaos a uma despesa maior na oficina e com o combustível.
Numa ronda realizada por várias corporações dos voluntários da região, o JORNAL DE LEIRIA constatou que a maioria dos veículos, sobretudo de combate a incêndios florestais e rurais, estão obsoletos e a carecer de substituição. Mas um novo veículo pode custar cerca de 150 mil euros, uma verba que não está acessível à maioria das associações humanitárias de bombeiros, que sobrevivem, sobretudo, da quotização, de mecenas e de apoios da autarquia local.
Com várias viaturas em fim de vida, a que acrescem os custos constantes com reparações, não é financeiramente viável renovar a frota ou trocar um veículo todos os anos. “A maioria dos nossos veículos são muito antigos. São autênticos exemplares de museu. Temos alguns mais recentes, mas os velhos estão mesmo muito velhos”, admite Pedro Franco, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Marinha Grande, salientando, contudo, que todos cumprem as obrigações exigidas, mas há “muito dinheiro gasto na oficina”.
Além dos custos com as reparações, a idade antiga dos veículos faz com que muitas peças não estejam acessíveis. “Por vezes, temos de mandar vir do estrangeiro, o que ainda sai mais caro e leva mais tempo, ficando com um veículo inoperacional.” Das 33 viaturas adaptadas para diferentes ocorrências que equipam os voluntários da Marinha Grande, algumas já têm cerca de 40 anos.
“Algumas nem usamos fora do concelho. Mas, mesmo as ‘peças de museu’, quando a ‘casa está a arder’ são estes elementos de museu que nos socorrem”, acrescenta.
Sem capacidade financeira, a associação adquiriu, em 2021, um tractor reboque da cisterna – o Vale 01 – já com 1,8 milhões de quilómetros. “Foi o que conseguimos para substituir o VTGC [Veículo Tanque de Grande Capacidade] que tinha 31 anos e quando chegava ao destino já era uma sorte, além de que precisava sempre de pneus e embraiagem nova a cada saída.”
A cisterna foi adaptada ao novo veículo e mantém a mesma capacidade de 32 mil litros. “Foi incorporada uma bomba nova, dupla, que pode debitar 1300 litros por minuto”, explica Pedro Franco.
Atribuída pelo Município da Marinha Grande, os bombeiros receberam uma ambulância de socorro nova, a ‘bebé’ da corporação. Desde 2019, já conta com mais de 110 mil quilómetros. A última viatura comparticipada a 85% pela Protecção Civil foi em 2005.
Também os Bombeiros Voluntários da Batalha, Pombal ou de Leiria sofrem com o envelhecimento do parque automóvel do quartel. As idas à oficina para pequenos (ou grandes) arranjos são recorrentes, aumentando as despesas, que já sobem com o combustível, que em alguns veículos mais antigos também é consumido de forma mais rápida.
O comandante distrital de Leiria, Carlos Guerra, admite que os veículos de combate a incêndio da região já têm alguma idade, estando a maioria na casa dos 22/23 anos. “Tem havido alguma renovação, mas não é suficiente, o que tende a envelhecer o parque automóvel. Diria que só 30% da frota dos bombeiros do distrito está abaixo do fim de vida útil”, revela.
E, segundo Carlos Guerra, um veículo de combate a incêndios rurais tem uma vida útil de cerca de 20 anos. “Mas depende da maneira como são tratados, da marca e das revisões. Temos carros com 15 anos que estão prontos para ir para a sucata e temos veículos com 40 anos que ainda estão bons”, confessa.
O comandante reconhece que as viaturas mais antigas “não têm uma performance tão boa”, mas garante que não há nenhum veículo a operar “se não tiver todas as condições de segurança”. “Estes carros têm manutenção, inspecções e fiscalizações periódicas obrigatórias”, explica, ao afirmar que “a qualidade no global é satisfatória”.
Paulo Albano, comandante dos Voluntários de Pombal, conta que a corporação tem uma viatura de combate a incêndio mais recente e outras mais antigas. “Não é o ideal, até porque acabamos por ter muitas avarias e os veículos ficaram inoperacionais. Gasta-se mais combustível e torna-se difícil utilizar esses carros em alguns terrenos. Dos 64 veículos, a maioria tem mais de 20 anos”, avança.
Renovar a frota não é fácil financeiramente. Além das “pequenas” ajudas do Governo, a corporação tem a ajuda de programas e do município. “Vamos agora receber um veículo florestal”, revela. Hugo Borges, comandante da Batalha, acrescenta que além dos gastos com a oficina, os veículos mais antigos não asseguram totalmente a segurança dos operacionais, até porque as novas viaturas já têm outra tecnologia, mas conseguem assegurar toda a operacionalidade.