Não esqueço a repugnância que sempre senti face aos opositores a esse movimento, onde se destacava o Ku Klux Klan, cujos membros, com os seus capuzes brancos, transpiravam ódio e impunham o terror, não apenas sobre os negros mas igualmente sobre todos os que apoiavam o movimento pelos direitos civis.
Pensava eu que no século XXI, e após um negro ter sido presidente dos Estados Unidos, não voltaria a ser confrontada com esse cenário de ódio e horror. Mas tal voltou a acontecer no dia 12 de Agosto de 2017 em Charlottesville, pequena cidade do Estado da Virgínia.
Com o pretexto de a Câmara ter decidido retirar de um parque da cidade a estátua de Robert E. Lee, general do exército confederado na Guerra da Secessão, considerado um símbolo da escravatura e do racismo, a extrema-direita, neonazis, defensores da chamada “supremacia branca” e membros do Ku Klux Klan vindos de vários pontos do pais convergiram para as ruas de Charlottesville.
Empunhando bandeiras que ostentavam símbolos nazis, alguns deles usando os capuzes brancos do K. K. K., munidos de paus e tochas, agrediram de forma violenta e selvática todos que se lhe opunham. E a violência atingiu tal intensidade que, num puro acto de terrorismo, um desses manifestantes atirou o veículo que conduzia para cima de um grupo de pessoas, causando intencionalmente a morte de uma mulher, Heather Heyer, e provocando 19 feridos.
[LER_MAIS] Como era de esperar Trump não tomou qualquer atitude de condenação efectiva do ocorrido, atribuindo despudoradamente a responsabilidade pela violência a ambos os lados do confronto. Assumiu uma posição ambígua e hipócrita, não tendo apontado os grupos da extrema direita como os verdadeiros culpados do que acontecera.
Esta atitude não é no entanto surpreendente, pois foi também com os votos e o apoio dessa gente que Donald Trump chegou a presidente dos Estados Unidos da América.No entanto, acontecimentos posteriores fazemnos ter a esperança que aqueles racistas e nazis não triunfarão.
Efectivamente, dias depois, em Boston, e em resposta à convocação feita por um grupo de extrema direita para uma concentração com vista a defender aquilo que designaram de “liberdade de expressão”, milhares de pessoas reuniram-se marcando posição contra a ideologia do racismo e do fascismo.
E isto enquanto a extrema direita apenas conseguiu reunir na aludida “concentração” uma escassa centena de pessoas. Mas também o “tweet” de Barack Obama publicado no dia 13 de Agosto no qual, citando Nelson Mandela, condenou os incidentes de Charlottesville se tornou a publicação no Twitter com mais “gostos” de sempre.
Estes factos surgem-me como um sinal de que os valores do humanismo e dos direitos humanos acabarão por prevalecer. Mas temos que estar atentos!
*Advogada