A comemorar 125 anos, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Marinha Grande está bem de saúde e recomenda-se. Com uma gestão rigorosa consegue assegurar os pagamentos correntes e ainda sonha com algumas concretizações.
A aquisição de uma viatura de desencarceramento é uma das prioridades, assim como garantir a terceira equipa de intervenção permanente (EIP).
Carlos Carvalho ajudou a pôr fim a uma crise directiva e concluiu o resto do mandato da direcção anterior. O presidente, que se vai recandidatar no final do ano, criou a secção de transportes, uma aposta que pretende consolidar e reforçar.
“Assim asseguramos o socorro, mas também não comprometemos o transporte dos utentes, uma vez que passamos a ter uma equipa afecta a este serviço”, explica ao JORNAL DE LEIRIA.
O presidente reconhece que esta prestação de serviços ajudará às contas da associação, que estão equilibradas. “É uma estrutura grande. Temos 38 empregados e funcionamos 24 horas por dia. Todos os meses as despesas rondam os milhares de euros”, constata, ao salientar que se o dinheiro do Ministério da Saúde chegasse sempre a horas seria só preciso fazer uma gestão certinha. “O que nos dá ‘dores de barriga’ é quando o atraso é de alguns meses”, critica.
A Câmara da Marinha Grande presenteou, no domingo, os bombeiros com uma nova ambulância de socorro. A necessidade premente é agora a aquisição de uma nova viatura de desencarceramento, muito usada nos acidentes a alta velocidade na A8. Uma viatura nova custa 300 mil euros, verba que nem com uma eventual comparticipação da autarquia seria possível suportar. A solução deverá ser substituir apenas o chassi e aproveitar tudo o resto da actual viatura.
Com cerca de 70 bombeiros voluntários, dos quais 33 pertencem ao quadro da estrutura, Mário Silva é, a par de José Confraria, o elemento mais antigo do quartel da Marinha Grande.
Entrou em 1989, com 14 anos, porque “gostava da farda” e depois manteve- -se pelo propósito de “querer ajudar o próximo”. Ao longo dos 35 anos de bombeiro, o adjunto de comando confessa que assistiu a uma “evolução drástica da exigência, responsabilidade e qualidade material e humana”.
“Ainda andei com as macas à padiola e víamos a direcção do vento com uma pedra pendurada num cordel”, recorda. Hoje, as novas tecnologias são um aliado no apoio à decisão, mas não deixam de ter à mão a carta militar, até porque a rede às vezes também falha.
O dia-a-dia no socorro deu-lhe maior frieza, mas nem por isso deixa de sentir o desespero das populações nos incêndios rurais. Em Outubro de 2017 apoiou outras equipas no distrito de Coimbra. “Éramos poucos e o fogo tanto que tínhamos de decidir qual a casa que não ia arder e esperar que as outras se salvassem”, conta.
Sustos já apanhou muitos, mas nenhum o fez desistir, revelando que o papel dos bombeiros vai, por vezes, além do socorro, como serem chamados por idosos só para fazer companhia. “Quando chegamos, percebemos que só querem falar connosco e até lhes aquecemos a sopa…”
Faltam operacionais
“Faltam-nos operacionais. Nesta linha de acção todos somos poucos e não estamos a conseguir colmatar as saídas”, alerta Eduardo Abreu. As inscrições para bombeiros até são em números razoáveis, o problema é que a maioria desiste ainda antes de iniciar a formação. “Também é bom perceber que quem fica é por amor à causa”, frisa o comandante, que assumiu o cargo em Junho, depois de se aposentar da Força Aérea onde atingiu a maior graduação de operador de sistemas de assistência e socorro.
Eduardo Abreu considera que a exigência na primeira intervenção no socorro não pode ser sustentada apenas por voluntários, por isso defende a criação de mais uma EIP.
O comandante aponta também que os veículos já estão envelhecidos para acorrer às cerca de 800 ocorrências mensais, das quais 70% estão relacionadas de alguma forma com a saúde. O encerramento das urgências hospitalares “traz vários constrangimentos, sobretudo para os utentes, que poderiam estar em 20 minutos nas mãos dos ‘experts’ e ainda estão dentro de uma ambulância.”
Além do desgaste das viaturas, há também a pressão sobre os operacionais, que sentem que cada minuto que passa pode agravar o estado da vítima. “Uma ocorrência de 200 quilómetros não tem nada a ver com uma ocorrência de 40.”
Em cerca de quatro meses como comandante, Eduardo Abreu já teve situações caricatas, uma delas foi uma chamada para uma vítima que teria a cabeça entalada numa batedeira industrial. Ao chegar ao local, a senhora estava apenas a bater o pão e ficou com a varinha enrolada no cabelo.
“Corta o cabelo ou não corta? Claro que se teve de cortar o cabelo para conseguir tirar a varinha, que ficou pendurada quando a desengatámos.”
Os números
300
Setembro