“O concelho de Porto de Mós precisa de uma melhora significativa nas comunicações móveis e de fibra óptica”, admitiu, numa visita ao concelho, o presidente da Autoridade Nacional das Comunicações (ANACOM), João Cadete de Matos, na quarta-feira, dia 1 de Julho, durante a sessão de apresentação de um estudo detalhado da qualidade de serviço das comunicações móveis, realizado na semana passada.
Toda a freguesia de São Bento, parte das de Mira de Aire, Juncal e Alqueidão da Serra e da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga, estão assinaladas com graves deficiências de acesso a comunicações.
Mesmo assim, por exemplo, a Meo/Altice, em resposta ao JORNAL DE LEIRIA sobre este assunto, invocou uma cobertura de dados móveis de “quase 100% no município”.
Com este estudo na mão, numa reunião agendada para o dia 8, com a Meo/Altice, o presidente da Câmara de Porto de Mós, Jorge Vala, pretende analisar com o operador o plano de investimentos para 2021.
“Vamos apelar ao sentido de responsabilidade social e serviço público, para anteciparem os investimentos das contrapartidas do leilão de licenças para o 5G, sobretudo em relação aos 105 alunos que, de forma alguma, conseguem ter acesso às aulas em casa.”
“A situação precisa de ser resolvida para a população jovem estudantil que está a ser discriminada no acesso ao ensino, e para o desenvolvimento económico e fixação de empresas”, afirmou Cadete de Matos, que acredita que o cenário poderá mudar, com a ajuda da ANACOM.
“Nós, na autoridade reguladora, queremos que a atribuição de licenças de 5G e 4G, facilite contrapartidas de investimento [em telecomunicações]. Está em consulta pública um projecto que visa melhorar a cobertura do País.”
São Bento é a única freguesia de baixa densidade populacional do concelho e o presidente da ANACOM confirmou o que está escrito na consulta pública no leilão das licenças de 5G: “é uma freguesia que tem de ser coberta através das contrapartidas previstas no regulamento deste concurso”, o que poderá indicar que este poderá ser um dos primeiros territórios com cobertura desta nova tecnologia.
“A cobertura rádio apresenta grande variabilidade, tendo sido observados níveis de sinal de muito boa ou boa qualidade, mas outros que ficaram abaixo dos parâmetros adequados”, refere o documento, salientando que, globalmente e analisando a oferta dos três operadores presentes no mercado nacional, o “serviço de voz apresenta fraco desempenho” e o serviço de dados tem “muito fraca capacidade”, conclusões em linha com as queixas da população, em especial a da maior freguesia do concelho, São Bento.
Seiça com falhas há uma década
Seiça, no concelho de Ourém, queixa-se da “deficiente” cobertura de telecomunicações, que, segundo o presidente da Junta, Custódio Henriques, apresentam “falhas constantes desde 2010”.
“Ao longo dos anos, têm vindo técnicos ao local, mas a solução tarda em chegar. Isto já dura há tempo de mais”, desabafou e apontou vários exemplos dos constrangimentos que a situação provoca: a “quebra de rendimento” dos alunos em ensino à distância, prejuízos para as empresas e dificuldades para a Junta, que “não consegue responder a pedidos”, nomeadamente de cartografia através do Sistema de Informação Geográfica.
Roaming no PNSAC
“Também iremos promover reuniões com as restantes operadoras, a quem irei propor um serviço de roaming, para o território dentro do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), para que os visitantes, sendo clientes de qualquer operadora, terem acesso à rede de comunicações” [LER_MAIS]anunciou ainda Jorge Vala.
Já João Cadete de Matos sublinhou que será mais fácil ao município abordar as operadoras, de modo a criar soluções para os territórios sem cobertura de telecomunicações, com o auxílio deste relatório.
O responsável reconhece que, para os operadores, as zonas de baixa densidade populacional, como a freguesia de São Bento, serão “menos lucrativas” e, como tal, não estarão interessadas em criar infraestruturas para servir a população.
Os números
53 2924 medições
Para diminuir encargos na criação de infra-estruturas, avança a partilha de equipamentos por parte dos operadores. “Nas zonas de baixa densidade, não é necessário que todos os operadores façam investimento.”
Se os esforços com os actuais operadores falharem, o presidente da ANACOM acredita que os novos operadores que irão entrar no mercado, com o advento do 5G, poderão dar uma resposta.
“Este é também um desafio que pode ser colocado às empresas grossistas. Temo-las visto dar resposta onde as retalhistas não dão. Nas zonas onde não há fibra óptica, será bem-vindo um operador grossista. Todos são bem-vindos!”