Radicado em Paris, mas com raízes familiares em Leiria, o realizador Bruno Lorvão acaba de estrear o seu mais recente documentário – Salazar, Lisboa e a II Guerra Mundial – no canal História Portugal. O filme, que produziu em parceria com a francesa Christiane Ratiney para a produtora Cinétévé, já tinha sido exibido na Rádio Télévision Suisse, na RTBF e em Espanha, também no canal História.
O documentário “mostra como Portugal conseguiu resistir à Segunda Guerra e como Salazar recorreu às manobras possíveis para que o País escapasse incólume”, através da neutralidade que assumiu, explica Bruno Lorvão, que neste trabalho retrata ainda a forma como Lisboa se tornou “capital da espionagem” nesse tempo.
O realizador conta que a ideia surgiu ao ler o livro Espiões em Portugal durante a II Guerra Mundial, da autoria da historiadora Irene Pimental, mas só ganhou forma no ano passado, depois de a Cinétévé ter comprado a ideia e aceitado financiar o projecto. Pelo meio, meteu-se a pandemia e foi preciso vencer as “dificuldades” de consultar os arquivos, nomeadamente, de imagens.
“A Cinemateca Portuguesa não é um arquivo fácil. Tem pessoas com boa vontade, mas não dispõe dos recursos necessários para prestar um serviço rápido”, lamenta Bruno Lorvão, contando, por exemplo, que houve “três ou quatro minutos de imagens que não puderam ser utilizadas porque não estavam salvaguardados os direitos de autor”. Outra “grande dificuldade” prendeu-se com “o resumir informação de quase duas dezenas de livros consultados em 52 minutos de filme”.
Formado em Geografia
Nascido em Lisboa, filho de pai português – o embaixador Luis Lorvão, natural de Alcobaça – e de mãe francesa, Bruno Lorvão passou algum tempo da infância em Leiria, onde viviam os avós. Com 13 anos, mudou-se com a mãe para Bruxelas, cidade onde viveu até aos 19 anos, quando foi para Toulouse (França) estudar Geografia.
Conta que em criança “devorava” filmes e documentários. Mas, “achava que isso não era para mim”. “Porque escolhi Geografia? Por ser uma área generalista, que toca várias outras, como a sociologia, a zoologia e até a ciência política”, justifica o realizador, de 47 anos, revelando que a sétima arte surgiu na sua vida quando participou como voluntário num festival de cinema da América Latina em Toulouse.
O contacto com as pessoas do meio fê-lo perceber que, afinal, “isso” também era para ele. Com 25 anos, sem ter escola de cinema – “fui por portas travessas” – começou a fazer os primeiros trabalhos, como webdoc (documentários para a internet) e filmes comerciais e inconstitucionais.
Agora, o objectivo é poder continuar a produzir sobre a História de Portugal, não para o público nacional, mas para o europeu, nomeadamente, francês. Em processo de construção está o projecto para um filme sobre o 25 de Abril vocacionado para o público estrangeiro.
“É preciso divulgar a História de Portugal. Não vou fazer só isso, mas o objectivo é conseguir financiamento europeu para contar episódios e períodos da nossa História”, salienta Bruno Lorvão, assumindo que “não é fácil fazer documentários históricos, mas em Portugal é ainda mais difícil”.