Que balanço já é possível fazer da actividade turística deste Verão na Nazaré?
Setembro ainda é cedo para fazer uma avaliação de como correu o Verão. É preciso aguardar até Outubro para termos dados mais concretos. Saliento que a Nazaré já não é um mercado de três ou quatro meses como era antigamente, trabalhando praticamente 11 meses, havendo uma paragem, que é relativa, depende das ondas, e que acontece geralmente entre o início de Janeiro e o Carnaval, em Fevereiro. Além disso, este foi um ano atípico para Portugal com alguns factores a influenciar o turismo no nosso País. A guerra na Ucrânia, também a diminuição de casos de Covid-19, tornando outros países mais competitivos com o seu turismo, que passaram a competir com Portugal. E, a nível nacional, tivemos também a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento que nos trouxe milhares de pessoas. E não podemos esquecer que há novos mercados a aparecer. Temos de estar atentos a isso.
No caso concreto da JMJ, que mais- valias trouxe à Nazaré?
As jornadas trouxeram mais visitantes, mas podem não ter tido reflexo no número de dormidas ou de consumo. A Nazaré está nas bocas do mundo. Sua Santidade falou diversas vezes na Nazaré e temos pessoas de cada vez mais nacionalidades a visitar-nos. Isso obriga-nos a ter mais responsabilidades nos serviços que prestamos, porque pretendemos, no futuro, que quem nos visite fique alguns dias de modo a conhecer todo concelho da Nazaré.
Como referia, o turismo da Nazaré deixou de se cingir à época estival para se prolongar por quase todo o ano. E há eventos que captam o interesse de largos milhares de visitantes. O Campeonato Mundial das Ondas Gigantes é disso exemplo…
Num dia de ondas gigantes podemos ter muitos milhares de pessoas na Nazaré. A promoção que o Município da Nazaré tem feito ao longo dos últimos anos abrange muito o desporto ligado à praia e mar. Temos actualmente as ondas, mas também o futebol de praia, o andebol de praia, com vários campeonatos europeus e nacionais a passar pela Nazaré. E a Nazaré não é só praia, estamos a trabalhar outras vertentes, que não apenas o turismo, incluindo as outras freguesias, Famalicão e Valado dos Frades, com projectos a longo prazo.
E a vila está preparada para acolher tantos visitantes? Estou a lembrar- me, por exemplo, da dificuldade que é encontrar estacionamento. Para o fluxo que tem, neste momento não está preparada. Mas não quer dizer que [LER_MAIS]não exista um plano futuro. Ainda assim, as pessoas que nos visitam têm de ter noção que, pela sua geografia, a Nazaré é um espaço reduzido. Nesse sentido, para evitar o caos, existem soluções. E o município, a ACISN e outros órgãos competentes têm procurado soluções de melhoria para quem nos visita. Temos falta de estacionamento? Temos. Estamos à procura de soluções? Estamos. Temos, de acordo com as necessidades imediatas, estabelecido um plano de trânsito para o Verão. Mas o turista que vem à Nazaré tem de começar a pensar que vem visitar um espaço mundialmente conhecido, que tem várias soluções de parqueamento, só não pode levar o carro para dentro do areal. E, neste momento, na praia temos constrangimentos. Nós próprios sentimos isso em Agosto. O nosso comboio turístico tem um roteiro de uma hora e levávamos quase duas para fazer esse percurso.
Em que medida o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Nazaré pode resolver alguns destes problemas?
Não digo que resolva a curto prazo, mas pode resolver a médio e longo prazo. Com um bom parque de estacionamento, que o município diz que custará uns largos milhões de euros, mas que fará com que a mobilidade seja completamente diferente. Porque as pessoas irão estacionar em zonas mais periféricas. Todos querem passar na marginal da Nazaré, mas isso não é possível. Conforme diz o presidente do município, “a Nazaré vive dores de crescimento” que têm de ser resolvidas ao longo do tempo. É o que se está a planear.
Além da dinamização turística, pela via do desporto de praia e ondas, que outras vertentes gostaria de ver com mais projecção?
Neste momento, a Nazaré tem explorado muito o desporto de terra, o desporto de mar. Mas também estamos a preparar-nos para que qualquer dia, também haja oferta de desportos de ar. Temos na zona da Praia do Salgado uma plataforma de asa-delta e parapente e estamos a preparar, também com a Junta de Freguesia de Famalicão, para que seja uma alternativa. Em Valado dos Frades também temos muitos roteiros turísticos, temos o Monte de São Brás, que pode ser potenciado, com turismo de natureza. Procuramos soluções na área de turismo de modo que o tecido empresarial da Nazaré cresça e tenha novos clientes envolvendo todo o concelho da Nazaré.
Em concreto, como se tem movido a ACISN para promover novas vertentes?
Esta direcção da associação tem um plano para quatro anos, mas que poderá estender-se até seis anos, de forma a dar sustentabilidade ao que pretendemos fazer. E para haver continuidade dos projectos, independentemente da mudança de direcção que possa haver na associação ou nos seus parceiros. Estamos a fazer uma reestruturação interna na associação e estamos a lançar algumas marcas próprias, dentro da ACISN. São formas de marketing nacional e internacional de posicionamento para alguns sectores de mercado, beneficiando os nossos associados nos suas actividades. No próximo dia 18, por exemplo, vamos avançar com um espaço de coworking, vocacionado para o empreendedorismo, em parceria com marcas nacionais e internacionais, apoiando várias escolas do concelho, empreendedores que queiram lançar o seu negócio a partir da Nazaré. Temos várias iniciativas previstas, de abrangência local, nacional e internacional.
Estamos a falar de que tipo de marcas?
Orientados pela qualidade e pela responsabilidade, estamos a criar na ACISN marcas para divulgar e fazer crescer mais o mercado da Nazaré. Entre elas: Compre Nazaré e Buy in Nazaré, destinadas aos mercados nacional e internacional, para quem compra no mercado local; e o Empreende Nazaré, que suscita o empreendedorismo escolar, o coworking e o apoio às startups. Temos ainda Living and Rent, para agregar todo o imobiliário da Nazaré e trabalhar a nível internacional. E também a Nazaré Fashion, que agrega todas as lojas de vestuário, calçado e acessórios, para trabalhar a nível nacional e internacional. Com parceiros internacionais vamos ainda estar presentes em missões empresariais, no Brasil, Israel, Polónia e Inglaterra. E, com um banco brasileiro de câmbio, vamos lançar uma nova solução para o mercado nacional, em Outubro.
O encerramento temporário de um bar na Nazaré fragilizou os negócios de diversão nocturna do concelho?
Foi uma situação pontual, muito especulada. Aliás, esse espaço reabriu 15 dias depois. Mas essa situação foi ligada a outro tipo de acontecimentos que existem noutras cidades do País. Trataram de tudo como se fosse a mesma coisa. Não gostámos de como fizeram tanto ruído à volta de uma situação pontual. Não é jornalismo sério. Informei três dias depois desse acontecimento e reunimos com os associados do sector dos bares, onde uma das medidas solicitadas foi o reforço policial, de modo a que quem nos visitasse comprovasse que temos uma Nazaré segura. Este ano, devido à JMJ, a polícia de intervenção que habitualmente estaria presente durante o mês de Agosto, época em que quadruplicamos o número de pessoas na Nazaré, não esteve presente. Informo que temos uma Nazaré segura e empresas que querem trabalhar o ano todo.
O turismo é o motor da economia local. Essa dependência preocupa-o?
Não preocupa. Na Nazaré sempre vivemos do turismo e dos serviços. O que tem acontecido ao longo desta última década, desde quando McNamara surfou aquela onda gigante, é que isso nos trouxe mais responsabilidade, de ter melhores serviços, melhor atendimento. A pessoa que vem hoje à Nazaré, já vem com uma expectativa completamente diferente da que tinha antigamente. Temos de ser mais competitivos e cuidadosos. E a nossa associação tem que ter um papel mais interventivo nesta matéria. As ondas sempre lá estiveram, mas houve uma equipa que proporcionou que McNamara tivesse as melhores condições para ali surfar, tornando a Nazaré na Meca das ondas gigantes. Estamos nas bocas do mundo, com o presidente do Brasil e o Papa a falarem das ondas gigantes. Temos a responsabilidade de apresentar um serviço cada vez melhor.
E como se comporta o resto do tecido empresarial e industrial do concelho?
Temos também a indústria ligada à pesca, à agricultura e outros sectores por todo o concelho da Nazaré em franco desenvolvimento. Temos a Zona Industrial de Valado dos Frades, em breve teremos também a de Famalicão da Nazaré. Mas para o tecido empresarial e industrial crescer tem de existir mais habitação de modo a fixarmos mais pessoas no mercado de trabalho do concelho da Nazaré. Se há um grande número de turistas que querem ter cá casa, os locais deixam de ter capacidade para a adquirir. Na Nazaré e na generalidade do País, o mercado imobiliário subiu muito os seus preços, e o cidadão comum deixou de ter capacidade para comprar uma casa junto à praia, como tinha há 10 ou 15 anos.
O próprio sector da construção tem de crescer para acompanhar a procura.
Sim, criar respostas de habitação. Se não, qualquer dia os locais não têm onde morar e passam para concelhos vizinhos e assim deixamos de ser competitivos em relação a outras cidades.
Marcelo Rebelo de Sousa vetou medidas do pacote Mais Habitação, como as restrições ao alojamento local ou o arrendamento coercivo a casas devolutas. Que comentários lhes suscita este programa?
Está suspenso, muito irá ainda acontecer. Há muitas dúvidas e nós ainda não fizemos nada quanto a isso. Por isso, o melhor é aguardar.