São seis da manhã e sentada à minha mesa de trabalho, observo os meus livros de educação que repousam na estante e ainda os sinto a iniciarem o dia comigo.
Como professora, devo-lhes quase tudo o que de bom nesta profissão me aconteceu. Chegada da faculdade com um ensinamento precioso, o de sentir, perante a imensidão do conhecimento, que eu nada sabia, construí-me uma aprendente humilde e foram os livros que me salvaram de me tornar uma professora crente na educação como um processo carente da domesticação de alunos e por isso, amarga e zangada pela impossibilidade de conseguir tal coisa.
Através deles, descobri o encantamento que é viajar com cada criança rumo ao aprender com significado.
Um após outro, eles foram-me desafiando a compreender, o complexo processo de aprendizagem, a começar pela questão da predisposição de cada um para aprender. Como provocá-la?
Como levar cada criança a entender como relevante o conhecimento que queremos que construa?
Lembrei-me de trazer aqui estas preocupações, ligadas ao ensino e à aprendizagem, ao ler escritos no Facebook e artigos em jornais de autores que se revelam sempre hipercríticos perante algo construído do lado de fora de si.
Fui procurar no livro, Para Além do Bem e do Mal, de Friedrich Nietzsche, as minhas notas e lá recordei que ele dizia, segundo a minha interpretação, ser ingénuo para a evolução do conhecimento medir o valor das coisas conforme o prazer e a dor do observador, conforme os seus estados de alma, [LER_MAIS] conforme os seus medos e neste aspeto, eu concordo com ele!
Já nos meus livros de Educação aprendi que a probabilidade de me vir a considerar parceira de alguém num processo comum de aprendizagem aumenta imenso se, em vez de optar pela crítica constante, pura e dura, eu iniciar essa relação pelo elogio do que é bem feito.
Aliás, esse elogio, considerado como uma habilidade social, provoca nos outros, dizem os meus livros, o sentimento de pertença a um grupo, aumenta a produtividade das pessoas e das organizações, promove mudanças comportamentais pessoais e profissionais e apesar de ter todas estas vantagens sobre a critica constante, é tão gratuito como ela.
Duma forma pragmática, observei a verdade de todas estas considerações e é por isso, que dou comigo a desinteressar-me por aprender algo com aqueles que apenas me querem ensinar através das críticas que, permanentemente, fazem ao trabalho dos outros.
E nem de propósito: soube agora que o Centro Hospitalar de Leiria acaba de ver a qualidade dos seus serviços e da segurança dos utentes reacreditadas pela Joint Commission International; que o auditor elogiou o empenho comprometido dos profissionais do CHL, no que é feito “estoicamente” em Leiria.
Satisfeita por este reconhecimento ser a um serviço público, sinto a vontade de elogiar o CHL e depois, depois olho para o meus livros queridos e segredo-lhes: obrigada por me terem ensinado a medir o valor das coisas pondo de parte os meus estados de alma; obrigada por me ensinarem a elogiar o que em si tem, para todos, um valor imenso.
Professora
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990