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Home Opinião

Catorze Vezes Nada

António Ginja, arqueólogo e historiador da arte por António Ginja, arqueólogo e historiador da arte
Dezembro 8, 2020
em Opinião
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Fugia de um monstro que ameaçava devorá-la. Olhou para baixo e viu que carregava ao colo um peso tremendo, feito de culpa e temor. Pediu ajuda. Mas à sua volta o mundo estava desfocado e os outros não tinham rosto. Pediu ajuda. Ninguém a ouvia.

Foi paralisada por uma centena de mãos que lhe fincavam as unhas no corpo. Pediu ajuda. Estava presa, completamente dominada. Chorou por ajuda. Queria fugir, mas corria em círculos, como se o fim do seu sofrimento fosse o princípio do seu martírio. Sentiu-se encolher, diminuir, desaparecer. Suplicou por ajuda, mas ninguém a ouvia.

Puta! Nojenta! Inútil! Berrava-lhe o monstro aos ouvidos. A humilhação feria, queimava como ferros em brasa. Gritou por socorro. Doía-lhe. Sentia o ar escassear-lhe nos pulmões. Implorou por misericórdia, mas ninguém a ouvia.

Sob um coro de risos e de injúrias, foi atirada à lama. Pediu ajuda. Como se lhe rasgassem a carne, caíram-lhe no rosto as bofeteadas. Pediu, rogou por ajuda.
Desviou o olhar e a vida em direção à sarjeta em que se encontrava, mas pela senda daquele cano abjecto escorria imparável o sangue inocente de outras mulheres. Chorou por ajuda, mas ninguém a ouvia.

Correu de desconhecido em desconhecido. Ajudem-me, pediu. Viu-lhes nos rostos a esmagadora imensidão das promessas inúteis, da piedade vã e do imprestável compadecimento. À dor e ao sangue acrescentaram-lhe a vergonha e o estigma. Pediu ajuda.

Ricardo Graça

Dou-te um tiro! Corto-te o pescoço! Acabo contigo! Uma maré de ameaças subia, subia. Já lhe chegava ao rosto, já lhe cobria a boca. Afogava-se. Suplicou que a salvassem, mas ninguém a ouvia.

Foi arrastada pelos cabelos, esfolando as mãos e a esperança no cru asfalto da inclemência. Percebeu que a choravam como a um defunto. Ia morrer. Sabia que ia
morrer. O brilho da lâmina bailou na sua frente. Chegou-lhe ao pescoço o toque gelado do metal. Sentiu que lhe fendiam a pele.

Acordou, tremendo. Ainda em transe, recordou o sonho. Pedira ajuda treze vezes. A escuridão da noite dava lugar aos primeiros raios da manhã. A claridade obrigava as sombras à remissão, revelando os contornos do seu corpo, da sua casa, do seu mundo.

De repente, viu o monstro.

Pediu ajuda uma última vez, mas ninguém a ouviu.

Etiquetas: António GinjaViver
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