Findou entretanto o ano em que se celebraram os 150 anos do nascimento do poeta Camilo Pessanha. Não parecerá, todavia, desmerecido deixar aqui uma breve referência – mesmo que algo fora de tempo – ao grande simbolista que, entre nós, preparou a revolução no discurso poético.
Nascido a 7 de setembro de 1867 em Coimbra, formou-se em Direito. Depois de ter trabalhado em Mirandela e Óbidos como advogado, transferiu-se para Macau em 1894 – supõe-se que por se ter apaixonado pela escritora, ativista e republicana Ana Castro Osório e esta não ter correspondido ao seu amor dado ter-se já comprometido a casar com outro homem. Mantiveram, porém, uma grande amizade, tendo sido por influência de Ana Castro Osório que a obra do poeta foi conhecida.
Depois de a escritora ter enviuvado, em 1915, Ana e Camilo reataram o seu convívio pessoal, tendo sido o filho mais velho daquela, João Castro Osório, quem recolheu toda a produção do poeta auto-exilado em Macau.
Conta este que Camilo confiara a sua mãe a publicação da sua obra. Assim, Ana Castro Osório toma a iniciativa de publicar em 1920 nas Edições Lusitânia, de que era dona, “esse livro esplêndido, único, dos mais dolorosos e perfeitos da poesia portuguesa”. Clepsydra.
Não fora o empenho destes seus amigos e grandes admiradores e a sua obra teria, muito provavelmente, caído no esquecimento apesar de alguns dos seus poemas terem sido publicados dispersamente em jornais e revistas.
Escreveu também sobre a Arte Chinesa e foi dando a conhecer aquele território longínquo onde se foi integrando se bem que “escondido”, angustiado e desistindo aos poucos de si próprio. Fernando Pinto do Amaral diz que “é essa melancolia de alguém obrigado a viver por engano e sempre fora da estação” que continua a comover-nos ainda hoje.
Em Macau, foi professor de liceu e magistrado e foi por lá que escreveu a sua talentosa, se bem que reduzida, obra. [LER_MAIS] Morreu a 1 de março de 1926, completamente consumido pelo ópio, tendo sido sepultado no Cemitério de São Miguel Arcanjo em Macau. Entre 1894 e 1915 viajou algumas vezes para Portugal por motivo de doença – tinha uma saúde frágil – ou para gozar as suas licenças.
Numa dessas vindas, encontrou-se com Fernando Pessoa que lhe terá pedido para colaborar no nº 3 da Revista Orpheu que, como sabemos, não chegou a vir a lume por falta de financiamento. Desse encontro (em que Camilo Pessanha recitou alguns dos seus poemas) guardou Fernando Pessoa “uma religiosa recordação”.
Conseguiu ainda o poeta de Orpheu cópias de poemas de Pessanha que “passou a saber de cor”. Acerca do maior poeta simbolista da nossa Literatura, Mário de Sá-Carneiro escreveu no jornal República, de 13-4-1914, em resposta à pergunta “Qual a mais bela obra dos últimos 30 anos?”: “À minha vibração emocional, a melhor obra de Arte escrita nos últimos anos é um livro – que não está publicado – seria aquele, imperial, que reunisse os poemas inéditos de Camilo Pessanha, o grande ritmista”.
Num texto assinado por Álvaro de Campos (o possível alter-ego de Pessoa) lê-se, referindo-se a Pessanha: «Pertence à corrente cuja primeira manifestação nítida foi o simbolismo.»
Na esteira de Rimbaud, Verlaine, Mallarmé, poetas grandes, pais do Simbolismo, e que Pessanha bem conhece, impõe-se o poeta da imagem, do símbolo «em que se esfumam os contornos do real» – Camilo Pessanha.
Professora
Texto escrito de acordo com a nova ortografia