Aos 66 anos, Carlos Martins, ex-vereador do PS na Câmara de Leiria, está a viver uma nova fase da sua vida, agora na Guiné, para onde se mudou em Maio deste ano. O engenheiro electrotécnico, que faz parte dos quadros da EDP, foi um dos dois nomes escolhidos pela eléctrica nacional para integrar a equipa de consultores contratada para, nos próximos três anos, fazer a reestruturação da empresa pública de água e electricidade da Guiné-Bissau (a EAGB).
Carlos Martins explica que o projecto de consultoria, que envolve também a Águas de Portugal e a Leadership Business Consulting, resulta de um concurso público internacional lançado pelo Governo da Guiné-Bissau e é financiado pelo Banco Mundial. O objectivo é “prestar apoio técnico à modernização e reestruturação da EAGB”, adianta o engenheiro, designado para o cargo de director de electricidade.
A aceitação do convite foi uma decisão “difícil”, não só pelo “isolamento” e pelo afastamento da família, mas também pelos “riscos” ao nível da saúde e pelas “precárias” condições de assistência médica que encontrou , confessa Carlos Martins [LER_MAIS] . Contudo, a vontade de contribuir para “melhorar a empresa” estatal da Guiné e, dessa forma, o acesso da população à energia eléctrica, e a ligação afectiva que tem com África, continente onde nasceu (é natural de Angola), acabou por falar mais alto.
“Há sectores de Bissau que ainda não têm rede eléctrica. O abastecimento é feito através de uma embarcação flutuante, equipada com geradores”, conta o engenheiro, frisando que a rede existente está “bastante degradada”. “Grande parte é ainda do tempo colonial e encontra-se em muito mau estado, a precisar de intervenção”, acrescenta Carlos Martins.
Além do diagnóstico, com a caracterização das infra-estruturas existentes e da análise dos projectos em curso, trabalho já concluído, a equipa de consultores irá também ajudar a empresa estatal guineense na definição de prioridades, na modernização do serviço ao cliente e na introdução de melhorias ao nível organizacional e processual. Trata-se de “um projecto muito ambicioso”, reconhece Carlos Martins, que se sente “orgulhoso” por poder contribuir para a sua implementação.
Engenheiro de regresso a África
Esta foi também a oportunidade de Carlos Martins regressar a África, continente onde nasceu e onde ao longo da sua carreira na EDP fez trabalhos pontuais em países como Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Talvez por isso, a adaptação não tem sido difícil. “A comida é excepcional e as pessoas muito simpáticas e afectuosas. O contacto com a população local facilita a adaptação”, refere o engenheiro, cuja vivência no novo território implicou algumas alterações de hábitos. Por exemplo, a missa dominical passou a ser uma rotina. “Era o que designamos por católico não praticante. Agora, vou à missa todos os domingos na catedral de Bissau, que fica encostada ao sítio onde estou instalado.” Natural de Angola, onde viveu até aos 21 anos, Carlos Martins tem raízes familiares em Mangualde, mas fixou-se em Leiria em 1982. Veio para trabalhar na Federação de Municípios do Distrito de Leiria, tendo depois transitado para a EDP. Entre 2005 e 2009 foi vereador do PS na Câmara de Leiria sem pelouros atribuídos.