A escassez de chips e de outros componentes reduziu a oferta de automóveis, causando impactos de diversos tipos no mercado nacional.
Por um lado, as marcas tendem a alocar mais veículos nos países onde têm maiores margens de lucro. Por outro, os clientes, face à escassez da oferta, estão na disposição de pagar mais se o prazo de entrega for mais curto.
Paulo Carvalho, director comercial na rede de concessionários M Coutinho, explica que o mercado automóvel português é “muito agressivo”, na medida em habitualmente se esmagam margens para se vender a preço mais competitivo.
Sucede que a crise pós-Covid-19 “explodiu para esta situação que é nova para marcas e para o comprador”.
Tendo Portugal um mercado automóvel “agressivo e com menos volume”, as marcas preferem colocar os modelos noutros mercados onde possam ter margens superiores.
Começa a verificar-se que algumas produzem mediante os pedidos, porque lhe é mais difícil trabalhar com stocks, como costumavam fazer. E, mediante a escassez, os clientes estão na disposição de comprar mais caro para ter mais rapidez na entrega, verifica Paulo Carvalho.
Essa urgência verifica-se até pelo comportamento do mercado de usados, expõe. “Há carros usados, com dois ou três anos, cujo preço está alinhado com o de carros novos. Os compradores pagam mais mais 15% ou 20% por um usado do que pagavam há dois anos”, constata o director comercial, justificando que “esta corrida” começou a partir do momento que surgiram notícias de que haveria dificuldade em conseguir carros novos.
Também Carlos Santos, administrador do grupo Lizauto, observa que “já todos os clientes estão preparados para o facto de os preços terem aumentado, devido à escassez da oferta”.
“Mas o prazo de entrega é que nós não podemos garantir. E isso é um drama. Temos atrasos nas entregas, porque a pandemia descompensou o processo de entregas”, expõe o responsável.
“Procuramos desde o primeiro momento explicar quais são as previsões e ir comunicando o desenvolvimento do processo com o cliente”, afirma Carlos Santos.
“Antes, os fabricantes produziam em função das datas de encomendas que iam recebendo. Agora, desconheço quais são os critérios, mas admito que possam estar relacionados com a rentabilidade dos mercados”, entende ainda.
Estratégia
Aposta no eléctrico
Ressalvando que poderá haver em Portugal “gamas mais apetecíveis e outras não”, Nuno Roldão, vice-presidente da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel e administrador do grupo Lubrigaz entende que a gestão da alocação da produção automóvel está a ser feita em função dos recursos. “Uma marca que consegue ter maior margem de uma viatura num mercado tem tendência a alocá-la mais nesse mercado”. E Portugal sai prejudicado por ter “uma fiscalidade automóvel que é violenta e desapropriada”. Se a escassez de componentes reduz a produção e se a fiscalidade obriga as marcas a esmagar margens, elas vão preferir alocar veículos em zonas mais rentáveis, observa. Junta-se a isso a electrificação das viaturas, pelas quais uns mercados têm mais apetência que outros.”É preciso coragem política para apostar nas novas energias, na electrificação, em políticas de descarbonização do parque automóvel em Portugal”, defende.