A carreira de Carmo Santos no ténis só começou aos 53 anos, já com uma bagagem de mais de 40 anos dedicados ao desporto e ao ensino. Experimentou de tudo e, com mais afinco, dedicou-se ainda ao andebol e badminton. Por onde passou, levou sempre o mesmo lema: trabalhar muito, sempre com prazer, e ganhar o máximo que pudesse.
A frase feita ‘o importante é participar’ não entra com ela nos campeonatos de ténis, porque quando pisa o court, fá-lo com a vitória em mente. E tem plena noção das suas capacidades: ser pequena em altura dá-lhe mais rapidez e, consequentemente, mais tempo para pensar na jogada seguinte.
Mas como uma atleta, com tanta qualidade, só entra no ténis depois dos 50? “Nunca tinha experimentado ténis, nem durante o meu curso. E tínhamos cadeira de ténis, mas nunca optei porque considerava que o desporto era fácil.” A também professora de educação física, cujo ídolo desportivo sempre foi o Roger Federer, logo percebeu que estava enganada.
“O ténis, do ponto de vista mental, é das coisas mais difíceis de gerir. Tens muito tempo entre colocar uma bola daqui e outra ali, entre ir buscar a bola para pôr no jogo e pensar o que se tem de fazer. E, às vezes, quanto mais pensas, mais erras”, descreve. Os seus alunos estagiavam no antigo CITL (actual Racket Sports Club de Leiria) e, para regressar à actividade física após a morte da mãe, dirigiu-se a Miguel Sousa, que ainda hoje é o seu treinador, e disse: “Quero começar a jogar ténis”.
A convicção parecia exagerada e, uns meses mais tarde, foi fazer uma aula experimental. “Estivemos mais de duas horas no court. Fiz direitas, fiz esquerdas, fiz serviços, fiz isto e aquilo. Ele [Miguel Sousa] disse-me no final: ‘Tenho aqui atletas há mais de dez anos que não fazem tanto como tu, vais começar a representar o nosso clube”, recorda.
Catorze anos após esta experiência, a motivação, resiliência e alegria a praticar desporto continuam inabaláveis. Percebeu que, para continuar a ganhar títulos, tinha de treinar todos os dias.
“Queria ser campeã nacional em três modalidades”, refere a atleta. Antes desta nova odisseia, esteve 13 anos na equipa principal feminina de andebol do Benfica, onde conquistou nove títulos nacionais, oito Taças de Portugal e três Supertaças, passando ainda várias vezes pela selecção nacional. Terminou a carreira na Juve Lis. Depois foi para o badminton, e foi campeã nacional em todas as categorias. Contudo, chegou a uma altura em que só apanhava jogadoras que podiam ser suas filhas. “Agora ganho o quê? Nada! Chega de badminton”, decidiu.
O alto rendimento foi sempre conciliado com a vida profissional e orgulha-se de ter sido mentora de muitos atletas que hoje têm o seu nome nas bocas do mundo, como Vânia Silva, Irina Rodrigues ou Pedro Portela. “O mais importante, para mim, era motivá-los para que continuassem a sua prática desportiva ao longo da vida, fosse em que desporto fosse.”
Ultrapassar cancro e lesão
Está claro que a vida de Carmo Santos sempre foi activa. Sem vícios, sem maus hábitos alimentares e sempre em movimento. Um cancro no intestino delgado fez-lhe uma rasteira, em 2020. Viu-se obrigada a abrandar e só terminou a quimioterapia em 2023. Mas, não parou. Adaptou o seu jogo às condições que tinha. Aprendeu a fazer bolas longas, bolas cruzadas e alongadas. Queria fazer ponto o mais rápido possível para evitar o cansaço.
Ultrapassado o cancro, seguiu-se, há cerca de um ano, uma rotura da coifa dos rotadores. Impossibilitada de fazer o serviço por cima, fê-lo por baixo e chegou à final do campeonato nacional. O médico tinha recomendado repouso durante um ano, mas bastaram seis meses para Carmo Santos regressar aos treinos. “Se não estive parada durante um ano com o cancro, ia estar parada com uma operação ao ombro? Nem pensar”.
Com 67 anos admite que está em forma. “É um prazer imenso e vou, se tiver saúde, jogar até aos 99 anos”. Este ano, já tem viagem marcada para Miami, porque vai ser, novamente, capitã da selecção nacional de +65, um “orgulho” que não se cansa de mencionar.
Assume este papel desde 2021, quando ainda tentava vencer a disputa contra o cancro. “O ténis foi uma tábua de salvação”, repete. Desde que é capitã, a selecção tem conseguido os melhores resultados de sempre e em 2024, os veteranos alcançaram o 7.º lugar, entre 23 equipas. “Algumas selecções são impossíveis para nós. Mas estamos sempre presentes e levamos mais alto a nossa bandeira. Somos sempre uma selecção simpática”, reconhece.