As tasquinhas das festas concelhias ou da cidade são apregoadas pelos municípios como eventos que ajudam as associações a angariar receitas para as suas actividades anuais. E ajudam. Mas podiam ajudar mais se as colectividades não tivessem de pagar para participar no certame, como acontece em alguns concelhos da região, como Batalha, Leiria, Ourém, Porto de Mós e Pombal.
Os valores cobrados variam entre os 250 e os 2.150 euros. Já em Alcobaça, Caldas da Rainha e Marinha Grande a presença das associações nas tasquinhas é gratuita. Na última edição da Feira de Leiria, que decorreu de 30 de Abril a 26 de Maio, os preços oscilaram entre os 1.150 euros (espaços de bar e petiscos) e os 2.150 euros (restaurantes).
“Podia ser gratuito, permitindo que as associações conseguissem mais algum dinheiro. Mas, tendo em conta o número de dias do evento [27 dias], o valor não me choca”, diz André Gameiro, presidente da direcção do Grupo Desportivo e Recreativa da Boa Vista, associação que este ano ficou de fora do evento. Não por causa do preço, mas por “questões logísticas”, esclarece o dirigente, assumindo que não foi possível assegurar equipa para garantir o funcionamento da tasquinha. “Temos estado envolvidos com as obras na nossa sede e no campo de futebol. Não quisemos sobrecarregar mais as pessoas”, justifica.
Quem também não marcou presença na Praça da Gastronomia foi a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Leiria. “É um esforço adicional que pedimos ao pessoal e, no final, feitas a contas, o resultado não é assim tão significativo. Ainda por cima, é um serviço para angariar fundos destinados a despesas que devia ser o Estado a assumir”, alega Almeida Lopes, presidente da direcção, que não discorda da exigência de pagamento. “As entidades organizadoras impõem regras. Quem quiser participar, tem de se sujeitar”, defende, discordando, no entanto, da imposição do fornecedor oficial de bebidas, que reduz “o poder negocial e, consequentemente, a margem de lucro”.
Vereadora do Desenvolvimento Económico na Câmara de Leiria, Catarina Louro explica que o valor cobrado é “uma contribuição” para a limpeza e higienização do espaço e para a “cedência de equipamento, cada vez mais profissional e ajustado, a um grande evento na área gastronómica”.
Segundo a autarca, trata-se de “um valor simbólico”, que “não reflecte o custo total de investimento no espaço”, que ronda os 145 mil euros e que inclui “tenda, meios audiovisuais, decoração, aluguer de stands-cozinha e de contentores-cozinha, construção de espaço coberto, vedação, infra-estrutura eléctrica e de água e esgoto”. “A sustentabilidade tem vindo a ser a orientação principal da Feira de Leiria e, neste caso, aplica-se também a sustentabilidade económica do evento”, alega Catarina Louro.
Em Porto de Mós, a presença nas tasquinhas das Festas de São Pedro que, este ano, duraram dez dias, custou 500 euros a cada associação. Já em Ourém, e de acordo com o regulamento da FeirOurém, os preços variam entre os 600 euros (bares) e os 800 euros (restaurantes), por cinco dias de evento.
Na Batalha, este ano, a presença na área da restauração da FIABA, que durou cinco dias, custou 400 euros, menos 100 euros do que o valor inicialmente fixado, com a câmara a justificar a redução com a “quebra de afluência de visitantes”. Em Pombal, a participação na Feira Nacional de Artesanato e Tasquinhas implica o pagamento de 250 euros, verba que, segundo fonte do município, normalmente, é superada pelo montante das refeições que a autarquia adquire às colectividades durante o evento.
Gratuitidade para reforçar receitas
Já em Alcobaça o município não DR cobra qualquer valor às associações que dinamizam a componente gastronómica da Feira de São Bernardo. “A receita proveniente desta participação é um grande apoio para as suas actividades”, justifica a autarquia. O mesmo argumento é usado pela Câmara de Caldas da Rainha para isentar as associações que participam nas tasquinhas, que, este ano, decorrem de 2 a 11 de Agosto, na Expoeste.
“É assim que faz sentido”, defende Carlos Franco, presidente da direcção da Associação Cultural e Recreativa da Comeira, na Marinha Grande, concelho onde as colectividades também não pagam para participar nas tasquinhas das Festas da Cidade. “Se pagássemos, por mim, não participávamos. Já basta o esforço que fazemos para estarmos presentes. Sem colectividades, não havia tasquinhas e estas trazem muita gente às festas”, afirma.