O acesso às matérias primas necessárias para o fabrico de rações não tem sido problemático, mas o constante aumento dos preços é uma realidade com que os produtores têm de lidar.
A guerra na Ucrânia “está a ter um forte impacto no sector primário”, com os preços dos cereais a subir sucessivamente, devido ao aumento dos custos dos factores de produção, mas também à especulação, acredita Amália Duarte.
A administradora da Aviliz, grupo de Leiria que cria suínos, bovinos e aves, e produz rações, para consumo próprio e para exportar, nomeadamente para os PALOP, diz que os preços dos cereais subiram entre 30 a 40% desde o início da guerra.
Um cenário “muito complicado”, que terá impactos também para o consumidor, que irá pagar as carnes e as farinhas mais caras, aponta.
“Dificuldade de abastecimento de cereais não há, os preços é que são uma fortuna”, refere Uziel Carvalho, produtor de leite de Monte Redondo.
“Todas as semanas há aumentos de preços. Alguns cereais já duplicaram o preço, outros subiram entre 15 a 20%”, diz o empresário, para quem também estará a haver “algum aproveitamento da situação” por parte de alguns agentes.
“Há muitos produtores de leite e de carne em dificuldades, por falta de dinheiro. Alguns estarão bem próximos de estar falidos”, garante Uziel Carvalho.
Do risco de falências fala igualmente David Neves, presidente da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores.
“Desde que começou a guerra, os preços das rações aumentaram acima dos 30%”, diz, adiantando que a esta subida de custos se juntam os da electricidade, que em alguns casos aumentaram “acima dos 60%” e dos combustíveis.
Tudo isto “tem impactos directos na actividade”, fazendo com que os suinicultores enfrentem cada vez maiores dificuldades.
“É preciso haver falências em catadupa – e vão acontecer – para que o governo olhe para este sector”, lamenta o também presidente da Associação de Suinicultores de Leiria, distrito que vale 50% da produção nacional.
“Ainda em Novembro, portanto antes da guerra, alertámos o governo e pedimos medidas de apoio, não pedimos subsídios”, frisa David Neves.
Medidas que passariam pelo acesso ao crédito. “Mas o governo não é sensível ao sector primário, nem à produção de carne de porco, que é a que o país mais consome”, lamenta.
Nos últimos seis meses, o sector da suinicultura perdeu 57 milhões de euros.
“Não podemos continuar a abastecer o mercado a preços abaixo do preço de custo”, diz David Neves.
A situação do sector “já estava difícil antes da guerra”, com o conflito na Ucrânia “agravou-se”