Venderam-se mais bilhetes, mas o negócio continua muito abaixo do valor gerado no tempo anterior à Covid-19. O total no distrito de Leiria subiu 55% em 2021 face a 2020, um aumento acima da média nacional (44%), mas que ainda representa, apenas, pouco mais de um terço dos espectadores no último ano sem pandemia, segundo dados comunicados ao Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA).
Na informação sobre 2021 no distrito de Leiria só há registo de exibição comercial de cinema em Alcobaça, Caldas da Rainha, Leiria e Pedrógão Grande, enquanto Alvaiázere, Ansião, Batalha, Bombarral, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Marinha Grande, Óbidos, Nazaré, Peniche, Pombal e Porto de Mós integram o conjunto de concelhos sem sessões reportadas ao ICA, embora, por exemplo, o Cine-Teatro da Nazaré, gerido pela câmara municipal, tenha apresentado diversos filmes.
Para o cineasta Rafael Almeida, que cresceu em Figueiró dos Vinhos a viver noites de fim-de-semana diante da tela maior, “a falta de apoios” torna difícil a manutenção da oferta fora dos principais centros urbanos, uma circunstância que vê “com alguma desilusão”, porque “a maior parte dos filmes, ainda hoje, são feitos para serem vistos em sala”.
O realizador salienta que “a partilha e a discussão são essenciais” para os fãs da sétima arte e lembra que a “experiência individual e colectiva” que o cinema proporciona assume “um papel social” nos concelhos periféricos, onde existe interesse e procura, garante, suportado na organização de várias edições locais do festival Shortcutz.
Com a actividade condicionada por confinamentos e outras restrições, em 2021 as salas de cinema no distrito de Leiria atraíram 155.672 espectadores, mais 55.139 do que no primeiro ano da pandemia (2020) mas menos 283.788 do que em 2019, uma trajectória que está em linha com o que aconteceu no sector a nível nacional.
Os dados por município só estão actualizados até 13 de Dezembro e indicam que Leiria somou 97.181 espectadores em 2021, mais 28% do que em todo o ano anterior e menos 69% do que em 2019. Com cinco recintos que acolheram exibição de cinema, só fica atrás de Lisboa (13), Porto (8) e Braga (6).
O Cineplace do Leiria Shopping atingiu 56.379 espectadores, mais do que o Cinema City Leiria (38.592), o Teatro Miguel Franco (1.566), o Teatro José Lúcio da Silva (599) e o Cine-Teatro de Monte Real (45).
Já em Dezembro, o edifício que alberga o Cinema City Leiria, que era propriedade do Millennium BCP, foi vendido a um investidor chinês, que, além de manter o cinema, pretende dotar o imóvel de novas valências.
Ainda em 2021 e até 13 de Dezembro, outros 36.098 espectadores encontram-se no concelho de Caldas da Rainha, distribuídos pelo Cineplace do shopping La Vie (35.928) e pelas sessões organizadas pela associação CulturCaldas no CCC – Centro Cultura e de Congressos (170 espectadores). Alcobaça totalizou 1.260 espectadores, no Cine-Teatro João d’Oliva Monteiro. Já Pedrógão Grande reuniu 772, na Casa Municipal da Cultura.
Contas feitas, a média de espectadores no distrito e no concelho de Leiria é de 12 por sessão, abaixo da média nacional (16).
Na região, só enviaram dados ao ICA os exibidores associados ao Cine-Teatro de Alcobaça João d’Oliva Monteiro, Cineplace La Vie em Caldas da Rainha, Centro Cultura e de Congressos de Caldas da Rainha, Teatro José Lúcio da Silva, Teatro Miguel Franco, Cinema City Leiria, Cineplace Leiria Shopping, Cine-Teatro de Monte Real e Casa Municipal da Cultura de Pedrógão Grande, que perfazem 25 ecrãs e 4.666 lugares.
Em Portugal, segundo o ICA, as receitas de bilheteira ascenderam em 2021 a 30,6 milhões de euros, valor que compara com 20,6 milhões em 2020 e com 83,2 milhões em 2019.
No distrito de Leiria, as receitas de bilheteira evoluíram de 549 mil euros em 2020 para 864 mil em 2021, ainda muito aquém dos 2,3 milhões de euros obtidos em 2019.
Com o streaming a conquistar audiências e empresas como a Netflix a disputarem o mercado com os tradicionais estúdios de Hollywood, os números da bilheteira vão voltar ao que eram antes da pandemia, acredita Rui Pereira, director e programador do Shortcutz Leiria, porque “a partir do momento em que começam a existir outros meios, outras tecnologias, muda o cinema enquanto linguagem” e surgem diferentes estratégias para que o público continue a ir às salas.
Um exemplo: o modo como os argumentos de acção e aventura “estão a incorporar na narrativa muito mais questões políticas e dimensões psicológicas”, que “são muito atractivas para o espectador”. Em 2021, heróis e vilões tornaram a dominar o box office em Portugal e em Leiria, com 007: Sem Tempo Para Morrer, Homem-Aranha: Sem Volta a Casa, Velocidade Furiosa 9, Dune e Venon: Tempo de Carnifina no topo dos filmes mais vistos.