Nesta que está a ser a semana do amor, fomos ao encontro de casais para quem o desporto foi e é o seu São Valentim, o seu santo casamenteiro, o seu guru matrimonial e uma inspiração para a vida a dois.
Unidos pelo desporto, acreditam que é mais fácil gerir uma relação quando ambos conhecem as exigências de ser atleta, dos sacrifícios que isso implica, de manter a motivação e, também, a importância de ter ao lado alguém que diz “não desistas” ou “força tu consegues”.
Admitem que muita dessa força, de espírito de sacrifício, de trabalho de equipa e motivação a que estão habituados do desporto, serve muitas vezes para dar resposta aos restantes desafios do dia-a-dia, da vida de casal.
São relações à prova de muitas ausências, que às vezes calham no dia dos namorados, num aniversário importante e em muitos finais de dia em que o outro não está, simplesmente para jantar ou ver um filme.
Encaram com profissionalismo a sua vida desportiva, não como um hobby que se faz só quando se tem tempo livre ou apetece, algo que acreditam que só quem é do desporto entende verdadeiramente.
Família e Andebol é paixão ao quadrado
Dina Domingues e Diogo Guerra são dos casais mais acarinhados do andebol, em Leiria. Dois atletas admirados pela entrega e paixão que sempre dedicaram ao desporto. A mesma paixão que acabaram por encontrar um no outro e que “sem o andebol muito provavelmente não teria acontecido”, reconhecem.
Unidos pela modalidade com a ajuda das muitas ocasiões de encontro entre vida de pavilhão e convívios de equipas que marcaram a sua adolescência e juventude, quis o destino que ela viesse a chamar sogro ao primeiro treinador que teve aos 15 anos, quando veio do Mirense para a Juventude do Lis (JUVE).
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Não foi amor à primeira vista. “Durante uns dois anos” circularam, “na bolha do andebol”, pelos mesmos convívios, os mesmos lugares e eventos, fizeram “muitos amigos em comum” e ele acabou por interessar- se por ela que, na altura, “não queria saber de namoros”.
Ele é cinco anos mais velho, estudava em Lisboa quando ela estava em Leiria e quando regressou a casa ela foi estudar para Coimbra, o que dificultou a vida ao jovem enamorado que, mesmo assim, não desistiu.
“Dei-lhe alguns nãos, mas depois acabei por ser eu a ir atrás”, reconhece Dina. Por causa disso não têm data oficial de início de namoro, mas ainda se lembram que os primeiros beijos foram trocados a ver os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
E mais uma vez, sem querer, lá estava o desporto a dar um empurrão ao casalinho que já conta 13 anos ao serviço de um amor que entretanto deu frutos, uma filha de 17 meses que também já pega na bola e sabe bem o que é “golo”.
“Em muitas outras coisas, temos gostos bastante diferentes. O andebol e o desporto em geral, foi sempre uma coisa que nos uniu”, adianta Diogo que, além de jogador de andebol, dos 5 aos 33 anos, é treinador desde os 21.
“É mais fácil para um casal do desporto entender os sacrifícios e as ausências normais de um atleta ou treinador”, refere.
E Dina, que aos 25 anos trocou o andebol pelo frisbee, reforça: “por mais que às vezes apeteça, é impensável dizer ao outro não vás, fica em casa. Isto não é um hobby,é um compromisso sério que pessoas que não têm ligação ao desporto tendem a não perceber”.
A união faz (literalmente) a força
Unidos pela força, no bom sentido é claro, assim estão Etelvina Neves e Filipe Simões há 8 anos.
Numa relação que se torna mais sólida a cada conquista, a cada objectivo que alcançam juntos, porque as vitórias de um são também do outro.
É assim que o casal, ambos atletas de alta competição em powerlifting, vive esta relação, diga-se, “bem musculada”.
Quando se conheceram, com um empurrãozinho de um amigo em comum, apenas Filipe praticava a modalidade. Ela fazia ginásio “apenas com propósito estético de bem-estar”. Não podia imaginar que viria a ser recordista na categoria de deadlift.
Foi Filipe que a incentivou a experimentar e que até hoje é a sua voz motivadora. Filipe não estava habituado a namoradas que se interessassem em ir ver as suas competições.
Etelvina “mostrou sempre vontade” de o acompanhar. Viajaram bastante à conta disso e hoje dizem, sem dúvidas, que “o desporto fortaleceu a relação”. “Ajuda muito o facto de treinarmos juntos, de estabelecermos objectivos um para o outro e de nos desafiarmos e motivarmos mutuamente para os alcançar”, conta Etelvina.
Filipe reconhece que “este ponto em comum tem muita influência para a relação funcionar”. Um modelo que dizem usar “também nos restantes desafios da vida a dois”.
Ao contrário do que possa parecer, não são um casal de durões. Ambos se dizem pessoas relativamente tímidas, embora ele reconheça que “ela é mais romântica” e ela veja nele uma pessoa “de muita força física mas também de espírito”.
Filipe ressalva ainda os dotes de Etelvina como cozinheira, mas também diz que a mulher é bom garfo e lamenta, em tom de brincadeira, que do prato dela nunca sobre nada quando vão a restaurantes.
Ronda a ronda, no ténis e na vida É por etapas que se escreve a vida a dois dos tenistas André Lopes e Ekaterina Lopes, ou Katia como é mais conhecida.
Há 12 anos juntos, deixaram de competir cedo por causa de lesões.
Ela aos 26, ele aos 23. Agora são ambos treinadores e dirigem o Racket Sports Club Leiria (no antigo CITL), “um projecto a dois” onde “além da prática do ténis” valorizam e promovem “as relações e a socialização entre todos no clube”.
Se foi coisa do destino ninguém sabe, mas o primeiro encontro aconteceu num torneio em Veneza e um ano depois de se ter mudado para Leiria, a virtuosa jogadora russa já despertava nele um interesse que não era meramente desportivo.
André chegou a ser treinador de Katia, período em que fortaleceram laços, “na altura apenas como treinador e atleta”, asseguram.
“Sempre nos entendemos muito bem, dentro e fora de campo”, afirma Katia que, por isso, não ficou surpresa quando ele deu o primeiro passo.
Neste Dia dos Namorados ela estava em Leiria e ele no Porto, a acompanhar um atleta, e a prenda deste São Valentim acabou por sair naturalmente, numa série de elogios espontâneos e declarações de amor que André acabou por fazer durante esta entrevista.
“Sinto-me um felizardo por o desporto me ter dado a oportunidade de a conhecer e de a ter na minha vida”, frase que valeu um sorriso dela que, claramente, não fosse a distância e talvez a minha presença, teria dado direito a beijo.
“Ele é muito romântico” reagiu Katia que, em Julho, dará à luz Victoria, irmã de Tomás de quase 5 anos, tenista em construção, é claro, que nasceu no Qatar, num período em que Katia acompanhou André, num desafio profissional como treinador naquele país do Médio Oriente.
Momentos como a vitória de Katia em Roland Garros que lhe garantiu a passagem à fase de qualificação ou quando ganhou à ex-número um do Mundo, Jelena Jankovic, marcam a história do casal e que ela afirma ter sido “um prazer enorme ter o André por perto na altura”.
“Somos muito felizes a fazer o que fazemos”, diz a tenista.
“Continuar a construir sonhos e projectos juntos” é o desejo dos dois que não imaginam o futuro sem ténis, mas ambicionam “abrandar e ter vidas um pouco mais tranquilas”, com mais tempo para estarem juntos e desfrutar da família que estão a construir.