“Então, isto está bom?” “Sim, está bom.” “Agora que está bom, és tu que tens de mostrar o que vales”. Foi este o repto lançado por um responsável político a Paulo Reis, ainda treinador na Juventude Vidigalense, durante a inauguração do Centro Nacional de Lançamentos (CNL), em Leiria.
Duas décadas se passaram desde que Paulo Reis e os seus atletas receberam um espaço com condições de excelência para as disciplinas dos lançamentos, num período em que o atletismo da região passava dificuldades devido ao Euro 2004. “Quando iniciaram as obras no estádio, deixámos de ter possibilidade de lá treinar. Foi uma complicação porque já tínhamos mais de 200 praticantes”, lembra o responsável, que foi um dos impulsionadores do espaço desportivo.
Em 2003, a Marinha Grande recebeu os praticantes da corrida, mas os lançadores ficaram de fora e foi necessário arranjar uma solução para um grupo de atletas que já fervilhava e só pensava nas medalhas, onde se incluía Vânia Silva, lançadora do martelo numa posição favorável para ir aos Jogos Olímpicos de 2004, o que acabou por acontecer. “Criou-se uma instalação muito provisória neste local, onde havia umas lajes de cimento, um edifício de chapa, uma casa de banho amovível e uma pequena arrecadação”, recorda, minutos antes de dar início ao treino com Auriol Dongmo.
Após o Euro 2004, Leiria recebeu o Campeonato da Europa de Equipas de atletismo e surgiu a necessidade de ter uma pista de aquecimento, que obrigou a obras naquele espaço improvisado. “O objectivo não era criar um centro nacional de lançamentos, era arranjar uma solução para o problema da pista de aquecimento para o Campeonato da Europa de Equipas e ter um local onde os atletas de Leiria pudessem treinar.”
Uniu-se o útil ao agradável e, em 2005, era inaugurado o CNL, uma estrutura que “colocou Leiria no mapa” do atletismo internacional.
Aquele relvado junto à Ponte do Euro tornou-se num palco de campeões e, em 20 anos, já recebeu os nomes mais sonantes do lançamento do disco, peso, martelo e dardo. Vânia Silva, Vítor Costa, Eduardo Albuquerque, Irina Rodrigues, Liliana Cá, Tsanko Arnaudov, Eliana Bandeira, Jéssica Inchude, Auriol Dongmo e Francisco Belo são apenas alguns daqueles que usufruíram e continuam a usufruir das particularidades do CNL que, 20 anos depois, continua a ser uma das melhores estruturas no País para os lançamentos.
Ao longo dos anos, o espaço sofreu melhorias e desde 2013 que é gerido pela Juventude Vidigalense. As duas gaiolas de lançamento passaram a três, e uma delas foi especialmente concebida para atletas canhotos, como era o caso de Paulo Bernardo, antigo recordista nacional do lançamento do disco, que precisava de ventos vindos do lado esquerdo para melhorar a exibição.
Um ginásio, um bar, balneários e espaços para arrumos completam o complexo desportivo, que já começa a ter as suas limitações, especialmente quando o Estádio Dr. Magalhães Pessoa fica interdito aos atletas.
“Quando o estádio municipal fecha e é impossível os atletas irem lá treinar, esta instalação fica caótica. Infelizmente, há cada vez mais períodos alargados em que o estádio não está disponível e isso cria um transtorno enorme aos atletas, implica que eles tenham de vir para aqui. Não dá para meter aqui tanta gente. O ginásio é pequeno, os balneários até chegam, mas as zonas de tartan também são pequenas e depois há necessidades de fazer saltos em altura, com vara, e as condições não são as mínimas”, lamenta o treinador, que hoje olha “com orgulho” para este espaço “de referência” conhecido em todo o Mundo. Vinte anos depois, assegura que cumpriu com o repto lançado.
Falta cobertura
“Somos gratos pelo que temos, isto marcou a diferença e continua a marcar, mas para outro nível competitivo era preciso haver alguns melhoramentos”, afirma o especialista, ao referir-se a uma cobertura que permitisse a realização de treinos em dias de chuva.
Aliás, Paulo Reis acredita que caso a cobertura existisse, Auriol Dongmo tinha estado nos Jogos Olímpicos de Paris. “Ela já partiu um pé a lançar aqui com um círculo húmido, não vou pô-la a lançar outra vez nestas condições.” A solução é fazer cerca de 60 quilómetros para treinar no Expocentro, em Pombal, em dias de chuva.
“Há 20 anos, achávamos que isto era o supra-sumo das instalações de treino, mas depois vamos conhecendo o mundo e percebendo as limitações que temos. Como não queremos competir a nível regional ou nacional, percebemos que, nas condições de treino, estamos desequilibrados”, constatou o treinador.