“No que toca à comida, contrastando com a sala [“sumptuosamente decorada”], o chef português Dárcio Henriques tem o bom-senso e a experiência suficientes para saber como se conter. Os seus pratos, inspirados na cozinha europeia, são confeccionados com os melhores produtos e ele, sabiamente, deixa que os sabores naturais dos ingredientes brilhem”.
As palavras constam do famoso Guia Michelin para o Reino Unido e referem-se à arte de Dárcio Henriques, natural de Pataias, Alcobaça, que acaba de conquistar a sua primeira estrela Michelin como chef do Celeste, restaurante inglês integrado no hotel The Lanesborough, em Londres.
A distinção aconteceu um ano após o chef ter assumido a liderança da cozinha do Celeste – que alcançou, este ano, a sua sexta estrela Michelin – e depois de Dárcio Henriques ter passado por outros espaços premiados pelo mais famoso guia gastronómico, incluindo o L’Atelier de Joël Robuchon em Paris, que, em 2014, quando este antigo aluno da Escola Profissional de Leiria ali trabalhou, estava no top 20 dos melhores restaurantes do mundo.
Ainda a digerir a “alegria” pela distinção agora alcançada, Dárcio Herinques assume ao JORNAL DE LEIRIA que “não foi fácil” aceitar uma estrela Michelin “sem nenhum chef famoso” e mais graduado a liderar a equipa, mas reconhece que “no final valeu a pena todo o esforço”.
“Hoje posso dizer que a estrela Michelin do Celeste para 2021 é do chef Dárcio Henriques e da sua equipa”, [LER_MAIS]diz, com indisfarçável orgulho e felicidade por ter conseguido atingir “o grande objectivo da carreira”.
Foi há cerca de três anos que Dárcio Henriques chegou à cozinha do Celeste – depois de passagens por Xangai e Paris –, então liderada por Eric Frechon, detentor de “três estrelas Michelin em Paris”, que, entretanto, saiu “por razões pessoais”.
No final de 2019, o chef português foi convidado a ficar no Celeste como head chef. “Vi-me numa situação arriscada, porque caso não conseguisse manter [a estrela Michelin] o meu nome ficaria marcado. Mas, se ficasse e ganhasse, a estrela seria para o meu nome.”
Consciente do risco e, ao mesmo tempo, da oportunidade, Dárcio Henriques abraçou o desafiou, apoiando-se também na equipa, que “já tinha experiência nas estrelas [Michelin] e sabia o que os inspectores procuravam”.
“Agarrei o projecto com muita vontade e coloquei em prática toda aprendizagem dos meus anos de experiência.” Estávamos em Novembro de 2019, ainda longe de imaginar o turbilhão que aí vinha, chamado Covid-19, que pôs à prova toda a ordem mundial, com a restauração a ser um dos sectores mais afectados pela pandemia.
“O ano de 2020 foi muito difícil”, assume o chef, sublinhando a dificuldade em manter um espaço deste género em contexto de pandemia, em constante “abre e fecha”. “Quando estávamos abertos, tínhamos sempre casa cheia. O staff era reduzido para conseguirmos manter o standart Michelin. Tínhamos de fazer 16 horas por dia, a correr. Foi muito duro para toda a equipa”, conta Dárcio Henriques, que na cozinha do Celeste, baseada em sabores europeus, procura “sempre dar um toque português”.
Não é, no entanto, de estranhar a apresentação de ingredientes mais típicos da gastronomia asiática ou árabe, influência do trabalho com chefs de “diferentes culturas” com os quais se tem cruzado ao longo da carreira. O mais recente Guia Michelin para o Reino Unido destaca do Celeste os escalopes com aipo-rábano e trufas e o tiramisu.
Formado na Escola Profissional de Leiria, onde tirou o curso de cozinha, Dárcio Henriques trabalhou nos restaurantes Muralhas, em Leiria, e Pérola do Fètal, na Batalha. Em 2013, decidiu fazer as malas, com destino a Paris. Durante meio ano, trabalhou no La Cantoche Paname, de onde saiu para a cozinha do emblemático L’ Atelier de Joël Robuchon Paris.
Em Fevereiro de 2015, embarcou para mais uma aventura internacional, rumando à China, na sequência de um convite feito a ele e à esposa para “a abertura do primeiro restaurante português em Xangai”, designado por Mar e Sol. No ano seguinte, mudou-se para Londres. Trabalhou dois anos como sous chef no L’Atelier de Joel Robuchon Londres, passando depois para o Celeste.