Um casal da Marinha Grande adoptou centenas de cães e de gatos, nos últimos anos, através de associações de defesa dos animais, das redes sociais e do OLX, mas ninguém sabe onde se encontram. A atitude suspeita de A. A. e de P. A., que vivem com um filho de 8 anos, levou diversas pessoas a participarem o caso à PSP, que remeteu o processo para o Ministério Público. O casal não trabalha, mas almoça num restaurante todos os dias.
O clima vivido entre associações de animais e entre voluntários é de angústia. Preocupados com o bem-estar dos cães e dos gatos entregues ao casal, colocaram o seu nome numa lista negra de adoptantes. Contudo, para não ser identificada, A. A. cria perfis falsos no Facebook.
“Bem-falante”, utiliza expressões como “princesa” ou “fofinha”, quando se refere aos animais. Os problemas surgem mais tarde, quando as pessoas manifestam interesse em saber como estão. A. A. deixa de responder e bloqueia-as no Facebook.
Este foi o caso de uma veterinária, que fez uma denúncia à PSP, onde reproduz as conversas que manteve com A. A., a quem entregou um gatinho. O acordado foi encontrarem-se quando o animal tivesse mais peso, para ser desparasitado e vacinado gratuitamente, o que não chegou a acontecer, porque A. A. deixou de lhe responder às tentativas de contacto.
Os sucessivos adiamentos para se encontrarem levantou suspeitas à veterinária, sobretudo quando pediu a A. A. para lhe enviar fotografias do gatinho e constatou que não era o mesmo. A confirmação de que alguma coisa não batia certo deu-se quando a veterinária lhe mandou uma mensagem e recebeu como [LER_MAIS] resposta: “Estou disponível a partir das 17.00! A gatinha dá-se com crianças? Que come e onde dorme? Qual o seu nome para pôr nos meus contactos?”
“Algo de muito terrível acontece”
A Associação Protectora de Animais da Marinha Grande (APAMG) também apresentou queixa contra o casal à PSP, em Julho. “Só no primeiro trimestre de 2019 terão adoptado mais de 50 animais, mas não são vistos a passear com nenhum na rua”, denuncia. “Parece-nos demasiado evidente que algo ali de muito terrível acontece.” “Desaparecem como? Caem pela janela? Eles têm de lhes fazer algum mal”, teme um elemento da APAMG.
“Acreditamos que uma maior vigilância e fiscalização por parte das autoridades intimidaria estes adoptantes e, por medo de sanções, acabariam com estas práticas”, lê-se noutro email enviado à polícia.
“Se fossem abandonados, eram vistos na rua”, argumenta outra voluntária da APAMG. “Sabemos que já fizeram centenas de adopções”, confirma um elemento da Associação Zoófila Casa Esperanza Focinhos, que manifesta preocupação com o paradeiro dos animais e com o filho de A. A. e de P. A..
“Eles têm um distúrbio qualquer. Precisam de ajuda. As autoridades deviam actuar rapidamente. Se não o fazem pelos animais, que o façam pela criança, que está a crescer naquele ambiente.”
A Desprotegidos – Associação de Animais em Risco também foi procurada pelo casal, mas como sabia que estavam na lista de maus adoptantes, disse que não tinham animais disponíveis. “Quando as pessoas vêm com toda a gentileza do mundo, a dizer que têm todas as condições e com muitas explicações, desconfiamos”, explica. “Quando damos animais, entregamos sempre em casa, para vermos as condições, e esterilizados, para impedir a criação. Tudo roda à volta do dinheiro.”
A PSP de Leiria encaminhou o processo para o Ministério Público, que confirma a existência de um inquérito e diz que o caso está em investigação. O JORNAL DE LEIRIA contactou ainda A. A. por telemóvel, mas o número já não estava atribuído.