É a segunda vez que concorre à presidência do Politécnico de Leiria. O que o move?
Move-me uma enorme vontade pessoal de fazer mais e melhor pelo IPLeiria e pela região, assente no conhecimento que tenho da instituição e das necessidades da comunidade académica, bem como das dos tecidos económico, social e cultural da região. Pretendo contribuir para a atracção e a fixação de mais talento, bem como para aumentar o investimento, designadamente com a criação da Universidade de Leiria e do Oeste.
Está melhor preparado do que nas eleições anteriores?
Após 32 anos de actividade profissional considero que estou bem preparado. Tenho presidido e participado em diversos órgãos de gestão académica na instituição. Detenho um conhecimento transversal do seu funcionamento, dos desafios que se nos colocam, do que é necessário melhorar e da forma como potenciar o nosso principal activo, o capital humano.
Por que razão é o melhor candidato para presidir ao Politécnico de Leiria?
Não faço juízos de valor sobre outros candidatos. Pretendo, sim, dar a conhecer as minhas visão e propostas para o IPLeiria e para a região. Quero transformar a nossa instituição numa universidade. Pretendo que os resultados do ensino e da investigação tenham maior impacto na região e que contribuam para a sua afirmação como um referencial de nível internacional. Quero promover uma cultura organizacional de proximidade, de transparência e de participação, onde prevaleça o respeito pela identidade, pela diversidade e pela autonomia das escolas. Defendo que o presidente deve ser o principal motor da evolução da nossa instituição, promotor das necessárias articulações entre as escolas e a região, sem protagonismo pessoal.
Quais as principais linhas que destaca do seu programa de acção?
Transformar o IPLeiria na Universidade de Leiria e do Oeste, uma universidade completa e de futuro, muito para além da mera alteração de designação e da possibilidade de outorgar doutoramentos. Mobilizar a região para criar uma aliança cívica, com um compromisso de longo prazo para desenvolvimento económico-social do nosso território. A região investe em I&D cerca de 0,8% do seu PIB [Produto Interno Bruto], enquanto a média nacional é de 1,6%. Impõe-se recuperar desta desvantagem e atingir os objectivos estratégicos nacionais de 3% em 2030. Promover a multidisciplinariedade e a flexibilidade curricular. Reforçar a adopção de práticas pedagógicas centradas no estudante e o ensino a distância. Desenvolver estratégias articuladas com as escolas para promover o sucesso escolar. Desenvolver novas estratégias de atracção de estudantes, que procurem formação superior inicial, e de profissionais diplomados em busca de especialização ou de requalificação. Estimular e motivar as pessoas. Actualmente, mais de 50% dos docentes são contratados. Aprendi, com a minha experiência, que as pessoas da nossa instituição, se forem bem tratadas e valorizadas, são capazes de fazer coisas surpreendentes. Apostar na sustentabilidade, na agilização e na modernização da gestão e da governação, reforçando as autonomias, acelerando a transformação digital do IPLeiria e privilegiando uma gestão de proximidade, é essencial para a obtenção de ganhos substanciais de eficiência e eficácia, de maior dedicação a actividades mais atractivas e produtivas e, consequentemente, de maior sustentabilidade financeira. Orientar a nossa actividade pelos objectivos de desenvolvimento sustentável da ONU e adoptar a neutralidade carbónica como prioridade. Em 2030, temos de atingir os objectivos das agendas europeias e portuguesas para o clima. Devemos ambicionar à criação de Comunidades de Energia Renovável.
O que faltou fazer durante estes quatro anos?
O espaço que aqui tenho ao meu dispor não me daria para listar tudo o que faltou fazer nestes últimos quatro anos e, do que foi feito, o que eu faria de diferente. Remeto para a leitura do documento da minha candidatura. No entanto, não posso deixar de referir a preocupação com a gestão financeira, que se degradou, sobretudo em 2019, ainda antes da pandemia. Conforme se pode constatar nos relatórios de contas, considerando os saldos e os compromissos (com obrigação) anualmente transitados, nos últimos quatro anos houve um déficit superior a 3,2 milhões de euros. Esta situação gera frequentes problemas de tesouraria. Em 2020, o IPLeiria não pagou atempadamente a Caixa Geral de Aposentações. Na abertura solene do último ano lectivo, o actual presidente, e candidato, anunciou que poderia estar em risco o pagamento dos salários no mês de Dezembro. Essas situações não podem acontecer, pois geram preocupação e instabilidade. Devemos, também, incrementar o envolvimento das escolas nas decisões estratégicas do IPLeiria, bem como desenvolver uma estratégia de comunicação interna para fomentar a participação dos membros da comunidade académica em projectos da instituição.
Tornar-se universidade técnica é mesmo algo que faz falta ao Politécnico de Leiria?
Defendo que nos devemos transformar numa universidade completa, que aumente a percepção social da relevância e da qualidade do ensino superior na região. Que atraia mais talento, mais financiamento competitivo e mais investimento para a região. Que assegure novas ofertas formativas, desde cursos de doutoramento a cursos para a formação de professores para a docência em todos os níveis de ensino não superior. Que enriqueça a nossa investigação e que, consequentemente, melhore a qualidade da interacção e da relevância social na sociedade, aumente a captação de fundos estruturais para a região e permita evoluir as parcerias internacionais para consórcios com universidades de referência.
Que medidas tem para fazer face ao sub-financiamento da instituição?
O sub-financiamento é um problema crónico do ensino superior. Irei lutar por um novo modelo de financiamento, mais justo e equilibrado; aumentar a captação de financiamento competitivo, de receitas provenientes de intervenções na sociedade e de contributos do mecenato; optimizar a gestão académica e administrativa, para gerar maiores ganhos de produtividade; crescer de forma sustentável, aumentando o número estudantes internacionais, hoje inferior a 50% da média nacional.
Que investimentos são fundamentais para a instituição?
Nos últimos anos não foi dada a atenção devida à conservação e à modernização dos edifícios, dos laboratórios e das ferramentas informáticas. Urge investir nestes espaços, na transformação digital da actividade pedagógica, na melhoria das condições de estudo e de permanência dos estudantes dos nossos campi. Por questão de saúde pública, impõe-se a remoção imediata do fibrocimento com amianto na ESECS, há muito prometida, mas ainda por concretizar. Face ao actual número de estudantes, é fundamental construir novos espaços pedagógicos e infra-estruturas científicas, nomeadamente a nova ESECS, e outras infra-estruturas dedicadas ao ensino e à investigação. O alojamento estudantil merece uma intervenção cuidada, devendo ser criteriosamente investido o financiamento disponibilizado pelo PRR. Sob o risco de não sermos financeiramente sustentáveis, temos de avançar definitivamente com a transformação digital e com a necessária modernização dos processos organizacionais dos serviços centrais e das unidades orgânicas.
Nota: O candidato optou por dar entrevista por escrito