Quando a União de Leiria chegou à porta do estádio para defrontar o Vitória de Setúbal, tinha uma centena de adeptos à espera.
Houve tochas, cânticos e muitas palmas para motivar os futebolistas que jogam com o símbolo do castelo ao peito, entoada maioritariamente por rapaziada nova, mas entre eles estavam também alguns quarentões e cinquentões que não deixam a paixão pelo clube da terra esfumar-se.
São os elementos dos Carapaus do Lis, claque formada fez esta quarta-feira três décadas. A história é boa. Foi no dia 5 de Maio de 1991 que uma rapaziada de Leiria resolveu invadir Coimbra. Aquele fim-de-semana, naquela cidade, tinha tudo para correr bem, porque à Queima das Fitas juntava-se um desafio entre os vizinhos Académica e União.
Houve copos e música há noite. Depois, descansaram numa pensão. Na manhã seguinte, levaram os lençóis. Como na semana anterior a Briosa tinha sido goleada, passaram no centro comercial, compraram tintas e resolveram escrever nos panos “obrigado Freamunde”.

Foi o prelúdio de uma grande rivalidade, mas também o princípio dos Carapaus do Lis. O nome é surpreendente, mas o motivo que levou à escolha esfumou-se com o passar dos anos. “Não somos uma claque. Somos um grupo (des)organizado da velha guarda que sente uma enorme paixão pelo clube”, comenta Luís Gonçalves.
Mais importante, contudo, é aproveitar estas ocasiões para fazer amigos, porque o tempo da agressividade com os adversários ficou nos anos 90 do século passado. O tempo da porrada também já lá vai, até porque tentam, hoje, ser bons exemplos.
“Por muito que nos custe, hoje funcionamos mais com a razão do que com a emoção. Muitos de nós leva os filhos para os jogos. Queremos passar a paixão pela União de Leiria, mas que tenha implícita uma carga positiva.”
[LER_MAIS]Mas claro que a pandemia tem tornado mais difícil o acompanhamento da equipa e, sobretudo, o convívio dos amigos. Se o jogo fosse na cidade, juntavam-se à hora da “patuscada”. Quando era fora partiam a tempo de ir almoçar à terra onde se realizava a partida.
“É uma grande seca. Não é fácil, porque somos todos boa boca a comer e a beber. O que vale é que a maioria dos jogos é transmitida no canal 11. Temos um grupo nas redes sociais e passamos os 90 minutos a mandar postas de pescada e passamos assim o tempo, mas não é a mesma coisa.”
A vitória sobre o Vitória de Setúbal, mesmo tendo jogado a maioria do tempo em inferioridade numérica, faz com que acreditem piamente que este será o ano do tão ansiado regresso às competições profissionais. Seria sinónimo de “muita felicidade”, mas também iria ao encontro do estatuto que Leiria terá em 2002, ser Cidade Europeia do Desporto.
Por isso, recusam estar parados. Vão sempre apoiar quando a comitiva arranca para um novo desafio e quando regressam após uma nova batalha.
Enviam vídeos motivacionais aos jogadores e até mandaram fazer uma nova bandeira, que já esteve colocada no sector do estádio que costumam ocupar, apesar de a presença de público estar interdita.
“Acreditamos muito nas pessoas e no projecto e estamos confiantes que será este ano. A equipa tem muito bons jogadores e queremos muito festejar.”