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A Ana, o David, o João, a Andreia e todos os outros utentes da Cooperativa de Ensino e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Pombal têm este ano duas boas razões para festejar. Além de celebrar 40 anos de actividade, a Cercipom encontra finalmente resposta para uma das suas maiores necessidades. A Câmara Municipal de Pombal adquiriu um imóvel na Zona Industrial da Formiga, para onde será transferido o Centro de Formação Profissional da Cercipom, que tem funcionado em instalações “provisórias” desde que foi criado, em 1990, na Rua da Fábrica Velha.
Manuel Santos, presidente de direcção da Cercipom, sublinha a importância deste Centro de Formação, que ao longo dos anos tem proporcionado a integração de muitos utentes no mercado de trabalho. Reconhece que a oferta formativa se foi multiplicando e que as actuais instalações são “manifestamente insuficientes” para o trabalho ali desenvolvido. É por isso com “satisfação” que recebe a notícia de que irá contar com um novo Centro de Formação Profissional, que gostaria que passasse a funcionar “até ao final do próximo ano”.
Ana Isabel Gomes tem 43 anos e um peito inflamado de sonhos que quer cumprir. Por ela e pelas duas filhas menores. Frequenta com empenho o curso de carpintaria da Cercipom e é uma das formandas mais motivadas. Desempenhou tarefas de limpeza, laborou no campo, também colaborou nalgumas empresas, mas sempre em empregos temporários. Está agora determinada em completar o curso, que lhe dará o 9.º ano com certificação profissional, e ambiciona conseguir emprego “na Câmara ou numa Junta”, e que seja “uma coisa para durar e para valer”.
Ambicioso é também David Martins, de 18 anos, recém-chegado ao curso de serralharia, que quer sair do centro de formação da Cercipom com o 9.º ano e uma certificação profissional que seja o trampolim para um outro curso, o de manobrador de máquinas, que por sua vez lhe permita chegar à profissão de motorista de pesados. Para já, está muito satisfeito com tudo o que tem aprendido nas aulas de Cidadania, que o introduzem aos os deveres, aos direitos e “até ensina como ler um contrato de trabalho”.
Dividido entre música, jogos e car-pintaria está João Veloso, de 21 anos, que acedeu às recomendações da família e decidiu aprender como se tratam as madeiras no Centro de Formação Profissional da Cercipom. Depois de ter trabalhado no ramo da pintura, mas sem contrato, esta é a oportunidade de aumentar competências e procurar um emprego mais estável.
Mais convicta do seu futuro está Andreia Francisco, de 19 anos, que frequenta o curso de Serviços Gerais. Já aprendeu a passar a ferro, a costurar e a cozinhar, e é num restaurante que ambiciona trabalhar. Já sabe confeccionar lombo com castanhas, amassar broas e entretanto foi usufruindo de outras maravilhas que o Centro de Formação lhe proporcionou. As férias gozadas numa colónia são uma memória que não esquece.
Estes são apenas alguns dos inúmeros formandos que ao longo do tempo o centro de formação tem vindo a preparar, seja para os desafios mais triviais da vida, seja para as realidades mais complexas do mercado laboral, explicam Preciosa Santos, directora-geral da Cercipom, e Alexandra Capitão, coordenadora do Centro de Formação. Muitas vezes é necessário começar por trabalhar até os hábitos mais básicos de higiene, outras vezes, basta dotar os formandos de competências para executar determinado ofício.
O segredo do sucesso neste centro tem sido o trabalho desenvolvido através de pequenos grupos de formandos, o que permite adaptar a formação às diferentes necessidades de cada pessoa, expõem as responsáveis. Por vezes, basta um pequeno incentivo, outras vezes, é preciso voltar a frequentar a formação, explicam Preciosa Santos e Alexandra Capitão. Mas para ambas as técnicas, o saldo final tem sido positivo, a avaliar pela receptividade das empresas, que aceitam estagiários e os integram nos seus quadros, e pela motivação visível nos formandos.
Empresários agradavelmente surpreendidos
Pedro Gonçalves está entre o conjunto de empresários agradavelmente surpreendidos com o desempenho dos colaboradores formados na Cercipom. Começou por abrir a porta das suas empresas aos estagiários da Cercipom há cerde sete anos. Depois de estagiarem, os três formandos ficaram imediatamente integrados nos quadros das suas empresas. Um deles na EPW, os outros dois na Gosimac. “Desempenham funções fabris, de rigor, e são funcionários muito dedicados”, reconhece o empresário.
São pessoas a quem “temos de dar um carinho especial, tendo em conta as suas limitações”, mas que trabalham muito bem assim que encontram “a sua posição” na empresa, expõe Pedro Gonçalves.
A formação profissional da Cercipom destina-se a pessoas com deficiência e incapacidades, com idade igual ou superior a 18 anos. Actualmente, frequentam este centro de formação profissional 73 formandos, distribuídos pelos cursos de empregado de mesa, serviços gerais, serralheiro civil, operador de acabamentos de madeira e mobiliário, assistente familiar e de apoio à comunidade. Destes, 17 estão já em formação prática em contexto de trabalho.
Só no ano passado, 40 empresas e instituições receberam estagiários da Cercipom. Foram realizados 11 estágios de inserção, quatro contratos de emprego de inserção e dois formandos ficaram a trabalhar noutras empresas. Feitas as contas, depois da formação prática em contexto de trabalho, 42,5% dos formandos ficaram integrados nas empresas.
