Durante muitos, muitos anos, e ainda numa época pré-internet, escrevi, entre outras coisas, críticas a discos aqui nas páginas do JORNAL DE LEIRIA.
Todas as semanas dissecava dois ou três álbuns de bandas dos mais variados estilos e géneros fora da esfera mainstream. Não que eu tivesse alguma coisa contra a música comercial, mas sobre essa já havia muita gente a escrever, e bem. E, claro, não sendo propriamente “a minha praia” evitava aventurar-me por aí.
Naquela altura, tal como hoje, tinha uma necessidade quase incontrolável de partilhar com os outros as minhas descobertas. E o tempo durava mais tempo que o tempo dura hoje.
Para isso muito contribuía a ausência do excesso de informações (e desinformações!) de agora.
Actualmente perdemos mais tempo a fazer scroll nas páginas das nossas redes sociais do que a ler ou a ouvir com atenção o que quer que seja.
Se tem mais do que cinco linhas é texto demasiado maçudo para que percamos tempo ali. Ouvimos discos no Spotify em regime de fast-forward, escutando apenas dez segundos de cada canção porque temos mais vinte álbuns para “escutar” nos próximos dez minutos!
Vivemos, pois, num frenesim de tudo querer [LER_MAIS] conhecer sem que conheçamos verdadeiramente o que quer que seja.
Estamos na era dos hashtags, no tempo das leituras e das escutas diagonais.
Tudo se resume a palavras-chave soltas e a pequenos excertos sonoros. Na escrita, quase que já nem é preciso aprender gramática porque as construções frásicas são coisas do passado. E é pena.
Vergámo-nos, decididamente, à ditadura do Twitter.
Limitar o número de caracteres a quem se expressa, apenas favorece a superficialidade da comunicação.
Suprimem-se adjectivos porque o adorno só estorva e há que ser conciso, não é?
E depois, claro, cai-se no ridículo, porque a ignorância não se combate lendo apenas as parangonas e os títulos nos jornais.
Há que ler o corpo da notícia porque se não o fizermos há sérias hipóteses de fazermos, no mínimo, figura de parvos.
E pior: de tomarmos decisões parvas como, por exemplo, votar em partidos como o Chega ou o Iniciativa Liberal. Agora pensem.
*Presidente da Fade In