Tinha um texto pronto, mas às 13:00 horas de quarta-feira, com a redacção do Jornal de Leiria a fechar a edição e, como sempre, à minha espera (desculpem!), decidi apagá-lo. Tinha uma nota prévia em que dizia que o La Féria não merece sequer uma linha de indignação por motivos óbvios e partia daí para falar da magnífica programação do Hádoc e do A Porta.
Nada que vocês não saibam já. Só que, entretanto, como quase todos os dias, aconteceu Internet. E enervei-me. Enerva-me a Internet. As caixas de comentários, entenda-se. Cada vez mais. E cada vez mais, para além de me enervar, cria-me sentimentos que não quero ter.
Não quero que a primeira coisa que me apeteça fazer de cada vez que o meu trabalho e o dos meus colegas é insultado gratuitamente por um qualquer mentecapto atrás de um teclado, seja bani-lo.
Precisamente aquilo que o dito mentecapto e os seus comparsas querem. Vitimizarem-se a coberto da tão por estes dias vilipendiada liberdade de expressão. Criou-se na cabeça de muita gente a ideia de que podem dizer tudo o que bem lhes aprouver, sem que haja reacções ou consequências.
Mas, o que se passa nas redes sociais não é discussão de pontos de vista, nem muito menos liberdade de expressão. É tão somente canalhice e ódio. E se respondes, ou melhor, se um órgão de comunicação responde, lá vem a conversa da falta de profissionalismo, da parcialidade (como se um jornalista ou um meio de comunicação tivesse obrigatoriamente de ser imparcial, uma falácia que, de tanto ser repetida se crê verdadeira), da injúria pura e dura. Um jornalista ou um meio de comunicação tem, isso sim, de ser honesto. Ponto.
[LER_MAIS] E lidar com a desonestidade constante, não só é penoso e desgastante, como acaba por criar em nós um sentimento que, quando posto em prática, é imediatamente tomado pelo “outro lado” como censura. Censura, pá! Sabe lá esta gente o que é censura. Sabe lá esta gente o que é uma notícia, um artigo de opinião, uma crónica, uma análise, um documentário… Só lhes interessa uma coisa: odiar.
É possível que já o tenha dito por aqui, porque não me canso de o repetir, mas a culpa é nossa, que deixámos que isto chegasse a este ponto ao não mediarmos as caixas de comentários, ao não distinguirmos a liberdade de expressão, do insulto, do incitamento ao ódio, do vazio absoluto. Tudo em troca do engagement, do “quanto mais gente escrever melhor, porque é isso que conta”.
Agora, quando muitos já começam a perceber que o que conta é a qualidade e o conteúdo da conversação e não a quantidade, ainda estaremos a tempo de acabar com esta miséria? Duvido.
*Editor-in-chief da Vice Portugal