Uma semana “cheia de surpresas”, “memorável”, com “ceias brutais que podem, ou não, ter chegado a incluir polvo à lagareiro de madrugada”. Mais de um mês após o laboratório de criação musical da Omnichord, Miguel Rolo ainda está sob o efeito da viagem, que quase parece um sonho “entusiasmante e divertido”, que é obrigatório partilhar. “Claro que recomendo o Omnilab a um amigo”, exclama. “Tive a oportunidade de conhecer malta muito fixe, de estar com músicos que adoro e de aprender mais do que consigo explicar”. Tudo de forma “totalmente livre e criativa”, realça. E sem custos para o utilizador.
De entre os instantes inesperados, o vocalista e guitarrista de Vieira de Leiria destaca o tema original “É o que é”, desenvolvido com Afonso Pedro, Francisco Cavadas, Martim Pereira e Simão Lopes, os outros participantes do Omnilab #5. “Porque, num combo como o nosso, com influências completamente distintas desde o black metal ao shoegaze e ao rock psicadélico, acabou por ser malha muito soft e com o seu quê de pop”.
O fundador da Omnichord, Hugo Ferreira, confirma que o Omnilab vem revelando uma geração com grande plasticidade: “Tem uma capacidade camaleónica de se cruzar e construir com pessoas completamente diferentes e com gostos completamente diferentes”.
Primeiro em português
Dias intensos, 24 horas sobre 24 a dividir casa, estúdio e refeições no espaço Serra, nos arredores de Leiria. O melhor? “Mais do que ter aprendido sobre processos de gravação, composição e de publicação, em si algo completamente game changer para mim, foi perceber a mentalidade e a rotina por detrás dos músicos, já que apesar de existirem excepções, a disciplina e o trabalho diário são dos factores mais importantes no sucesso”, afirma Miguel Rolo, que interagiu – como os outros elementos do grupo – com os mentores Filipe Rocha (The Legendary Tigerman, Sean Riley & The Slowriders e Cabrita) e Nuno Jerónimo (Few Fingers, Jerónimo e Nuno Rancho).
E o mentor ter sido aluno há 10 ou 20 anos? “Tinha sido útil. Como é que se cria, como é que se estrutura uma canção, são coisas que demorei até aprender. E ali, numa semana, conseguimos abreviar e ir directo ao assunto. Principalmente, os miúdos ganham linguagem para criar”, comenta Nuno Jerónimo, que fala de “pequenos segredos” e “truques” que são transmitidos durante a residência.
Visitas especiais
Primeiro single cantado em português extraído do projecto Omnilab, “É o que é” roda nas plataformas digitais desde sexta-feira, 16 de Maio, juntamente com a versão para “Twerp”, dos Whales.
Durante a estadia no Serra, Afonso, Francisco, Martim, Miguel e Simão receberam convidados que lhes expuseram conhecimento e experiência, em ambiente informal, entre eles o músico Cabrita e a cantora Selma Uamusse. “Há coisas que vão ficar mais vívidas na memória, como ter o privilégio de ver e ouvir o Pisco [Filipe Rocha] e o Cabrita a tocarem o “49th Birthday Blues”. Foi uma intensidade brutal”, conta Miguel Rolo. Entre outros, Fernando Ribeiro (Moonspell), David Santos (Noiserv), Débora Umbelino (Surma) e Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) colaboraram em edições anteriores.
Para outros concelhos
Desde 2023, participaram três dezenas de jovens entre os 14 e os 21 anos, incluindo Leonardo Pinto, que, já este mês, esteve, com o esforço a solo Thispage, na mais recente final do festival Termómetro.
Em 2025, estão previstas mais duas edições do Omnilab. “Vamos continuar a ter Omnilab com esta faixa etária, mas gostávamos de aplicar tudo aquilo para outras faixas etárias”, adianta Hugo Ferreira. “Este ano vamos já ter um Omnilab com pessoal de outro município”.
Graças ao Omnilab, há “visibilidade maior” para novos projectos, acredita Hugo Ferreira. “E temos a certeza que muitos ainda vão dar que falar”.