Preto, encarnado e verde. São estas as cores do tradicional barrete que apenas se fabrica em Castanheira de Pera e numa única empresa.
Entre a produção de peúgas e de artigos têxtil tradicionais, a oficina de José Augusto Tavares (Jotav) mantém em laboração um tear circular, já centenário, onde é preparada a lã para a execução dos barretes.
Mas, nos últimos dois anos, o equipamento esteve praticamente parado por falta de encomendas. A ‘culpa’ é, em grande parte, da pandemia, que travou a actividade de ranchos folclóricos e de grupos de forcados, os principais clientes dos barretes.
Ora, é precisamente para assegurar que a tradição se preserva que a Câmara de Castanheira de Pera quer que o fabrico do barrete de lã, ligado à história recente do concelho, seja incluído no inventário nacional de património imaterial.
A par desta classificação, cujo processo está agora a ser iniciado e que “demorará tempo”, a autarquia pretende criar o Museu do Barrete, a instalar numa antiga fábrica localizada na aldeia de Sarnadas.
António Henriques, presidente do município, explica que o objectivo passa por recuperar o edifício, que é propriedade da autarquia e que precisa de “intervenção urgente”.
Por outro lado, pretende-se aproveitar a maquinaria existente no local, também património municipal, para criar um espaço que “preserve a memória” do passado recente do concelho e, desta forma, ter mais “um produto turístico para oferecer aos visitantes”.
José Augusto Tavares, proprietário da Jotav, vê com bons olhos a iniciativa do município. “Será uma forma de contar a história de uma tradição que tende a acabar”, diz o empresário, contando que, nos dois últimos anos, “não se venderam barretes”, porque “praticamente não houve eventos e a actividade dos ranchos folclóricos e dos forcados esteve parada”.
Longe vão os tempos em que havia em Castanheira de Pera fábricas que se dedicavam exclusivamente à produção de barretes, além de outras empresas que também faziam essa confecção “como complemento aos tecidos”.
O próprio José Tavares, antes de se ligar à Jotav, teve sociedade numa unidade têxtil que apenas fazia barretes e que empregava “uma dúzia” de pessoas.
“Há 50 e 60 anos, grande[LER_MAIS] parte dos homens portugueses usava barrete. Os pescadores, os agricultores, os campinos. A procura era grande. Agora, é um mercado muito específico”, diz o empresário, de 58 anos, que está à frente da Jotav há quase quatro décadas.
Mais do que um negócio que há muito “deixou de ser rentável”, a produção de barretes é, sobretudo, uma forma de preservar “uma memória viva” do que resta da outrora pujante indústria de lanifícios em Castanheira de Pera.
“Se pararmos o tear de vez, quem ainda procura este produto pode sempre comprar importado, mas a tradição perde-se.”
Existem três tipos de barretes: o preto, o encarnado com borda preta e o verde com faixa vermelha. O primeiro era, noutros tempos, utilizado por camponeses e por pescadores e hoje baila nos trajes dos ranchos folclóricos.
O segundo fazia parte da vestimenta do “capataz que dirigia os trabalhos dos campos e assim se distinguia de outros camponeses e jornaleiros de barrete preto”, refere uma informação da Câmara da Castanheira de Pera.
O verde com borda vermelho é parte integrante do fato de campino da lezíria ribatejana, tornando-se símbolo dos grupos de forcados e da tauromaquia.