A civilização em que estamos é tão errada que
Nela o pensamento se desligou da mão
Ulisses rei da Ítaca carpinteirou seu barco
E gabava-se também de saber conduzir
Num campo a direito o sulco do arado
O Rei da Ítaca,
Sophia de Mello Breyner Andresen
Sábado de aleluia por caminhos de Alcácer, ao longo do Sado e seus afluentes, manto amarelo no prado , carvalhos, azinheiras, sobreiros e oliveiras pontuam a paisagem , casas brancas caiadas ornadas a azul e amarelo e um dia de sol de primavera.
Caminhos hídricos, pedonais, animais, viários, hertzianos fluem, encontram-se, seguem. É paisagem construída com tempo, inclusiva, articulada entre os elementos existentes e os artefactos.
O propósito do dia é os Cromeleques e Menires e claro que os caminhos importam! O Cromeleque e o Menir de Almendres localizam-se com precisão em lugar que cruza a sua permanência com o caminho do sol no Solstício de Verão. Extraordinária obra humana!
O João ficou surpreso de haver tanto verde em Portugal. Aqui o espaço organiza-se entre os elementos pré-existentes e estruturantes, caminhos de água, planícies, montes, vegetação e acção humana, as casas, as igrejas , praças, plataformas, antas, menires ,ruas, pontes, aquedutos, barragens, chacra.
O mato está limpo, as árvores podadas, as construções caiadas, as praças tratadas e sombreadas com suas árvores, as chacras com água, as hortas e os pomares irrigados.
[LER_MAIS] Pelo país fora, e em particular ao centro, desmata-se, corta-se e acaba-se com as árvores, as encostas e vertentes despidas, o terreno pronto para a erosão. Na minha rua, seis árvores de grande porte foram abatidas.
O terreno onde cresciam é de vertente com riscos de erosão cujo confinante primeiro é o passeio, em poucos dias já está em fase de degradação com abatimentos. Aumentará a temperatura da rua, será menos uma barreira sonora… o ruído e logo lembro a Feira de Maio, que se aproxima e os dias não stop ainda mais ruidosos que me farão uma vez mais sair de casa.
A minha casa é no centro da cidade, mas no cruzamento de caminhos de escala tão diversa quanto a local e regional (ao lado do Estádio, construção que alberga 30.000 pessoas mas que à falta de ocupantes para o uso previsto se ocupa com actividades diversas e normalmente altamente ruidosas).
É preciso reorganizar, articular, limpar , podar e plantar! Não podemos simplesmente acabar com as coisas. As “coisas”, a água, as árvores, os caminhos ecológicos são estruturantes, são inalienáveis da permanência humana.
O abate da vegetação indiscriminadamente não nos defenderá das alterações climáticas e dos fogos e da algazarra. Antes pelo contrário, aumentará as possibilidades! E sim, quando for deserto deixará de arder e de fazer ruído!
Do local ao global a indignação toma lugar! Da atmosfera primeira nada!
Os caminhos dos homens sem mão sobrepõem-se numa encruzilhada de caminhos hertzianos, caminhos galácticos armados comandados por vedetas de soberba em riste, Trump (no twitter não há alterações climáticas), Putin, Bashar al-Assad, Erdogan e um botão. Cheira a disparate!
Arquitecta